Entrevista: Suzano deve voltar a pagar dividendos, sinaliza diretor financeiro
A Suzano (SUZB3) foi a ação ligada ao agronegócio mais recomendada para se investir em abril, segundo levantamento feito pelo Agro Times junto a 30 analistas de mercado. E com as posições atuais do dólar e da celulose, as indicações não foram por acaso.
Há quem diga que o dólar possa bater R$ 6,40 ao final deste ano, no caso o BTG Pactual (BPAC11), levando em conta um cenário de maior gasto público e forte alta do risco-país. Na média, a cotação da moeda americana ficaria em R$ 5,40 em dezembro.
De qualquer forma, é sabido que com o real enfraquecido, empresas exportadoras alavancam ainda mais suas operações diante da desvalorização. Caso da Suzano, maior produtora global de celulose de eucalipto, presente em diversos mercados pelo mundo.
A onda de compras de produtos agrícolas pela China e a redução dos estoques recentemente elevaram os preços aos maiores níveis dos últimos anos, ao mesmo tempo em que aumentaram a volatilidade que favorece as empresas do setor.
E para dar conta do recado, em um momento de extrema demanda pela commodity, a Suzano tem apostado na biotecnologia como forma de manter sua produtividade florestal, sem perder a pegada sustentável. O Agro Times teve acesso aos por menores do projeto Tretys, tocado pela produtora de celulose.
Nesta entrevista, o diretor de Finanças, Relações com Investidores e Jurídico, Marcelo Bacci, revela que com o “cenário mais favorável” a Suzano deve retomar sua política de pagamento de dividendos aos seus acionistas. Veja a seguir os principais pontos da conversa ao Agro Times.
Money Times: Como a Suzano avalia o momentum de dólar valorizado e de preços recordes da celulose, sobretudo na China?
Marcelo Bacci: Em 2020, tivemos um período longo de preços baixos em relação à celulose, e mesmo assim a empresa conseguiu ter uma boa performance. E isso só foi possível porque a Suzano é hoje o produtor de celulose de mais baixo custo no mundo, ou seja, mesmo em um contexto de preços baixos no mercado de commodities, conseguimos performar bem.
A cotação da celulose começou a disparar a partir de outubro, e os preços para a China subiram bastante, em torno de 70%. Fomos de US$ 440 por tonelada de celulose no ano passado a US$ 780 no patamar mais recente. O momento é realmente muito favorável, com perspectivas de oferta e demanda se manterem assim por um bom tempo. Reduzindo o custo de produção, conseguimos nos proteger independentemente da cotação da commodity.
E quanto mais alto estiver o dólar, melhor será para Suzano como empresa exportadora, lembrando que 80% das receitas da companhia provem de exportações. Essa combinação de preços altos tanto da celulose quanto do dólar é incomum, e muito positiva. O mercado de câmbio ainda segue muito volátil, e ainda conta com as incertezas em torno da pandemia de Covid-19 e da situação fiscal do Brasil, que podem pressionar ainda mais a moeda.
Money Times: Quais investimentos estão no radar da Suzano, e como devem refletir nas operações da companhia?
Marcelo Bacci: Estamos em uma situação bastante expressiva em termos de investimentos desde novas fábricas, manutenção de nossas florestas e nas operações logísticas. Nos últimos anos, a Suzano tem mantido o seu CAPEX [despesas ou investimentos em bens de capital] relativamente mais baixo do que em períodos anteriores, com a fusão com a Fibria, em virtude da redução das dívidas.
Mesmo com um nível menor de investimentos, neste ano foram anunciados R$ 4,9 bilhões para as operações de plantios e gestão das fábricas. Com o momento mais favorável que citei, teremos uma geração de caixa mais forte em 2021, desbloqueando mais oportunidades em capacidade, otimização de custos e bionegócios. E provavelmente a cifra anunciada será aumentada à medida que os projetos em curso neste ano se maturarem.
Money Times: Levando em conta os padrões ESG, quais são as pretensões da Suzano no mercado de crédito de carbono?
Marcelo Bacci: A sustentabilidade é um ponto muito nativo à Suzano. Temos políticas de desmatamento zero , e todo o nosso crescimento se dá em áreas que estão degradadas. Tudo que a Suzano produz é partir de árvores plantadas, e ainda assim temos um volume expressivo de árvores nativas que nós tratamos como reserva ambiental.
Recentemente, sentimos uma necessidade de sermos mais vocais na questão ambiental, porque hoje o mundo deseja saber, não basta só fazer, também é preciso comunicar. O mercado de carbono é uma extensão natural, afinal já somos uma das poucas companhias no mundo com pegada negativa de carbono. Capturamos mais CO2 da atmosfera do que emitimos.
Infelizmente, o Brasil ainda não é parte de nenhum mercado global organizado de carbono, que permita empresas brasileiras venderem créditos de carbono ao mundo. Temos colaborado para que o governo brasileiro se aproxime e participe dos mercados globais de carbono. E caso haja avanço nesse sentido, a Suzano tem interesse em ser vendedora de créditos de carbono.
Money Times: Com um cenário de negócios mais favorável, há sinalização para retomada da política de dividendos em um futuro próximo?
Marcelo Bacci: Na medida em que a geração de caixa tem crescido neste ano e a situação de endividamento melhorado, a Suzano vai retomar os pagamentos de dividendos aos seus acionistas. Por conta do mercado de commodities ser bastante volátil, é difícil estabelecer estabelecer uma regularidade.