Meio Ambiente

Entrevista: Sônia Guajajara pressiona UE a bloquear acordo com Brasil por mortes de indígenas

04 nov 2019, 21:40 - atualizado em 04 nov 2019, 21:40
Sônia Guajajara, chefe da Apib,  fez um apelo aos parlamentares para recusarem o acordo após o guardião indígena Paulo Paulino ter sido morto (Imagem: REUTERS/Nacho Doce)

A Europa precisa pressionar o Brasil a acabar com os assassinatos de povos indígenas, recusando-se a assinar um grande acordo comercial, disse uma líder comunitária nesta segunda-feira, depois que um jovem integrante da tribo Guajajara foi morto a tiros por madeireiros ilegais.

Sônia Guajajara, chefe da Apib, que representa muitos dos 900.000 índios brasileiros, fez um apelo aos parlamentares para recusarem o acordo após o guardião indígena Paulo Paulino ter sido morto e outro ferido em uma emboscada por madeireiros ilegais na sexta-feira.

“(Assinar) o acordo seria fechar os olhos para o que está acontecendo no Brasil. Seria a institucionalização do genocídio”, disse ela à Thomson Reuters Foundation.

Sônia afirmou que o acordo com a UE concederia aos países do Mercosul maior acesso aos mercados da União Europeia, o que poderia resultar em fazendeiros e madeireiros invadindo terras indígenas para impulsionar a produção.

“Ele facilita negócios… para empresas que vão querer explorar cada vez mais estas terras indígenas”, disse Sônia Guajajara, que foi candidata a vice-presidente da República na chapa do PSOL encabeçada por Guilherme Boulos.

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O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, disse no fim de semana que não serão poupados esforços para capturar os responsáveis pelo assassinato do indígena (Imagem: José Cruz/Agência Brasil)

“Estamos falando muito aqui com os governos para não assinarem o acordo do jeito que está”, afirmou. “Estamos plantando uma sementinha… mostrando o quanto estes territórios são importantes para o bem geral mundial.”

Líderes indígenas estão viajando por 12 países europeus para denunciar ataques às comunidades nativas do Brasil.

O grupo se reuniria com membros do Parlamento da Bélgica na segunda-feira e também espera se encontrar com o Parlamento Europeu. Eles já conversaram com parlamentares e representantes de empresas de sete outros países.

O acordo alcançado em junho, após 20 anos de negociações, foi saudado pelo Brasil como uma grande vitória diplomática. Mas foi criticado por ambientalistas e pelo presidente francês, Emmanuel Macron, depois que grandes áreas da floresta amazônica foram queimadas por madeireiros e fazendeiros ilegais.

A França e outros países podem formar uma minoria de bloqueio para impedir que o acordo entre em vigor.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, disse no fim de semana que não serão poupados esforços para capturar os responsáveis pelo assassinato do indígena.

Sônia elogiou a medida, mas disse que isso é pouco depois das repetidas promessas do presidente Jair Bolsonaro de abrir terras indígenas ao desenvolvimento econômico (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

O governador do Maranhão, Flávio Dino, criou uma força-tarefa policial especial para proteger os povos indígenas em seu Estado, onde ocorreu o assassinato.

Sônia elogiou a medida, mas disse que isso é pouco depois das repetidas promessas do presidente Jair Bolsonaro de abrir terras indígenas ao desenvolvimento econômico.

As comunidades indígenas têm relatado crescentes ataques desde a eleição de Bolsonaro em 2018.

“Os invasores estão se sentindo amparados pela retórica dele (Bolsonaro)”, disse Sônia, acrescentando que “um crime como esse não pode ficar impune”.

Morto na sexta-feira, Paulo Paulino, conhecido como Lobo, era, como Sônia, parte da tribo Guajajara, entre os maiores grupos indígenas do Brasil, com cerca de 20.000.

Em 2012, eles criaram os Guardiões da Floresta para patrulhar uma reserva indígena ameaçada por extração ilegal de madeira. Desde então, pelo menos três guardiões guajajara foram mortos em conflitos com madeireiros ilegais.

Apesar das mortes, Sônia acredita que seu povo está vencendo a guerra contra o desmatamento, observando que “casos como esse têm uma repercussão muito grande, e as pessoas estão vendo”.

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