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Entrevista: Sou contra a abertura ao capital estrangeiro, diz presidente da Azul

14 jun 2017, 12:52 - atualizado em 05 nov 2017, 14:02

A Azul é a única companhia aérea brasileira que se posiciona contra o projeto de lei que tramita no Congresso – e que tem o apoio do presidente Michel Temer – para liberar o setor, de forma irrestrita, ao capital estrangeiro – hoje, há um limite de 20%. O presidente da empresa, Antonoaldo Neves, diz que a postura da Azul é de defesa do mercado internacional para as brasileiras, já que acordos bilaterais limitam o número de voos entre os países.

Caso o setor seja liberado para o capital estrangeiro, companhias de fora poderiam brigar por rotas que hoje são feitas por brasileiras. “Minha posição é Donald Trump: tem que ter reciprocidade”, afirmou ao Estado.

Confiram abaixo os principais trechos da entrevista.

As empresas aéreas defendem a abertura ao capital estrangeiro com a justificativa de que o aumento da concorrência é positivo para o mercado. Por que a Azul é contra?

Minha posição é Donald Trump: tem de ter reciprocidade. É absurdo o Brasil abrir mão de um ativo tão importante sem ganhar nada em troca. É jogar dinheiro fora. Estou falando para o País.

E para a empresa?

A mesma coisa. Eu quero criar valor aqui. Por que países abertos como os Estados Unidos e a Inglaterra não abrem 100% do capital para o estrangeiro? Porque existem acordos bilaterais entre os países que regulam as frequências (de voos). Se libero o capital estrangeiro, sem levar em consideração os acordos bilaterais, estou rasgando os acordos. Um exemplo simples: existem frequências limitadas entre Brasil e Europa.

Quando a Lufthansa puder ter uma filial no Brasil, ela poderá usar as frequências das empresas brasileiras. E onde essa empresa faz a manutenção das aeronaves? Lá no estrangeiro. Onde ela contrata pilotos e gera renda? Lá no estrangeiro.

A abertura não aumentaria a concorrência atraindo empresas aéreas ao País?

O que atrai novas empresas é um mercado com custos menores. A questão da bagagem (permissão para cobrar pela unidade despachada) ajuda a atrair novas empresas. Baixar o custo de querosene, que aqui é 50% mais cara que a média internacional, e revisar a lei do aeronauta (que hoje, por exemplo, limita a oito o número de folgas por mês dos pilotos) ajudam.

Há uma crítica de que a Azul já tem mais de 20% do capital nas mãos de estrangeiros. A diferença é que eles não detêm os papéis com direito a voto…

Sim. A estrutura de capital que a Azul tem permite atrair capital do estrangeiro. Essa estrutura de capital é aprovada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários, que regula o mercado de capitais), é legal, existe no mercado brasileiro. Por isso, não acho que a solução é abrir capital. Você pode atrair capital de diversas formas, emitindo dívida, pro exemplo. Não falta capital no Brasil mesmo nessa crise toda. Só a Azul, nos últimos 18 meses, trouxe mais de US$ 1 bilhão em capital. A Latam e a Gol também receberam investimentos (de fora). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

(Por Luciana Dyniewicz)

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