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Erro contábil no Magazine Luiza (MGLU3): Entenda em 5 pontos o que aconteceu (e o que esperar)

14 nov 2023, 20:27 - atualizado em 18 nov 2023, 10:37
Magazine Luiza
Na noite da última segunda, junto com o seu resultado, o Magazine divulgou fato relevante sobre o fim das investigações (Imagem: Magazine Luiza/Linkedin)

O Magazine Luiza (MGLU3) provocou arrepios na noite da última terça (14) ao comunicar ‘incorreções em lançamentos contábeis’. Isso porque o trauma com fraude em outra varejista, a Americanas (AMER3), continua bem vivo na memória do investidor.

Apesar de um erro contábil assustar, analistas afastam qualquer comparação com o buraco de R$ 20 bilhões da varejista descoberto do começo do ano, o que não significa que a empresa comandada pela família Trajano está livre de consequências.

Duas casas, pelo menos, destacaram o fato para justificar o rebaixamento de indicação de compra para neutra, por exemplo.

Veja a seguir cinco pontos para entender o caso

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O que aconteceu?

Na noite da última segunda, junto com o seu resultado, o Magazine divulgou fato relevante sobre o fim das investigações, conduzidas por auditores independentes, da denúncia anônima recebida em março.

As acusações apontavam para práticas ilegais de certos distribuidores e fornecedores, que envolveriam operações de bonificação relativas a compras.

A empresa declarou improcedente as denúncias, mas diz que encontrou incorreções em lançamentos contábeis “relacionadas ao período de competência do reconhecimento contábil de bonificações em determinadas transações comerciais”.

Na prática, isso significa que a companhia reconheceu receitas de bonificação (que reduziram custos e contas de fornecedores), o que inflou o lucro bruto e o lucro líquido (exceto no primeiro e segundo trimestre de 2023, quando o impacto foi negativo).

Em notas explicativas divulgadas junto ao balanço, a companhia afirmou que reapresentou, por meio de dados não auditados, números de 2022, diante da identificação das incorreções. O prejuízo líquido do terceiro trimestre do ano passado, por exemplo, foi a R$ 190,9 milhões, de R$ 166,8 milhões apresentado anteriormente.

Segundo a empresa, não foi constatada má-fé dos envolvidos, por isso o fato foi classificado como erro e não fraude.

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O que o Magazine Luiza fez?

Diante dos fatos, o Magazine tratou de colocar panos quentes na história. Em teleconferência realizada nesta terça, a empresa diz que todos os ajustes nas finanças da companhia já foram feitos durante o trimestre, e, portanto, não deverá haver necessidade de ajustes adicionais, com a investigação já concluída.

O Magazine Luiza também determinou que sejam implantadas imediatamente medidas visando ao aprimoramento dos mecanismos de controles internos da companhia, tais como:

  1. revisão das matrizes de riscos e controles internos do processo de negociação comercial;
  2. melhoria dos mecanismos de governança que garantam a efetiva segregação das funções relacionadas à execução das etapas do processo de negociação e apropriação das bonificações;
  3. aprimoramento de sistema automatizado de gestão de verbas de fornecedores;
  4. revisão e aprimoramento do plano e rotina de auditoria interna sobre os processos de negociação comercial.

Qual o impacto para o Magazine Luiza?

No documento, o Magazine diz que ajustou o patrimônio líquido da companhia em R$ 829,5 milhões. Porém, a empresa usou R$ 688,7 milhões (que líquido de impostos representou R$ 507,4 milhões) em créditos fiscais para abater parte do valor.

Com isso, houve a redução no patrimônio da companhia de R$ 322,1 milhões. Esse indicador representa a diferença entre os ativos e os passivos, ou seja, o montante que fica com os acionistas e/ou proprietários.

É diferente do caixa da empresa, por exemplo. Esse descreve as entradas e saídas de dinheiro, fornecendo uma visão clara da liquidez e saúde financeira da empresa. Segundo o Magazine Luiza, não houve impacto para a geração de caixa, o que ajuda a dar mais tranquilidade ao mercado.

“Observamos que essas imprecisões não são tão materiais quanto outras que observamos no setor no passado recente e não têm impacto no caixa. Dito isto, esperamos que os investidores reajam inicialmente com uma maior percepção de risco”, observa o Goldman.

Para o Genial, no entanto, a reapresentação de resultados embaralhou algumas cartas para a empresa.

“Notamos que o capital de giro foi um desses grandes impactados, saindo de 1,5% para 4,9% da receita bruta nos últimos 12 meses. Acreditamos que esse aumento está conectado a questão de “inconsistência de lançamento contábil”, sendo o montante de fornecedores a principal afetada na reapresentação”, discorre.

Em nota enviado ao Money Times, o Magazine Luiza declara que os ajustes realizados seguiram as normas contábeis (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)

Qual foi o impacto para analistas de mercado?

Os analistas viram a notícia como negativa. Isso porque a descoberta coloca ainda mais incerteza no papel. “Este anúncio pode deixar os investidores mais preocupados com novos riscos potenciais de contabilidade e governança”, explica a XP.

Embora reconheça o esforço da empresa para “limpar” os resultados anteriores desses erros e apresentar uma ficha limpa a partir do terceiro trimestre, o Santander acredita que será um desafio para o mercado ignorar esta questão.

O BB Investimentos, por exemplo, diz que ainda que a denúncia tenha sido considerada improcedente, “a necessidade de reapresentação de lançamentos contábeis e de implantação de medidas visando ao aprimoramento dos mecanismos de controles internos gera incertezas quanto à existência de outras inconsistências porventura ainda não evidenciada e o nível de governança corporativa da companhia, o que adiciona mais riscos a esse de investimentos”.

O que acontece com o Magazine?

Uma das possibilidades é a empresa sofrer alguma punição. O Instituto Empresa, por exemplo, que já atuou em outros processos, como Oi (OIBR3) e Americanas (AMER3), entrou com um pedido na B3 para suspender o Magazine Luiza do Novo Mercado, índice de maior governança da bolsa, após a empresa confirmar erros contábeis.

Para o Instituto, ocorreu novamente a indução do investidor em erro. “Aquisições de ações e em debêntures foram realizadas  com base em números falsos”, afirma Eduardo Silva, presidente do Instituto Empresa.

A arbitragem que está sendo organizada visa a responsabilização dos controladores e o ressarcimento dos investidores que adquiriram o papel com preço artificializado pelos erros contábeis”.

Em nota enviado ao Money Times, o Magazine Luiza declara que os ajustes realizados seguiram as normas contábeis e foram feitos no melhor interesse da companhia e de seus acionistas. “Entendemos que tais ajustes não representaram nenhum prejuízo ou perda para nenhum de nossos investidores”, completa.

Ainda segundo o Valor Econômico, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) abriu investigação para apurar os balanços do Magazine Luiza.

Segundo o jornal, a CVM informou ainda que não se pronuncia sobre a possibilidade de ressarcimentos de perdas dos acionistas com os erros do balanço da Magazine Luiza, e que a investigação em curso refere-se apenas à ressalva do auditor.