Etanol: política de preços da Petrobras (PETR4), impostos e aumento da mistura na gasolina; o que impacta o mercado?
O mercado de etanol convive com diversos fatores que afetam os preços dos combustíveis, principalmente com as novas mudanças nos impostos federais e no ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) dos combustíveis.
No último domingo (14), a Petrobras (PETR4) informou através de comunicado que está discutindo internamente alterações em suas políticas de preço para diesel e gasolina.
Para entender o cenário atual de oferta, demanda, preços e perspectivas para o etanol, o Agro Times conversou com Marcelo Di Bonifacio Filho, analista de Inteligência de Mercado pela StoneX.
Açúcar
O analista explica que os preços do açúcar na bolsa de Nova York (ICE Futures) estão no maior patamar desde 2011. Isso porque o mercado internacional convive com um cenário de oferta restrita. Do total cultivado na safra 2023/2024 de cana-de-açúcar do Brasil, 53% é destinado à produção de etanol.
“Havia uma expectativa de que safras do Hemisfério Norte trariam uma maior oferta neste começo de ano, e com esse cenário de preços elevados, a Índia e Tailândia (grandes produtores) elevaram suas produções. Porém, o clima não ajudou. Com isso, as exportações vieram menores e não há nenhum ‘vendedor’ desde fevereiro. O Brasil, que poderia melhorar esse cenário, não contou com um bom mês de abril. A expectativa fica para entrada da safra do Centro-Sul no mercado em maio”, explica.
Paridade do etanol e impostos
Bonifácio explica que a quebra na safra de cana-de-açúcar em 2021 impactou os preços do etanol, que já vinham em elevação após a Petrobras anunciar um aumento para gasolina.
“O etanol tende a seguir a gasolina porque ele é um combustível substituto, principalmente em São Paulo. Se o preço da gasolina sobe, fica muito mais vantajoso para o consumidor abastecer com etanol. Com isso, ocorre um aumento da demanda e do preço do combustível”, diz.
No entanto, o analista ressalta que após o início da guerra na Ucrânia, foi observado um cenário de alta para gasolina, com um reajuste de mais de R$ 0,40, o que fez com que os preços do etanol atingissem um recorde nominal na usina, em R$ 4,70.
“Quando houve a desoneração fiscal no meio do ano passado, o etanol teve uma desvalorização muito forte. Mesmo com a alta do açúcar, a paridade não foi favorável na bomba por causa desse imposto na gasolina, que era muito maior. No somatório, quando você exclui os impostos federais e muda o ICMS, o preço da gasolina cai R$ 1 por litro, um valor expressivo, e as usinas buscando demanda, precisaram diminuir os preços em um cenário de alta no açúcar”, explica.
Por outro lado, Bonifácio pontua que quando os preços sobem muito, as indústrias tendem a voltar o mix para o açúcar, o que diminui a oferta do etanol. Porém, isso não tem ocorrido, em função dos preços baixos. Além disso, o analista diz que para um cenário favorável para o etanol, a paridade com a gasolina precisa ficar abaixo de 70%, o que só tem acontecido em Mato Grosso.
Preços de Etanol e Gasolina nas Bombas – ANP – R$/Litro | Etanol | Gasolina | Etanol/Gasolina |
---|---|---|---|
São Paulo | R$ 4,05 | R$ 5,37 | 75,40% |
Minas Gerais | R$ 4,14 | R$ 5,37 | 77,10% |
Paraná | R$ 4,37 | R$ 5,65 | 77,30% |
Goiás | R$ 4,23 | R$ 5,58 | 75,80% |
Mato Grosso do Sul | R$ 4,14 | R$ 5,22 | 79,30% |
Mato Grosso | R$ 3,81 | R$ 5,54 | 68,80% |
Rio Grande do Sul | R$ 4,89 | R$ 5,37 | 91,10% |
Pernambuco | R$ 4,12 | R$ 5,28 | 78% |
Alagoas | R$ 4,30 | R$ 5,67 | 75,80% |
Paraíba | R$ 3,99 | R$ 5,24 | 76,10% |
Bahia | R$ 4,47 | R$ 5,70 | 78,40% |
As usinas passaram a moer mais cana em maio, o que tem feito os preços caírem e a oferta do etanol crescer. “Os preços do etanol precisam cair, senão não há demanda das distribuidores para o consumidor final. A expectativa do setor fica para a retomada dos impostos para gasolina entre junho e julho, o que favoreceria o etanol que conta com uma carga tributária menor”, conclui.
Aumento da mistura do etanol na gasolina
O ministério de Minas e Energia deve oficializar a criação de um grupo para o estudar o aumento da mistura do etanol na gasolina de 27% para 30%, proposta que será discutida na próxima reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), sem data definida.
Na semana passada, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) defendeu o aumento e disse que o Governo Federal precisa incentivar o consumo de etanol.
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“Com um aumento da mistura, ocorre um maior incentivo ao setor como um todo. As usinas vão direcionar mais cana para o etanol, há um maior incentivo para produção de etanol de milho, que hoje gera cerca de 6 bilhões de litros, com perspectiva de 10 bilhões de litros em 2030. Assim, há expectativa de um forte crescimento. No entanto, o etanol só será incentivado via preços, e isso pode ser feito de duas formas, elevando a oferta dos renováveis ou taxando o combustível fóssil (gasolina)”, explica Bonifácio.
Apesar disso, o analista, que defende a reoneração, ressalta que uma retomada da taxação na gasolina acaba não sendo favorável para o governo, já que isso impacta na inflação. “Isso tende a acontecer, mas ainda é muito prematuro. Esse aumento está em linha com objetivos sustentáveis, mas é preciso compreender que a mudança resulta em uma perda da eficiência energética, já que energeticamente, o etanol é menos eficiente que a gasolina”, conclui.