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Estoques, cautela, controle de inflação… A China dá mostras que não será mais da mesma

21 jan 2022, 15:22 - atualizado em 23 jan 2022, 10:13
Soja, Paranagua
Graneleiros com soja brasileira podem ter maior fluxo nos portos, com destino à China depois de fevereiro, mas nada acima da média de 2021 (Imagem: Reuters/Rodolfo Buhrer)

Não há dúvida para ninguém que as importações chinesas do Brasil de soja e carne bovina, em 2021, foram menores porque o país estava mais confortável em estoques. E mesmo as aquisições neste mês de janeiro ainda são consideradas lentas, embora melhores.

As apostas para 2022 seguem depositadas sobre as compras do país, já que ninguém sonha que o Brasil o perderá como seu principal cliente, talvez nem nunca aconteça, mas não apresenta mais o perfil explosivo e o chavão que sempre se ouvia do mercado, desde o meio do ano passado, não se conclui.

Se mais dia, menos dia, a segunda maior economia teria que comprar forte para repor seus armazéns, ninguém viu. Não foi coincidência, também, que Pequim passou a adotar medidas contra importações para controle de inflação.

Fica bem evidenciado que a China passou da voracidade para a cautela e as costumeiras aceleradas nas importações, de setembro em diante para formação de seus estoques volumosos, para depois voltarem somente depois do feriadão de 10 dias do Ano Novo Lunar, não aconteceram.

Mesmo que se tome a paralisação das compras de carne bovina do começo de setembro a meio de dezembro, depois dos casos de vaca louca, como exemplo na perda de 1,182 milhões (2020) de toneladas para 950 mil/t no ano, também é resultado dessa mudança de comportamento.

O embargo só foi mantido por 3,5 meses porque o principal comprador da proteína bovina brasileira estava confortável, caso contrário teria aceito oficialmente o diagnóstico, assim que saiu, de que a doença era inofensiva em humanos.

Tem havido uma média diária maior de exportações, pelo menos até o fim da segunda semana de janeiro, que somou 72 mil toneladas contra os 20 úteis de janeiro 21. Ainda a Secex não desagregou por países, mas mesmo sendo a China a puxar o bonde, pouco se sabe da quantidade de carne de contrato novo e da quantidade de produto de negócios fechados (com 40% de entrada) antes da paralisação de setembro.

Houve uma melhora da oferta interna de carne suína, porém longe das necessidades do consumo tradicional.

Soja

Com a soja, os 4% a menos de aquisições em 2021 – a menor margem desde 2018 -, com perto de 60 milhões de toneladas, também foi fruto de um suprimento mais folgado dos inventários da China, embora com altas nas médias de novembro e dezembro.

Tem havido uma elasticidade maior nas duas primeiras semanas do mês nos embarques brasileiros, inclusive puxando as previsões totais para todos os mercados de destinos a 4,3 milhões/t até dia 31, pouco acima do previsto anteriormente pela Anec (Associação dos Exportadores de Cereais).

Embora Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, também repute o recuo em 2021 como resultado do gargalo logístico em geral nos portos chineses, sobra ainda dos atrasos de embarques e desembarques que vieram com a pandemia, se admite que dificilmente o gigante da Ásia saia acima da margem de compra de 60 milhões/t também neste ano.

“Eles já compraram antecipadamente uns 40 milhões/t do Brasil e devem, agora, administrar o resto com cautela, principalmente depois de fevereiro com a entrada mais forte da safra brasileira”, diz,

Embora otimista com a demanda interna chinesa com o crescimento do consumo nas granjas, a estratégia chinesa é de não trabalhar sob riscos.

E com estoques dos Estados Unidos mais cheios – as importações da oleaginosa de lá foram mais lentas igualmente -, entra também o cenário de prejuízos na América do Sul neste ciclo comercial 21/22. Há um potencial de quebra de até 40 milhões/t entre Paraguai, Argentina e Brasil, e de até 20 milhões/t entre Paraná e Rio Grande do Sul.

Com a opção para o grão americano ainda na mesa e a quebra brasileira e dos vizinhos, isso deve deixar os importadores asiáticos mais ariscos, esperando alguma acomodação dos preços a partir de março, inclusive, acredita Marlos Correa, da InSoy Commodities.

Para o trader da empresa de Cascavel (PR), inclusive, as decisões de suprir no Brasil o resto que falta para bater no mesmo patamar de 2021, serão baseadas igualmente nas notícias que começarão a chegar da intenção de plantio da soja nos Estados Unidos.