Money Times Entrevista

Este banco reportou maior lucro da história, mas crescimento não para por aí, vê diretor

18 ago 2024, 16:00 - atualizado em 16 ago 2024, 17:39
Ricardo Moura, diretor de Relações com Investidores, M&A Proprietário e Estratégia do ABC Brasil.
Sobre o cenário macro, Moura diz que o banco foi obrigado a revisar o crescimento de pequenas empresas devido à expectativa de juros mais alto por mais tempo  (Imagem: Divulgação)

Fora dos holofotes dos bancões, como Itaú (ITUB4) e BTG (BPAC11), o ABC (ABCB4) bate recordes de lucratividade.

No segundo trimestre, o banco lucrou R$ 250 milhões, alta de 24% ante o mesmo período do ano passado. Já a receita com serviços encerrou o período em R$ 122 milhões, elevação de 19%.

“Hoje, estamos crescendo já em dois dígitos e temos uma expectativa de continuar esse crescimento no segundo semestre”, destacou o diretor de RI do ABC, Ricardo Moura, ao Money Times.

O banco, que possui 35 anos de história e atua principalmente no segmento pequenas e médias empresas, viu o seu ROE (retorno sobre o patrimônio) chegar a 16% — expansão de 107 pontos-base no período.

Sobre o cenário macro, Moura diz que o banco foi obrigado a revisar o crescimento de pequenas empresas devido à expectativa de juros mais alto — o Banco Central interrompeu a queda da Selic em junho.

“No início do ano, tínhamos expectativa de crescer entre 15% e 25%, e agora revisamos essa expectativa, em linha com o crescimento da carteira total, com crescimento de 10% a 15%”, destaca.

Por outro lado, o ABC também espera diminuir as despesas, que também foram revisadas de crescimento de 9% a 14% para  7% a 12%. 

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Analistas elogiam resultados, mas ação reage pouco

Entre analistas, o ABC ganhou elogios. Segundo o BB Investimentos, os números, positivos, foram favorecidos, principalmente, pela expansão das receitas de crédito e de serviços, que mais do que compensaram a elevação do custo do crédito, enquanto os custos se mantiveram controlados.

Entre os destaques, a carteira de crédito expandida mostrou novo ímpeto, com o principal destaque o segmento C&IB (corporate & investment banking), que engloba empresas com faturamento anual acima de R$ 4 bilhões.

O segmento middle (pequenas empresas) também não desapontou, com elevação de 10,3% no período.

“Um tanto aquém do imaginado, mas em bom ritmo dado o contexto mais desafiador”, destaca o analista Rafael Reis.

As receitas de serviços também foram destaque, em um trimestre em que o segmento banco de investimentos permaneceu aquecido.

O destaque negativo ficou por conta das despesas, que mostraram piora. Apesar disso, uma nova rodada de investimentos imposta pelo ABC, incluindo expansão do quadro funcional, variaram menos do que as receitas, o que gerou o melhor índice de eficiência desde 2021 (36,9%).

Já a inadimplência voltou a acelerar, ainda que de forma marginal, de 2,9% a 3%, com pressão principalmente do segmento corporate.

Mas de forma geral, o BB vê oportunidade no papel, com preço-alvo de R$ 27,8, potencial de alta de 24%.

“Vemos o banco com um ímpeto aparentemente revigorado, uma nova estratégia corporativa anunciada, e mostrando capacidade de aceleração de receitas e rentabilidade”, coloca.

No ano, a ação do ABC acumula queda de 1,53%.

Veja os principais pontos da entrevista com Ricardo Moura

Destaques do primeiro trimestre

Ricardo Moura: Um bom trimestre, nós tivemos um lucro líquido de R$ 250 milhões, um lucro forte, que é o maior que já tivemos no bottom line (linha final), com um retorno de 16,1%. Mas acho que além do lucro em si, a qualidade foi ótima.

Houve um crescimento bastante importante da receita com clientes. Veio forte, tanto nos produtos com spread, produtos de margem financeira, quanto nos produtos de receita com serviços.

A receita com clientes cresceu 23%. Isso ajudou a aumentarmos a margem financeira, que chegou a 4,5% no trimestre, que é um índice, dado o nosso histórico, bastante saudável, aliado com um forte controle de despesas, que cresceu 8,9%.

Demos um guidance para o mercado de crescer esse número de 9% a 12%, um pouquinho abaixo do piso dessa faixa.

O índice de eficiência (que mede toda a despesa dividido pela receita; quanto menor, melhor) melhorou e fechou no trimestre em 36,9%, dentro também do guidance inicial de 36% a 38%.

E isso nos fez também revisar o guidance de despesas. Ele estava em 9% a 14% e nós revisamos para 7% a 12%.

Diversificação de receitas

Ricardo Moura: Ao longo dos últimos anos, tentamos desenvolver e reforçar novas linhas de negócio, de forma que nunca terá todo o trimestre todas as linhas indo extremamente bem.

Muito provavelmente terá trimestres bons, mas terá outro trimestre que aquela determinada linha de negócio não foi tão bem.

No momento em que diversifica essa operação com mais linhas de negócio, reduz a dependência a uma ou outra linha específica. O seu resultado fica mais estável e resiliente ao longo do tempo.

Tivemos um bom trimestre em banco de investimento, um ótimo número em corretagem de seguros e recuperação da carteira.

Sazonalidade

Ricardo Moura: No início do ano, é um semestre mais suave e o segundo semestre tende a ser mais forte, até pela dinâmica do crescimento econômico no próprio ano.

Não está sendo diferente. Tivemos um primeiro trimestre mais suave e no segundo trimestre já começa a ter uma recuperação no crescimento dos ativos e da carteira de crédito.

A carteira expandida cresceu ano contra ano 11,4%, sendo que o maior motor de crescimento neste trimestre veio do crescimento da carteira das empresas maiores, que a chamamos do CIB, do Corporate Investment Bank, que cresceu 16,3%. O segmento corporate cresceu 9% e o segmento middle 9,8%.

Não são crescimentos ruins, mas o maior motor de crescimento veio do CIB, de forma que a carteira total cresceu 11,4%.

O nosso guidance para o ano da carteira expandida é entre 10% a 15%. Então estamos dentro.

Impacto do macro

Ricardo Moura: Se compararmos o que tínhamos de expectativa no início do ano para o que temos de expectativa, a grande mudança foi taxa de juros mais alta por mais tempo.

O mercado trabalhava com uma queda ao longo de 2024. Essa queda veio no primeiro semestre, agora estamos com 10,5% e existe uma expectativa, um consenso, que esses 10,5% devem ficar por um tempo maior.

Qual que é a implicação para o nosso negócio? Principalmente para as empresas menores, o serviço da dívida dessas empresas é maior. Pesa mais para as companhias e vai fatalmente influenciar na demanda por crédito.

Lembrando que essas empresas não captam a taxa de juros básica, captam a taxa de juros mais do spread, e isso faz com que seja um peso maior.

No início do ano, tínhamos expectativa de crescer entre 15% e 25%. Agora, revisamos essa expectativa de crescimento para 10% a 15%.

Dividendos

Ricardo Moura: Priorizamos a distribuição dos proventos para os acionistas na forma dos juros sobre capital próprio. E nós temos como política, historicamente, pago o limite que a legislação permite em termos do JCP, que é pegar o PL e multiplicar pela taxa de juros de longo prazo.

Historicamente, isso dá uma distribuição próxima a 40% dos lucros. De R$ 100,00 de lucro, distribuímos 40% na forma de juros sobre capital próprio.

Não imaginamos alterar essa política.

A frequência de distribuição dos proventos é feita duas vezes por ano. Em julho, houve a distribuição dos dividendos relativos ao primeiro semestre de 2024.

O que nós, de tempos em tempos, fazemos também, quando necessário, é o acionista controlador recapitalizando esses juros sobre capital próprio no banco.

Ele recebe, mas decide re-injetar para aumentar o capital e o patrimônio líquido, para sustentar o crescimento do capital e, por consequência, da capacidade de reter ativos.

Nesse primeiro semestre, isso não foi feito, porque o banco está com uma base relativamente folgada de capital.

Tem capital, digamos, suficiente para sustentar as operações atuais e mais a expectativa de crescimento dos próximos seis meses.