Especial China 2023 – Parte 5: Governo chinês que incentivar consumo doméstico
Neste início de 2023, o colunista do Money Times Robert Lawrence Kuhn dedicou uma série de cinco artigos com ênfase na economia da China. Neste quinto artigo, o especialista fala sobre as medidas de estímulo do governo ao consumo doméstico.
Antes de avançar para a última parte, vale uma retrospectiva da série especial até aqui. No primeiro, o especialista falou sobre a estratégia chinesa para aumentar o crescimento econômico em condições complexas.
Na segunda parte, Robert Lawrence Kuhn falou sobre a estratégia da China em relação às políticas monetária e fiscal. Depois, ele falou sobre o incentivo aos negócios privados. No quarto artigo, foi a vez de tratar do setor imobiliário.
Confira o quinto e último artigo da série especial sobre a economia da China
A Conferência Central de Trabalho Econômico foi sincera em seu diagnóstico e autoritária em suas prescrições. O encontro de lideranças de alto nível, realizado em dezembro, ocorreu para definir as diretrizes políticas e considerar as perspectivas econômicas para 2023.
Nela, foi definido que a recuperação e a expansão do consumo doméstico é prioridade. Porém, fazer isso acontecer, depois de quase três anos de bloqueios e incertezas por causa da pandemia, reconquistando a confiança do consumidor é essencial.
Isso deve “começar com a melhoria das expectativas do público [psicológico] e aumentar a confiança”. Além disso, deve incluir “coordenar melhor a prevenção e controle de epidemias com o desenvolvimento social”. Portanto, o objetivo é “otimizar a resposta epidêmica com base no tempo e na situação e foco nos idosos e naqueles com doenças subjacentes”.
Os estímulos ao consumo
Ninguém subestima o desafio. Embora em resposta à pandemia, a China não tenha fornecido doações em dinheiro para as famílias, assim como os Estados Unidos e outros países desenvolvidos, o plano para 2023 é aumentar a renda pessoal urbana e rural através de múltiplos mecanismos.
Vários governos locais, como o distrito de Gaoxin em Chengdu, província de Sichuan e áreas de Guangdong, Hainan, Jiangsu e Xinjiang tentaram vales-compras para reviver o consumo – para comida, casa, eletrodomésticos, carros e até viagens. Porém, parece não haver disposição para o lançamento nacional desses vales.
Já o estímulo direcionado aos programas de consumo nacional serão direcionados, como para veículos de nova energia. Em apoio, economistas apontam que o vale-consumo não é projetado para a recuperação do consumo sustentável, porque a real restrição é a renda familiar.
Assim, um meio mais eficaz de encorajar as pessoas a gastar dinheiro enquanto o país reabre, dizem eles, é garantir a população tenha empregos estáveis e renda suficiente por meio de medidas de apoio do lado da oferta, que devem impulsionar os gastos ao consumidor em segundo ordem, como um efeito derivativo. Contudo, o sucesso vai depender de quão rápido o setor privado responde.
Assim, é preciso levar em conta alguns indicadores-chave para acompanhar a melhoria da economia da China e dos meios de subsistência do povo chinês. O primeiro, obviamente, são as vendas no varejo. Também têm os trabalhadores migrantes retornando às áreas urbanas e industriais, além da taxa de desemprego urbano, que ao cair gera um aumento líquido do emprego nas cidades.
Porém, existe um curinga para a economia da China: a covid-19 com suas variantes mais infecciosas (embora esperançosamente menos letais) estão passando por um crescimento explosivo e exponencial, neste momento, enquanto escrevo. (O termo “exponencial” é geralmente mal aplicado na imprensa internacional para significar apenas crescimento “rápido”. Porém, aqui, agora, o crescimento é verdadeiramente exponencial – embora possa ser só por um curto período, enquanto o potencial “disruptivo” do coronavírus ainda não é conhecido.)
Seja como for, há poucas coisas mais vitais para a economia global do que a economia da China, que está ancorada, agora mais do que nunca, no consumo interno.
*Robert Lawrence Kuhn é um renomado especialista em China, especialista internacional e estrategista corporativo, sendo consultor para líderes e corporações multinacionais na China. Ele recebeu a Medalha da Amizade da Reforma da China do presidente Xi Jinping. É autor do livro “Como os Líderes Chineses Pensam”, publicado no Brasil pela Autonomia Literária.