Etanol avança por milho, açúcar decepciona e o La Niña no horizonte: os primeiros meses da safra 2024/2025
A safra 2024/2025 de açúcar e etanol teve a sua largada no início de abril, a pouco mais de dois meses, e o novo ciclo já apresenta diferenças frente ao ciclo passado.
De acordo com a StoneX, a moagem na safra 2024/2025 deve atingir 602,2 milhões de toneladas. Em 23/24, a moagem ficou em 659,3 milhões de toneladas.
O analista da consultoria, Marcelo Bonifácio, ressalta que o começo do ciclo tem sido misto em termos de resultados.
“Para o período (dois primeiros meses), temos uma moagem acima do ano passado, já que até abril de 2023 ainda estava chovendo. Com abril e maio de 2024 mais seco, tivemos um melhor ritmo de colheita no Centro-Sul, o que pesou sobre os preços do açúcar em NY”, diz.
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Menor açúcar nas usinas decepciona
Apesar da maior produção em relação a 2023, o mix de açúcar das usinas decepcionou alguns analistas, que esperavam uma produção mais elevada.
“Na primeira quinzena de maio, o mix de açúcar das usinas ficou em 48,27% e 51,73% para o etanol, aquém do esperado pelo mercado, que esperava algo em torno de 50% – 51% para o período, sendo esse o principal ponto de atenção neste começo de safra. Com isso, há uma demanda muito forte por etanol no Centro-Sul, com o combustível tendo uma maior liquidez frente ao açúcar para as usinas”, explica o analista.
Por outro lado, Bonifácio que ressalta que muito dos preços para exportação de açúcar já foram fixados, vê espaço para um mix mais elevado de açúcar entre junho e agosto. “Apesar da queda dos valores para o açúcar frente ao ano passado, os preços atuais são bons historicamente. Fora isso, o dólar mais forte fortalece essa exportação”.
De 1 de abril até 11 de junho, os preços do contrato com vencimento para julho recuaram 16,54%, passando de US$ 0,2252 para US$ 0,1879.
Preços do etanol avançam e milho ganha força
Quanto ao etanol, os preços atuais (R$ 2,3062/L), com base no indicador Cepea/Esalq, estão mais elevados frente aos valores vistos no segundo semestre de 2023 (entre R$ 2,159/L e R$ 1,935/L)
“Há um maior equilíbrio sobre oferta e demanda, com o consumo sendo estimulado pelo ciclo-otto acima do esperado, com uma boa produção de anidro e hidratado”.
O grande destaque para o analista fica por conta do crescimento vertiginoso do etanol de milho, que deve ter um incremento de 1,8 bilhões de litros frente o ciclo passado.
“Devemos ter 8 bilhões de litro na safra 24/25, um avanço que se dá pela maior capacidade produtiva, com usinas em Mato Grosso ampliando suas produções. Com isso, apesar do mix não estar tão elevado, o etanol de cana tem perdido espaço para o açúcar”, avalia.
Segundo dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), está mais vantajoso abastecer com etanol frente a gasolina em 9 estados (Acre, Amazonas, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná e São Paulo) e no Distrito Federal. É mais vantajoso abastecer com etanol quando os preços estão 70% abaixo dos da gasolina.
O que preocupa?
Segundo Bonifácio, há uma preocupação para os meses de pico de safra (junho-agosto), com um alerta para produtividade. “As usinas estão colhendo bastante, mas a produtividade vai guiar a moagem, já que houve uma entressafra muito prejudicada em termos de chuva (nov/23 até março/24)”.
Além disso, há uma incerteza quanto ao La Niña. “O fenômeno traz tempo seco, mas não há uma definição tão assertiva quanto a isso. Devemos ter sim um inverno mais rigoroso, o que acende um sinal amarelo pro segundo semestre em termos de geada”, pontua.
Caso o tempo mais seco perdure com o La Niña, surge uma preocupação para a safra 2025/2026. No entanto, isso poderia resultar em um ATR maior, é bom para produção de derivados.
Por fim, o consumo de etanol deve seguir elevado nos meses de colheita, apresentando a estabilidade atual, algo favorável para o consumidor. Entretanto, uma diminuição dos estoques promete impulsionar os preços.
“Viramos a safra com estoques elevados, mas isso não deve acontecer no fim deste ciclo. Devemos ver uma normalização desses estoques por conta de uma demanda elevada e uma produção de etanol de menor. Isto posto, com uma demanda elevada, a gente tem uma tendência de alta nos preços a partir do último trimestre do ano”.