Economia

Estatais são maiores ganhos em janeiro com agenda liberal de novos governos

31 jan 2019, 20:25 - atualizado em 31 jan 2019, 20:25

Por Investing.com – O início do governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) trouxe otimismo aos investidores locais, colocando o Ibovespa em bullish em janeiro, somente com 6 papéis encerrando no vermelho. A bolsa paulista teve uma valorização de 10,8% no mês, com apenas 6 sessões encerradas no negativo.

A expectativa positiva no Brasil se sobrepõe ao crescente clima de incertezas no exterior com desaceleração da economia chinesa, a guerra comercial entre EUA e China e o conturbado processo de saída do Reino Unido da União Europeia. A maior contribuição do exterior foi o tom dovish do Fed em relação à continuação do aperto de sua política monetária.

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O ânimo dos investidores com o novo governo está na promessa de implementação de uma agenda liberal com a realização de reformas, equilíbrio das contas públicas e privatizações, enfatizada pelo ministro da Economia Paulo Guedes em seu discurso de posse e reforçada em entrevistas no Fórum Econômico Mundial, em Davos, realizada entre os dias 21 e 24.

Guedes afirmou que a reforma da Previdência que o governo pretende encaminhar ao Congresso deve gerar uma economia de até R$ 1,3 trilhão em 10 anos. Além disso, a probabilidade de aprovação da mudança das regras da aposentadoria aumentou após o apoio do PSL, partido presidente e segunda maior bancada de parlamentares, declarar apoio à reeleição de Rodrigo à presidência da Câmara dos Deputados.

A capacidade de articulação do governo com o Congresso continua, entretanto, incerta, especialmente no Senado, com o favoritismo de Renan Calheiros (MDB-AL) de ocupar novamente a presidência da Casa – mesmo com o senador alagoano buscando aproximação com o governo. A suspeitas movimentações bancárias e a contratação de assessores com suspeitas de ligação com milícias do Rio de Janeiro por Flávio Bolsonaro, filho do presidente, não ofuscaram a expectativa de mudança econômica com o novo governo.

O efeito mais imediato foi na valorização dos papéis das estatais, auxiliado pelos planos de governos estaduais de capitalizarem ou privatizarem companhias de serviço público sob seu controle. Entre as 6 ações com maiores ganhos do Índice Ibovespa (constituída por 65 papéis), 4 são ações de estatais ou de empresa que pode ser beneficiada pela desestatização.

Estatais disparam com privatização

Os dois papéis da Eletrobras são as maiores altas do Índice Ibovespa. Os papéis ordinários (ELET3) saltaram 54,35% a R$ 37,40, enquanto as ações preferenciais (ELET6) tiveram uma valorização de 44,48% a R$ 40,70. A continuação de Wilson Ferreira Jr. como CEO e o apoio recebido do novo ministro de Minas e Energia – Almirante Bento Albuquerque – catapultaram a estatal elétrica. Em evento no Credit Suisse nesta semana, o executivo afirmou que a capitalização da Eletrobras pode levantar até R$ 12 bilhões, com redução da participação do governo para 49% do controle acionário.

Em seguida, a Sabesp (SBSP3) foi a ação com maiores ganhos, com uma valorização de 37,68% a R$ 43,37. A promessa do governador de São Paulo João Dória Jr. de privatizar ou capitalizar a estatal de abastecimento de água impulsionaram os ganhos. O secretário de Fazenda do Estado, Henrique Meirelles, disse que não houve definição do modelo de desestatização da companhia. Caso a escolha seja a capitalização, estima-se que seja levantado até R$ 10 bilhões para cobrir o déficit das contas públicas.

A agenda pró-mercado de Dória contribuiu para a subida de 34,31% a R$ 14,88 do papéis da CCR (CCRO3), em meio à promessa de renovação das concessões de rodovias paulistas, que se encerram no mandato do atual governador. A CCR opera as movimentadas rodovias Anhangüera e Bandeirantes, que ligam a capital ao interior paulista. A Ecorodovias (ECOR3) também se beneficia com a medida. Os papéis da controladora das rodovias Anchieta e Imigrantes, que ligam a capital ao litoral sul de São Paulo, se valorizaram no mês 21,43% a R$ 11,39.

O mês pode ter marcado o início da recuperação da Cielo (CIEL3), que perdeu quase 60% em 2018. A adquirente saltou 34,31%, a R$ 11,94 em janeiro, mesmo com um balanço com lucro reduzido ano passado e projeção de continuação da queda neste ano. Os investidores se animaram com a companhia com a nova estratégia da companhia de recuperar mercado, enfatizada pelo presidente Paulo Caffarelli em teleconferência com analistas de mercado, que já teve resultado no último trimestre do ano passado.

Entre os destaques negativos, estão a Vale (VALE3) e a Bradespar (BRAP4), que detém participação acionária na mineradora. O rompimento da barragem de rejeitos em Brumadinho (MG) impôs bloqueios bilionários à companhia e a eminência no pagamento de pesadas multas. O papel da Vale despencou 24% na sessão posterior à tragédia, acumulando uma desvalorização de 10,78% a R$ 45,50 no mês, enquanto a Bradespar perdeu 9,40% a R$ 28,13 no período.

Outro destaque negativo foi a Embraer (EMBR3), com queda de 10,79% a R$ 19,34. A fabricante brasileira de aeronaves está no processo final de venda de sua operação de aviação comercial à americana Boeing, com aval do governo Bolsonaro.

Por fim, vale destacar a volatilidade da fabricante de armas Forjas Taurus, que neste mês mudou o nome para Taurus Armas. O novo governo assinou o decreto que flexibilizou a posse de armas para pessoas físicas. As ações preferenciais e ordinárias da empresa tiveram forte alta até a publicação do decreto, despencando logo após e nas sessões seguintes. No acumulado do mês, a (FJTA4)cresceu 20,74% e a (FJTA3) subiu 1,67%.