Especialistas debatem estratégias do Fed em mundo de juro zero
O banco central dos Estados Unidos pensava que tinha tempo de sobra para se preparar para o próximo encontro com o mundo do juro zero, do qual escapou com tanta dificuldade depois de 2008.
No domingo à noite, o coronavírus trouxe o Federal Reserve de volta a esse mundo bem antes do previsto.
No segundo corte de emergência dos juros em duas semanas, o Fed reduziu a taxa básica a praticamente zero e anunciou um amplo programa de compra de títulos.
Foi mais uma tentativa de salvar a expansão de 11 anos da pandemia, que causou estragos nos mercados financeiros e também ameaça levar os EUA à recessão, caso isso já não tenha ocorrido.
É um cenário muito diferente do “Fed Listens” (o Fed escuta) que o presidente Jerome Powell e seus colegas anunciaram no final de 2018, quando a economia crescia em ritmo saudável e parecia propensa a continuar naquela trajetória.
O objetivo era coletar ideias de líderes empresariais e do público em geral sobre como a política monetária poderia ser melhorada.
Mas agora, o Fed, tão central na estratégia dos EUA de administrar ciclos econômicos, pode não estar mais bem equipado para cumprir seu mandato de emprego máximo e preços estáveis por conta própria.
Futuro após juro zero
Essa ideia ganhou força durante a emergência do coronavírus, quando as intervenções do Fed não foram capazes de deter a baixa dos mercados, um padrão que se repetia no domingo à noite, quando os futuros dos EUA atingiam o limite de baixa.
“O Fed realmente não tem o escopo de fazer o que precisa”, disse Narayana Kocherlakota, que foi presidente do Fed de Minneapolis de 2009 a 2015. “Acho que a conclusão disso é que a política monetária realmente não pode fazer muito nesta fase.”
Por isso, investidores têm se concentrado mais na Casa Branca e no Congresso e se conseguirão oferecer apoio fiscal para empresas e trabalhadores.
Enquanto isso, os americanos se protegem em casa para evitar infecções. Também na Europa, autoridades fiscais recebiam um estridente alerta que as levaram à ação.
“A política monetária será cada vez mais dominada por considerações fiscais – uma tendência que já ocorre há algum tempo”, disse Joachim Fels, assessor econômico global do fundo de renda fixa Pimco, em nota após o corte de domingo. É “exatamente o que é necessário em um momento de crise, quando as ferramentas convencionais da política monetária estão amplamente esgotadas.”
No domingo, ao retornar ao chamado limite inferior zero, o Fed disse que manterá os juros nesse nível “até ter certeza de que a economia resistiu aos eventos recentes”.
Outros bancos centrais de países desenvolvidos estão presos na armadilha do juro zero há décadas e lutam para avançar. Essa é uma das razões pelas quais propostas mais radicais do que qualquer medida no próprio radar do Fed eram discutidas com crescente urgência por parte de especialistas em política monetária.
Juros negativos, já realidade na Europa e no Japão, têm defensores – como o presidente Donald Trump -, embora as autoridades do Fed não gostem da ideia e Powell tenha descartado essa possibilidade novamente na conferência de imprensa no domingo.
Grande impulso
No mundo dos coronavírus, a economia deve esfriar rapidamente, independentemente de onde estejam as taxas de juros, já que os gastos com viagens e refeições despencam da noite para o dia e trabalhadores são demitidos.
O desemprego nos EUA está no menor nível em 50 anos. Mas formuladores de políticas lembram como a taxa quase dobrou em um período de 18 meses durante a crise financeira, tendo atingido um pico de 10%, e caído para 5% apenas seis anos depois.