Especialistas analisam dados de segurança de vacina da AstraZeneca após suspensões na Europa
Especialistas em saúde de todo o mundo estavam sob crescente pressão para esclarecer questões sobre a segurança da vacina da AstraZeneca contra a Covid-19 nesta terça-feira, após Suécia e Letônia se juntarem aos países que suspenderam o uso do imunizante em mais um golpe na campanha de vacinação na Europa.
Um comitê de especialistas da Organização Mundial de Saúde (OMS) está analisando casos isolados de hemorragia, formação de coágulos sanguíneos e baixa contagem de plaquetas em pessoas que receberam a vacina em diálogo próximo com a Agência Europeia de Medicamentos (EMA).
A EMA dará uma entrevista coletiva às 10h (horário de Brasília) e o painel da OMS deve divulgar um comunicado sobre o assunto nesta terça-feira, disseram porta-vozes das duas entidades.
Em uma medida coordenada, os maiores membros da União Europeia —Alemanha, França e Itália— suspenderam o uso da vacina da AstraZeneca na segunda-feira à espera do desfecho de uma investigação da agência reguladora de medicamentos do bloco sobre os casos.
Suécia e Letônia engrossaram a lista nesta terça-feira, elevando para mais de uma dúzia o número de países da UE que agiram desde o surgimento dos primeiros relatos de embolia pulmonar em pessoas que receberam a vacina da AstraZeneca.
A OMS e EMA se uniram à AstraZeneca dizendo que não existe relação comprovada entre os casos e a vacina. Mas alguns especialistas disseram que casos raros de uma trombose cerebral extremamente incomum em pessoas mais jovens parecem indicar um link causal com a vacina da AstraZeneca.
“Infelizmente,… a trombose cerebral é provavelmente devido à vacina da AstraZeneca. E ela afeta pessoas mais jovens sem fatores de risco”, disse Karl Lauterbach, porta-voz para temas de saúde do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD)
“Mas como o risco é de somente cerca de 1 em 250 mil, o benefício predomina”, acrescentou ele em um tuíte.
Epidemiologistas europeus seguem perplexos com fato de casos similares não terem acontecido no Reino Unido, que começou a usar a vacina da AstraZeneca antes e já aplicou 10 milhões de doses.
“Esses sintomas ainda não foram observadas lá”, disse Stephan Becker, chefe do Instituto de Virologia da Universidade Philipps, em Marburg.
“É uma situação muito infeliz, mas se há tal suspeita, ela precisa ser investigada e a vacinação tem de parar enquanto isso ocorre.”
Decisão política?
Nicola Magrini, diretor-geral da agência reguladora de medicamentos italiana Aifa, disse em entrevista ao diário La Repubblica que a decisão de suspender o uso da vacina foi “política”.
Ele qualificou a vacina da AstraZeneca como segura e disse que a relação entre benefício e risco é “amplamente positiva”. Houve oito mortes e quatro casos de efeitos colaterais graves após as vacinações na Itália, acrescentou.
O ministro da Saúde francês, Olivier Véran, também disse aos repórteres que a relação entre benefício e risco da vacina continua positiva.
“Esperamos algum tipo de veredicto da comunidade científica europeia até a tarde de quinta-feira, o que nos permitirá retomar a campanha”, disse Véran. O chefe de vacinações da França, Alain Fischer, disse acreditar que a suspensão será temporária.
Governos dizem ter agido por excesso de cautela. Na segunda-feira, o ministro da Saúde alemão, Jens Spahn, disse que a decisão de suspender a AstraZeneca não foi política, mas baseada em conselhos de especialistas.
Ele agiu depois que a agência reguladora de vacinas alemã identificou um número incomum de casos de trombose cerebral rara. Das 1,6 milhão de pessoas que receberam a vacina da AstraZeneca na Alemanha, sete adoeceram e três morreram.