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Esqueça o Fed e o Copom: Anúncio do Tesouro americano promete roubar cena da Super Quarta

31 out 2023, 14:42 - atualizado em 31 out 2023, 16:22
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Tesouro americano determinará a oferta da emissão da dívida nesta quarta-feira (01). (Imagem: Shuji Kajiyama/Pool via REUTERS)

Esta é uma semana recheada de decisões monetárias pelos principais bancos centrais do mundo.

O Banco do Japão (BoJ) começou a rodada na madrugada de hoje (31), dobrando a aposta em uma posição acomodatícia, conservando a taxa de depósitos do país a -0,1% e o teto para rendimentos da dívida japonesa de 10 anos em 1% — em um momento em que as taxas de títulos soberanos disparam.

Amanhã (01), será a vez do Copom no Brasil e do Federal Reserve nos Estados Unidos, compondo a famosa Super Quarta. A fornada de decisões acaba na quinta-feira (02), com a deliberação do Banco da Inglaterra (BoE).

Mas diferentemente de outros momentos, esta Super Quarta e a decisão do BoE não devem gerar tanta palpitação nos mercados, dada a pequena margem para surpresas.

No Brasil, a espera é por um corte de 0,5 ponto percentual na Selic, ratificando o afrouxamento monetário mais moderado que vem sendo realizado desde agosto.

Nos Estados Unidos, mais de 98% das projeções indicam para a manutenção das taxas depositárias do Federal Reserve em 5,25-5,50%, à medida que Jerome Powell e os dirigentes do Fomc passam a tatear o ponto final do aperto iniciado há mais de 18 meses.

Por fim, o banco inglês deve seguir o par norte-americano — e a decisão do Banco Central Europeu  (BCE) da semana passada — e manter a taxa de juros no país inalterada.

Com tudo isso já previamente desvendado pelo mercado, todas as atenções voltam para um evento que, antes da disparada dos Treasuries, causava apenas sono nos investidores e que agora é motivo de obsessão.

Trata-se do anúncio do plano trimestral do Tesouro americano para o refinanciamento da dívida soberana,  marcado para às 9h30 (de Brasília) desta quarta-feira (01).

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Por que Tesouro ‘aluga triplex’ na cabeça do mercado

Evento de rotina do Departamento do Tesouro, os leilões que determinam o preço e o volume dos títulos da dívida soberana dos EUA passaram a ter alta relevância para os investidores, já preocupados com taxas rondando a máximas não vistas desde 2007.

Isso, porque a quantidade de Treasuries emitidas pela pasta acaba interferindo diretamente na oferta do mercado de títulos, alterando, portanto, o preço e o rendimento dos ativos.

Analistas do mercado americano pontuam que uma das bases para a arrancada dos rendimentos, visualizada desde o início de agosto, vem de um desequilíbrio entre oferta e demanda no mercado de títulos.

Quanto mais dívida é emitida, menor é o preço dela, e maior será o rendimento demandado pelos compradores para assumir os papéis desvalorizados até a data de maturação dos mesmos. É este o desenho que se forma para o anúncio do Tesouro em plena Super Quarta.

Mas por que o Tesouro deverá aumentar a emissão de dívidas (através de bills, notes e bonds)? A resposta é: custear a crescente dívida pública dos Estados Unidos, que hoje acumula US$ 33,6 trilhões e corresponde a mais de 120% do PIB do país.

A piora da trajetória da dívida americana tem sido um tema constante em 2023, remetendo, inicialmente, à tensa negociação para a suspensão da dívida em maio e passando pela ameaça de um shutdown do governo em setembro.

Entre os motivos que explicam essa deterioração orçamentária estão a alta dos juros, a saída de títulos do balanço do Fed e o custeio de programas governamentais.

À Reuters, Guneet Dhingra, diretor da área de renda fixa americana do Morgan Stanley, diz que os mercados têm associado a elevação nas taxas dos Treasuries ao déficit fiscal, refletindo temores sobre a sustentabilidade desses déficits.