Estudo mostra déficit de água em lavouras brasileiras de até 50%
A agricultura de sequeiro – feita em cultivos que não recebem irrigação – passou por um déficit hídrico médio de 37% entre 2013 e 2017.
É o que revelou o levantamento Uso da Água na Agricultura de Sequeiro no Brasil (2013-2017), produzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pela Agência Nacional de Águas (ANA) e que foi divulgado hoje (14).
O estudo inédito tem informações estratégicas para o planejamento do uso da água e para o aperfeiçoamento de políticas agrícolas.
Todas elas serão incorporadas às contas econômicas ambientais da água (CEA) – um sistema do ministério do Meio Ambiente que permite contabilizar os recursos naturais envolvidos na produção de bens e serviços.
De acordo com o IBGE, este tipo de atividade, que depende totalmente das chuvas e da água armazenada no solo, ocupa mais de 90% da área agrícola do país e poderia ser mais produtiva se não tivesse ocorrido o déficit.
Para o coordenador de Estudos Setoriais da ANA, Thiago Fontenelle, se não fosse o déficit, a agricultura de sequeiro poderia ter um resultado relevante.
“A produção agrícola brasileira poderia aumentar expressivamente com a redução do déficit hídrico em áreas de sequeiro, o que depende não só de chuvas abundantes e bem distribuídas, mas também de manejo adequado do solo e da água nas propriedades rurais”, destacou.
Segunda Safra
Conforme o estudo, as culturas mais atingidas foram a do milho, em geral, plantado em regiões e períodos de maior risco climático; e a cana de açúcar, que sofreu com o clima mais desfavorável que a média histórica, apesar de ser mais resistente ao déficit de água.
O levantamento apontou ainda que o milho e o feijão, culturas de subsistência e, em escala comercial, plantados muitas vezes em períodos de maior risco climático após os plantios de verão como a 2ª safra ou a safrinha, enfrentaram, em média, déficits hídricos superiores a 50%.
O mesmo ocorreu com a cana, que enfrentou condições climáticas adversas nas áreas produtoras entre 2013 e 2017 e teve déficits próximos a 50%.
Com relação a necessidade hídrica, os déficits totais observados para o país durante 2013 a 2017, tiveram destaques as culturas de café, milho, feijão e cana-de-açúcar que apresentam os percentuais superiores a 40%.
Consumo
O levantamento indicou que o consumo de água pela agricultura de sequeiro chega a 8,1 milhões de litros por segundo na média dos cinco anos analisados.
Em comparação, se considerada a agricultura tanto de sequeiro quanto irrigada, o consumo aumenta para cerca de 10 milhões de litros de água por segundo. Desse total, 92,5% provêm das chuvas e do solo e 7,5% como aporte adicional via irrigação captada em mananciais superficiais e subterrâneos.
Na visão do gerente de Agricultura do IBGE, Carlos Alfredo Barreto Guedes, os dados do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) foram fundamentais para os cálculos feitos no estudo, que estima mês a mês os percentuais das áreas plantadas. “A partir de perguntas de controle do LSPA, vislumbramos a possibilidade de criar este estudo”, completou.
Também entre 2013 e 2017, as variações no uso da água foram sutis, havendo impactos regionais tanto das variações das chuvas quanto da própria expansão ou retração da área plantada de algumas culturas.
O Atlas Irrigação, o maior mapa da agricultura irrigada brasileira, produzido pela ANA, foi mais uma publicação que serviu de base para o trabalho.
Segundo Thiago Fontenelle, poucos países têm capacidade de dimensionar o consumo hídrico na agricultura de sequeiro.
O coordenador de Estudos Setoriais da ANA acrescentou que, com esse estudo, o Brasil se coloca na vanguarda mundial na produção desse indicador.
Fontenelle destacou os pontos que considera relevantes no trabalho. Um deles são os insumos que o estudo fornecerá às contas econômicas e ambientais da água; o cálculo do déficit de água para cada município ou região, que vai ajuda a mapear as áreas mais sujeitas aos riscos climáticos e aos períodos mais secos do calendário agrícola, com a possibilidade de orientar a definição de políticas públicas, e também aproximar IBGE e a ANA em projetos futuros.
O IBGE informou que o levantamento teve o apoio da Agência Internacional de Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável (GIZ) e suas conclusões serão úteis para o Plano Nacional de Recursos Hídricos e o Plano Nacional de Irrigação.
O instituto destacou ainda a contribuição para outras diretrizes governamentais e projetos de interesse da sociedade.
O estudo Contas Ambientais da Água: Brasil (2013-2015) foi lançado pelo IBGE, pela ANA e pelo Ministério do Meio Ambiente em março de 2018.
De acordo com o instituto, a partir daí, “foi possível entender com maior clareza a relação entre os recursos hídricos e o valor agregado de cada atividade econômica e como a água desempenha um papel-chave no desenvolvimento econômico do país”.
A nova série Contas Ambientais da Água: Brasil (2013 – 2017) será publicada no início de maio, incluindo a regionalização dos dados em todo o Brasil.