Estoque de crédito no Brasil cresce 14% em 2022 mesmo com maior juro bancário em seis anos
O estoque de crédito no Brasil cresceu 14% em 2022 na comparação com o ano anterior, mesmo diante da continuidade no processo de alta nas taxas de juros cobradas pelos bancos, em novo salto que foi acompanhado por uma alta da inadimplência e dos spreads bancários, divulgou o Banco Central nesta sexta-feira.
O movimento levou o saldo total de crédito no país a fechar 2022 em 5,326 trilhões de reais, correspondente a 54,2% do Produto Interno Bruto (PIB) –no fim do ano anterior estava em 52,5% do PIB.
A aceleração no mercado de crédito em 2022, embora intensa, foi ligeiramente mais fraca do que a observada e, 2021, quando o estoque total cresceu 16,5% em 12 meses.
No recorte por tomador dos empréstimos, o crédito para pessoas físicas cresceu 17,4% em 2022 após uma alta de 21% no ano anterior.
No caso das empresas, a elevação foi de 9,3%, contra alta de 10,5% em 2021.
A taxa média de juros cobrada pelas instituições financeiras, que vem acompanhando o aperto monetário promovido pelo Banco Central para controlar a inflação, encerrou 2022 em 42,0% ao ano –no fim de 2021, estava em 33,8% ao ano.
O nível é o mais alto desde 2016, quando o país passou por grave crise econômica, com a taxa média encerrando o ano em 51%.
Os dados referem-se ao segmento de recursos livres, em que o custo dos financiamentos é livremente estabelecido pelas instituições financeiras, sem interferência do governo.
A taxa média de juros total, incorporando os recursos direcionados, que atendem a parâmetros estabelecidos pelo governo, fechou 2022 em 29,9% ao ano, também no maior nível para dezembro desde o fechamento de 2016.
A taxa Selic, que iniciou o 2022 em 9,25% ao ano, foi elevada pelo Banco Central ao longo dos meses e encerrou o ano em 13,75%.
Nas últimas reuniões, a autarquia optou por manter a taxa básica de juros nesse nível.
Com a elevação dos juros cobrados pelas instituições financeiras, o nível de inadimplência apresentou elevação no ano passado, encerrando dezembro em 4,2% nos recursos livres, uma alta de 1,1 ponto percentual no ano.
Em 2022, também houve crescimento no spread bancário, a diferença entre o custo de captação de recursos pelas instituições financeiras e o que elas cobram dos clientes na concessão do crédito.
O patamar do spread nas operações com recursos livres ficou em 29,0 pontos percentuais em dezembro, contra 23,6 pontos no mesmo mês de 2021.
Apesar das elevações no ano, a taxa média de juros e o nível de spread tiveram redução pontual no mês de dezembro.
O chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha, ponderou que ainda não é possível afirmar se esse movimento representa o fim da trajetória de alta.
Pessoas Físicas
Em relação ao crédito oferecido a pessoas físicas, o BC afirmou que o destaque na subida dos juros médios em 2022 foi para o rotativo do cartão de crédito, que ficou em 409,3% ao ano em dezembro, uma alta de 61,9 pontos percentuais em 12 meses.
O patamar é o mais elevado desde agosto de 2017, quando o custo ficou em 428% ao ano.
A taxa do parcelado do cartão de crédito, por sua vez, subiu 14 pontos percentuais em 2022, a 182,4% ao ano.
Foi registrada ainda uma elevação de 4 pontos percentuais na tarifa média do cheque especial, que fechou 2022 em 131,9% ao ano.
O crédito pessoal não consignado, por outro lado, teve redução dos juros médios.
A taxa caiu 3,3 pontos percentuais em 12 meses, a 82% ao ano em dezembro.
O ano de 2022 também teve um movimento atípico, com alta de 53% nas concessões de crédito consignado para pessoas físicas, impulsionado por uma disparada nas concessões no mês de outubro com a liberação de empréstimos a beneficiários do Auxílio Brasil pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Naquele mês, as liberações somaram 9,5 bilhões de reais, contra valores próximos a 1,5 bilhão de reais em meses anteriores.
O BC vem avaliando que o aperto monetário tem refletido como esperado no mercado de crédito, com uma mudança no mix das concessões.
A autarquia tembém tem alertado para uma persistência de elevado apetite ao risco das instituições financeiras, com ritmo alto de crescimento em modalidades mais arriscadas.
Para 2023, o Banco Central prevê que o crédito seguirá em expansão, mas em ritmo mais lento, com uma alta de 8,3% no ano, conforme projeção feita pela autarquia em dezembro.
(Atualizada às 12:51)