Estudo compara Alkanza, Magnetis, Vérios e Warren e aponta falhas dos robôs
Deu tilt no aconselhamento financeiro? Os serviços automatizados de consultoria de investimentos, conhecidos como robôs advisors, pecam nas etapas de “planejamento”, “execução” e “monitoramento”, mas servem como um bom primeiro passo ao leigo totalmente desinformado em como constituir patrimônio no mercado de capitais.
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Este é o resultado de estudo realizado por Marcelo Guterman, engenheiro pela USP e mestre em finanças pelo Insper, que recebeu um prêmio pelo segundo lugar em concurso da CFA Society sobre o tema. Em entrevista ao Money Times, ele comentou sobre o impacto dessas soluções na evolução do mercado.
“De maneira geral, os robôs advisors falham em ter uma visão holística do investidor, não considerando opções tributariamente mais atraentes, ou não analisando a interação entre vários objetivos conflitantes. Também a avaliação de performance é um ponto fraco, pois é, na melhor das hipóteses, apenas informativa, o que é inerente ao atual estágio de desenvolvimento desses algoritmos”, avalia Guterman, abordando também o status tecnológico atual dos robôs.
O substituto do consultor de carne e osso é totalmente digital, sem interação pessoal e oferece uma carteira de investimentos conforme o perfil extraído de um questionário fraco, por exemplo, no quesito compreensão de riscos, aponta a análise. Assim, o algoritmo realiza a alocação de ativos, concentrada em opções negociadas via plataformas eletrônicas, como ações e ETFs.
O estudo comparou os serviços de Alkanza, Magnetis, Vérios e Warren, os robôs mais populares hoje no Brasil. Usou como “modelo” de investidor um perfil de idade de 45 anos, com objetivo de aposentadoria, montante atual de R$ 500 mil e horizonte de investimento de 20 anos. De zero a 3, sendo 3 equivalente a um “human advisor”, as notas obtidas foram: Alkanza (1,84), Warren (1,76), Magnetis (1,66) e Vérios (1,09).
“O robô da Vérios foi penalizado por implementar a fase de Planejamento de maneira muito pobre, talvez com a intenção de simplificar o processo para o investidor”, segundo a monografia de Guterman. Ponderações sobre Execução e Monitoramento também integram a metodologia da análise.
“O grande risco de basear uma decisão de investimento em um aconselhamento falho é ter a ilusão de que se está fazendo a coisa certa, quando, na verdade, faltaria muito para se chegar a uma decisão de investimento informada”, observa Guterman. Ou seja, no caso do marinheiro de primeira viagem que desconhece um planejamento de investimentos, a carteira do robô advisor pode ser encarada como o mapa pronto a solucionar todos os problemas.
Leia, a seguir, os principais trechos da conversa de Guterman com o Money Times:
O estudo usa o termo ‘pioneiro’ para retratar o cliente da primeira onda dos robôs. Geralmente, jovens abaixo de 35 anos, mais familiarizados com smartphones. Em paralelo, os dados da B3 mostram presença maior de investidor pessoa física na faixa etária de 40 a 60 anos. Neste contexto, qual é o potencial do robô advisor no Brasil?
Este é um dos grandes desafios dessa indústria, ao lado da questão técnica. Justamente a viabilidade financeira, dado que, em tese, os que teriam maior interesse nesse tipo de serviço não têm tanto dinheiro. É uma equação difícil de fechar. Eu imagino que esses serviços terão de investir bastante no crescimento, buscando fidelizar esses clientes que vão envelhecer, vão ganhar dinheiro no futuro e vão continuar usando esses serviços.
As soluções hoje disponíveis precisam evoluir bastante para acomodar os interesses do investidor?
Eu diria que é um bom primeiro passo. Para quem não tem nada é alguma coisa. Melhor do que simplesmente ver coisas em jornais, blogs e tentar fazer por si próprio. Mas é muito pobre. É algo que precisa se desenvolver ao longo do tempo. E eu acho que vai se desenvolver. Os serviços estão na infância. O futuro certamente estará em desenvolvimentos interessantes integrando inteligência artificial. Por ora, é o que temos, não dá para ter muita ilusão.
O principal problema do robô advisor hoje reside no questionário?
É não conseguir olhar o portfólio como um todo. Os questionários, via de regra, são pobres. Perguntam sobre um determinado montante de recurso, mas não olham para o investidor como um todo, abordando todo o portfólio e todas as necessidades. Passa ao largo de questões tributárias que são importantíssimas. Eu diria que são fraquezas até estruturais porque é bem difícil conseguir automatizar isso. Não é um problema dos nossos robôs advisors. É um problema do atual estágio desta indústria que está muito na infância ainda.
Do ponto de vista estrutural, de tecnologia, o estudo menciona a questão de que, para tornar tudo automatizado, as sugestões envolvem uma gama menor de ativos, focando em ETFs, por exemplo.
Isso também acontece lá fora. Porém no exterior há uma gama maior desses produtos que são integráveis, então diminui o problema, embora não elimine. Aqui no Brasil fica pobre. A alocação perde muito, você precisa automatizar e não tem muita opção. É um problema.
Já no aspecto do investidor brasileiro, como enxerga essas soluções contribuindo para a evolução natural do investidor?
Os robôs têm o mérito de fomentar a diversificação de investimentos por ter perfis de portfólio, teoricamente, adequados a cada tipo de investidor. O investidor consegue assumir um pouco mais de risco, sem correr o risco de se encantar com determinado investimento, investir tudo naquilo porque ficou cego pela ganância e acabar se prejudicando. Essa é uma vantagem, dentro das suas limitações.
Obviamente, se fosse um advisor de carne e osso, ele seria mais eficiente nesse aspecto. Mas dentro do possível, dado o custo baixo desse tipo de assessoria automatizada, ele faz bem esse papel de permitir uma diversificação.
Gostaria que você elaborasse mais o trecho: ‘Esse é o grande risco em países como o Brasil, onde a cultura do financial advisor ainda é incipiente: ao supostamente oferecer uma solução de baixo custo para o problema da seleção de investimentos, os robo-advisors podem, eventualmente, matar no nascedouro esta indústria’.
Esse é um problema teórico que levantei, não sei exatamente o que vai acontecer. Obviamente, o robô não substitui o ser humano, e está longe disso. O problema é que o ser humano é caro. É pouco acessível, principalmente em um país como o Brasil de renda per capita baixa. A indústria de financial advisor é bem desenvolvida nos Estados Unidos, e o robô vem ocupar um espaço que pode ter alguma interseção, mas dificilmente vai substitui-la.
Aqui no Brasil, eventualmente, como a indústria dos seres humanos é praticamente inexistente, eu coloquei essa hipótese. É difícil fazer essa previsão. Se eu fosse desenvolver mais a tese, entendo que depende do mercado. A indústria precisa de mais pessoas com mais recursos para investir e, consequentemente, pagar o financial advisor. Isso independe de existir o robô.