ESG: Trígono tem foco em medidas de governança socioambiental nos fundos de investimentos
A Trígono Capital, gestora com mais de R$ 2,3 bilhões em carteira, vem reforçando medidas para medir e controlar as emissões de carbono de seus fundos de investimento. Desde 2021, a empresa fundada por Werner Roger e Frederico Mesnik publica um relatório anual que esmiúça a pegada de CO2 das empresas que integram o portfólio.
O documento é realizado em parceria com a consultoria especializada ATA Sustentabilidade. A ideia é de que a publicação provoque medidas tanto nas empresas investidas, quanto em gestoras concorrentes, buscando melhores práticas ambientais.
Em entrevista à coluna, o diretor de investimentos Werner Roger destacou a importância de olhar além das emissões de carbono diretas das empresas. Para ele, é preciso levar em conta também as emissões da cadeia de fornecedores e clientes. A gestora também abordou a relevância da governança e tem trabalhado para engajar as empresas investidas em práticas mais sustentáveis.
Com isso, já é possível observar resultados positivos nesta frente. Confira a entrevista:
Quais são os motivos que levou a Trígono a começar a publicar a pegada de carbono de suas carteiras?
Tenho sido crítico em relação a como o tema ESG é utilizado. Infelizmente, muitas empresas utilizam o ESG (sigla em inglês para governança socioambiental) como uma estratégia de greenwashing. Ou seja, elas se promovem como ESG, mas na prática, não fazem o suficiente para demonstrar compromisso com o meio ambiente nem a sociedade.
Sempre tratamos o tema como um dos nossos pilares. Temos uma metodologia proprietária, avaliada pela área de ESG do BTG. Acreditamos que a prática do ESG é muito mais importante do que apenas falar e estamos comprometidos em fazer a nossa parte. Nossa metodologia atribui uma nota às empresas avaliadas, levando em consideração tanto os aspectos quantitativos quanto os qualitativos de ESG.
Isso é importante porque influencia diretamente o valor dos investimentos, calculado através dessa metodologia. Apresentamos os números aos nossos clientes, mostrando que não é apenas discurso, mas prática. Além disso, há três anos, quando a questão das emissões de carbono se tornou ainda mais importante, contratamos uma consultoria para avaliar as empresas que investimos na Trígono em relação as emissões de gases de efeito estufa.
Esse é um compromisso que temos com a transparência e a responsabilidade ambiental. Provocamos nossos concorrentes para que também adotem essa prática, acreditamos que isso é importante para melhorar a governança, as práticas sociais e ambientais das empresas investidas visando criar um efeito virtuoso no mercado.
Como a divulgação da pegada de carbono pode influenciar a tomada de decisão dos investidores?
No nosso caso, o primeiro trabalho foi medir e comparar a gestão das empresas através de questionários. Agora, estamos monitorando o desempenho delas e alterando o score de acordo com o nosso processo qualitativo e quantitativo. Essa informação vai influenciar na nossa precificação dos ativos e na tomada de decisões. Além disso, usamos as informações para mitigar nosso risco em relação a empresas que não têm boas práticas.
A Trígono já deixou de investir em empresas por causa de aspectos controversos relacionados ao ESG?
Um dos nossos diferenciais é o veto a certas empresas que possuem grande peso no índice, como a Vale (VALE3) e a JBS (JBSS3), independentemente do valor do preço. No caso da Vale, desde a tragédia de Mariana e Brumadinho, juntamente com outras ações judiciais que ainda estão em andamento, observamos um grande risco financeiro e de contaminação. Quanto à JBS, a empresa sofreu acusações de corrupção, pagou multas nos Estados Unidos. É outro exemplo que preferimos ficar de fora.
Para nós, a governança é o aspecto mais importante, já que é que influencia tanto a questão social quanto a ambiental. Se a empresa distribui dividendos, mas não investe em prevenção ambiental, considero que isso anula todo o valor que ela possa ter. Não avaliamos empresas com base apenas no valor, mas sim em sua governança e comprometimento social e ambiental. É importante observar esses aspectos, mesmo que a empresa seja recomendada pelos analistas que observam apenas os resultados. Nós levamos a sério a nossa filosofia de investimento sustentável e acreditamos que a governança é fundamental para determinar a questão social e ambiental das empresas.
Além da pegada de carbono, quais outros critérios ESG são considerados pelos fundos de investimentos na seleção de ativos para as carteiras?
Para mim, o mais importante é a governança. Isso porque o Conselho de Administração é a instância superior à diretoria e acaba sendo responsável por definir o investimento em questões ambientais, sociais, relações com a sociedade, dividendos e investimentos para mitigar emissões. Os reguladores não deveriam permitir que gestoras como nós, que têm acesso a todas as decisões estratégicas das empresas, sejam membros do conselho, além de terem resgate e aplicação diários.
Na Trígono, nenhum membro da equipe está em conselhos de administração, o que é um diferencial. Realizamos indicações de nomes para ocupar assentos em conselhos de administração fiscal, profissionais altamente qualificados, ex-executivos e com muita experiência. Valorizamos muito a governança e a transparência nas empresas, além da questão ambiental e social. Inclusive, damos muita importância ao relatório de sustentabilidade, que é crítico para dar transparência às empresas. Para nós, é importante contribuir sem fazer marketing, pois a ação invisível é o que realmente importa, e isso é algo que nos diferencia positivamente.