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Especial China 2023 – Parte II: Política monetária prudente e fiscal proativa

05 jan 2023, 12:00 - atualizado em 05 jan 2023, 13:26
Banco do Povo China
China deve manter política monetária prudente, através do Banco Central chinês (PBoC), mas estímulo fiscal deve ser proativo (Imagem: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins)

Neste início de 2023, o colunista do Money Times Robert Lawrence Kuhn dedicou uma série de cinco artigos com ênfase na economia da China. No primeiro, o especialista falou sobre a estratégia chinesa para aumentar o crescimento econômico em condições complexas. 

Nesta segunda parte, Robert L. Kuhn fala sobre a estratégia da China em relação às políticas monetária e fiscal. Segundo ele, enquanto a primeira deve ser prudente, a segunda tende a ser proativa.

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Confira o segundo da série de cinco artigos sobre a economia da China

A estratégia da China de estabelecer uma política monetária prudente e uma política fiscal proativa foi instituída pela Conferência Central de Trabalho Econômico, reunida em dezembro para definir diretrizes políticas para 2023. 

Embora a prioridade tenha sido o crescimento econômico, as lideranças chinesas permanecem vigilantes, aconselhando que a postura do Banco Central chinês (PBoC) seja precisa e estável, bem como enérgica e forte, fornecendo suficiente liquidez sem alimentar a inflação

Da mesma forma, embora a política fiscal seja proativa, não haverá estímulo maciço. Assim, o crescimento deve ser de alta qualidade e eficiente. Ou seja, o desenvolvimento de alta qualidade continua sendo prioridade.

Evergrande e covid-19 são freio fiscal

As autoridades da China têm bons motivos para aconselhar cautela. A dívida imobiliária é insustentável e, após três anos de controles rígidos da covid-19, recursos do governo, como os das famílias e pequenas empresas, foram esgotados, limitando a quantidade de capital disponível para rápida expansão. 

Além disso, as receitas do governo local foram minadas pela queda do setor imobiliário e na arrecadação de impostos, enquanto o declínio nos preços dos imóveis reduzem o poder de compra do consumidor e a disposição para gastar. Portanto, o setor imobiliário precisa de mais desalavancagem, não de mais endividamento.

Os governos locais são pressionados a o principal e os juros das dívidas, sendo que as receitas com a venda de terras diminuíram. Amortecer o impacto da redução das vendas de terras nas exigências fiscais ainda é um desafio. 

O enorme investimento nas instalações de quarentena da covid-19, que nem geram receita nem promovem produtividade, pouco ajudou.

Risco financeiro é freio monetário

Os líderes da China são sábios em manter o risco financeiro no topo de suas lista de observação. Eles, com razão, temem que um grande estímulo (fiscal ou monetário) possa ser explorado por especuladores, especialmente no setor financeiro (mercado de ações, bancos, fintechs) e no setor imobiliário. Sendo assim, portanto, mais prejudiciais do que úteis. 

Ao sinalizar uma política fiscal pró-ativa para 2023, com os “gastos públicos mantendo a intensidade necessária”, as lideranças chinesas pedem a garantia da estabilidade sustentável, controlando os riscos da dívida do governo local; otimizando déficits orçamentário com títulos para fins especiais e subsídios de taxa de juros (que os governos locais precisam porque devem contar com financiamento de alto custo) e aumentando os pagamentos de transferências do governo central para os governos locais.

Embora a China tenha tradicionalmente mantido seu déficit fiscal abaixo de 3% do PIB, o que há muito tempo tem sido um teto prudente, alguns economistas preveem que o país ultrapasse essa faixa em 2023. Assim, é sábio escolher o menor dos dois males: absorver um déficit fiscal maior no curto prazo para garantir a estabilidade do crescimento econômico no longo prazo.

*Robert Lawrence Kuhn é consultor de longo prazo para líderes e corporações multinacionais da China. Ele recebeu a Medalha da Amizade da Reforma da China do presidente Xi Jinping.