Estratégia de sauditas aposta em fim de reinado do gás de xisto
A Arábia Saudita acaba de fazer uma grande aposta de que os dias de glória do gás de xisto dos Estados Unidos, que transformaram o mapa energético global na última década, nunca mais voltarão.
Ao manter um controle rígido sobre a oferta na reunião de quinta-feira da aliança Opep+ de produtores de petróleo, o príncipe Abdulaziz bin Salman, ministro de Energia da Arábia Saudita, mostrou que está focado em elevar os preços – e confiante de que, desta vez, isso não incentivará produtores dos EUA a retomar a expansão e roubar participação de mercado.
A percepção vem carregada de uma boa dose de tensão diplomática: a Rússia, o parceiro mais importante da Arábia Saudita na Opep+, tentou convencer o governo de Riade por vários meses a aumentar a produção, temendo que a valorização dos preços do petróleo despertasse os produtores de gás de xisto. Mas os sauditas estão confiantes de que o setor nos EUA se reformou.
Se o príncipe estiver certo, a Opep+ será capaz de elevar os preços agora e recuperar a participação de mercado mais tarde, sem se preocupar com a saturação do mercado pelos rivais do Texas, Oklahoma e Dakota do Norte. Mas se o governo de Riade calculou mal – e já errou sobre o gás de xisto antes -, o perigo será a redução dos preços e da produção no longo prazo.
Os sauditas até agora convenceram os aliados de que a estratégia funcionará. Depois de uma rápida reunião virtual na quinta-feira, a Opep+ concordou em prolongar os cortes da produção, desafiando as expectativas de um aumento. A Rússia, no entanto, garantiu isenção para si mesma e para o Cazaquistão, e aumentará a produção marginalmente em abril.
Após a decisão, vários bancos atualizaram as previsões para os preços do petróleo: o Goldman Sachs aumentou as estimativas em US$ 5 – para US$ 75 no próximo trimestre e US$ 80 nos três meses seguintes.
“Esta é uma medida incrivelmente ousada por parte da Opep+ para estender o rali do preço do petróleo”, disse Regina Mayor, líder do setor de energia da KPMG Global.
Se a história servir de guia, entretanto, podem surgir problemas. A coalizão Opep+, que reúne Arábia Saudita, Rússia e quase duas dezenas de outros produtores de petróleo, subestimou no passado seus rivais americanos, que ano após ano produziram mais do que a maioria esperava.
De uma mínima de menos de 7 milhões de barris por dia em 2007, a produção total de petróleo dos EUA mais do que dobrou para um recorde de quase 18 milhões de barris por dia no início de 2020, obrigando o cartel a ceder participação de mercado.