Entrevista: Tecnologia será complemento à volta dos eventos presenciais, diz CEO da Evnts
O mercado de eventos foi atingido em cheio pela pandemia de Covid-19, e desde então o setor se reinventa com a paralisação dos encontros presenciais.
As empresas tiveram de migrar ao ambiente virtual suas convenções, treinamentos, workshops, reuniões, lançamentos de produtos e por aí. E em meio à nova demanda, a startup Evnts — que usa tecnologia para realização e gestão de eventos corporativos online de ponta a ponta — também mudou o seu jeitão.
“No pós-pandemia, a tecnologia será complemento e virá para somar com eventos presenciais, da forma como eram feitos antes”, argumenta o co-fundador da startup .
A Evnts lançou, em maio do ano passado, uma plataforma capaz de cumprir com as necessidades das grandes companhias, e conseguiu obter um faturamento superior a R$ 4 milhões em 2020.
O Money Times conversou com Alexandre Rodrigues, co-fundador e CEO da Evnts, sobre os principais gatilhos do setor de eventos corporativos em plena pandemia, expectativas ainda neste ano e conciliação dos modelos digital e presencial.
A startup, que tem valuation acima de R$ 50 milhões e possui entre seus investidores a Bossa Nova Investimentos, Yuri Gitahy e Flytour Innovation, prevê crescer mais de 150% em 2021 e fechar o ano com mais de 6 mil eventos digitais realizados.
Para sustentar esse crescimento, a Evnts planeja saltar de 25 para mais de 50 colaboradores até dezembro, investindo principalmente na contratação de profissionais de tecnologia e na gestão de projetos em eventos.
Confira a seguir os principais trechos da entrevista:
Money Times: Como foi para a Evnts o processo de migração de seu modelo de negócios ao mundo virtual dada a pandemia?
Alexandre Rodrigues: Antes da pandemia, estávamos muito forte com um produto de marketplace voltado, sobretudo, às grandes companhias que o usavam como checklist para organizarem seus eventos corporativos presenciais. Lançamos o produto apenas seis meses antes da pandemia. Apesar do produto ser de tecnologia, era voltado para os encontros presenciais, e aí começamos ver nossos contratos fechados serem suspensos.
Março e abril do ano passado foram meses para repensarmos o modelo de negócios da Evnts. Daí partimos para o bate-papo com os nossos clientes. Antes mesmo da era das lives, reunimos virtualmente especialistas em eventos corporativos, entre eles o CEO do Reclame Aqui e o CFO do iFood. E com isso conseguimos responder a questão: e agora, para onde os eventos vão?
Hoje a gente vê todo mundo fazendo eventos digitais, mas naquela altura tínhamos Itaú Unibanco (ITUB4) e SulAmérica (SULA11) dizendo que não havia quem fornecesse eventos digitais. Portanto, passamos a suprir empresas de todos os portes com soluções para eventos online.
Money Times: Com a expectativa de alcançar 6 mil eventos realizados ao final do ano, pode caracterizar o tipo de cliente que busca a Evnts e como a startup atende às expectativas do cliente?
Alexandre Rodrigues: Nós aprendemos a construir o nosso produto virtual com as grandes empresas, com volumes elevados e que gastam em média R$ 500 mil ou mais com eventos por ano, como, por exemplo, a Raízen [que está à caminho de listar suas ações na B3], e pela segmentação, a maior parte dos nosso clientes são 40 das 100 maiores companhias do Brasil.
Importante esclarecermos a definição de evento dentro da segmentação, visto que para quem é de fora do mercado pode entender como uma feira, um congresso ou mesmo uma super convenção e encontros de maior porte. E para alcançarmos a marca de 6 mil eventos até o final do ano, a Evnts trata eventos como reuniões entre pessoas no dia-a-dia para comunicar algo a stakeholders.
Um exemplo prático: um bancão pode fazer um evento com apenas 25 investidores e querer ir além de um modelo limitado às funções do Zoom ou Meetings, e requerer página personalizada, ambiente mais seguro para inscrição e dashboards (dados em gráficos animados e interativos). A Evnts também é um complemento às ferramentas básicas num encontro virtual, tanto no pré, durante e pós-evento.
Money Times: No pós-pandemia, o modelo virtual ainda vai continuar? É possível conciliar tanto o canal presencial quanto o digital?
Alexandre Rodrigues: Apesar do impacto inicial da pandemia, 2020 foi o melhor ano da Evnts até aqui e esperamos conciliar todos os modelos de negócios. Frequentemente, recebemos perguntas como essa: e quando passar a pandemia? Eu digo que vai ficar melhor ainda. Vamos unir o que desenvolvemos no ambiente digital com o nosso produto pré-pandemia.
A tecnologia será complemento e virá para somar com eventos presenciais, da forma como eram feitos antes. Essa tendência já era latente. A pandemia apenas compactou em um ano o que levaria no máximo sete para acontecer no mercado de eventos como um todo, quando me refiro à integração tecnológica.
Mesmo quando os eventos presenciais voltarem, a tecnologia será crucial em algum momento da experiência. Reuniões menores, com até 25 pessoas, majoritariamente devem permanecer no online devido aos ganhos financeiros, logísticos e sociais.
Eventos de proporções intermediárias devem agregar, justamente, cada vez mais algum componente tecnológico, ainda que sejam feitos via presencial, pois provamos ser fácil a transmissão de conteúdo, e possivelmente teremos a participação de pessoas que não estejam presentes fisicamente.