Entrevista: “Por ser uma ação de baixa liquidez, queda da Mobly é acentuada”, diz CEO
Não é segredo que o setor varejista é um dos que mais apanham neste ano, bem acima da derrocada de cerca de 13% do Ibovespa (IBOV) até outubro. Se por um lado, o avanço da vacinação fomenta a volta do consumidor às lojas físicas, por outro, a disparada da inflação e aumento da Selic ameaçam a recuperação da atividade econômica.
Entre as empresas que encaram esse cenário, está a Mobly (MBLY3), que atua no setor de móveis e decoração, e que divulgou seus resultados do terceiro trimestre nesta terça-feira (9). A companhia encerrou o período com uma receita líquida operacional de R$ 186,3 milhões, 3,4% acima do observado um ano antes e 92% superior ao registrado em 2019, mas registrou queda no GMV total entre julho a setembro.
O indicador recuou 4,2% no terceiro trimestre, quando confrontado com o terceiro trimestre de 2020, diante da forte base de comparação, marcando a diminuição de volume de buscas online.
“Diante da disparada da inflação, que compromete o poder de compra da população e que também afeta os custos das matérias-primas no setor, preferimos não repassar o aumento de preços ao consumidor final, porque é mais eficiente do que elevar o investimento em marketing”, afirmou Victor Noda, CEO da Mobly, ao Money Times, em entrevista exclusiva.
Apesar da companhia ter avançado em frentes importantes, como reduzir o prazo de entrega no Brasil de 19 para 11 dias, o cenário adverso deixa suas marcas. Uma delas é a queda de cerca de 70% de suas ações, desde o IPO em fevereiro.
Para Noda, embora o ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) tenha recuado 3,9% no período comparado com 2020, muito em linha com o plano de aceleração traçado no IPO.
“O indicador no trimestre passado veio muito melhor do que em 2019, quando houve recuou de 7,4%, um período que a gente lembra ser anterior à pandemia”, explica.
Veja a seguir os principais trechos da entrevista concedida ao Money Times.
Money Times — O que a Mobly planeja para reconquistar a confiança dos investidores, diante da elevada desvalorização das ações desde o IPO, em torno de 70% no acumulado até novembro?
Victor Noda — Não tem muito segredo. A reconquista só vai acontecer mostrando resultados de forma consistente ao longo dos trimestres. Afinal, a queda teve muito pouco a ver com a nossa operação e muito mais a ver com o cenário de mercado como, por exemplo, o custo de juros. É sabido que o movimento de alta de juros afasta o investidor de empresas de tecnologia, além do que, as empresas de varejo como um todo têm sofrido neste meio tempo.
A Magazine Luza (MGLU3), desde a data do nosso IPO pra cá, caiu perto de 50%, a Americanas S.A. (AMER3) também recuou forte. No caso da Mobly, por ser uma ação de baixa liquidez e pouco volume de transações, a correção tem um efeito exponencial. Fundos de investimento, quando veem um cenário de incertezas no mercado de capitais, preferem migrar posições para empresas de maior liquidez, como precaução para movimentos mais bruscos na gestão, contando com o resgate mais rápido.
Money Times — Como a empresa está investindo os R$ 777,8 milhões captados no IPO, já que, de acordo com o prospecto preliminar, a destinação de recursos se divide em 50% para capital de giro, 35% para marketing e publicidade e 15% para bens de capital?
Noda — Quando a gente pensa em capital de giro, seguramos um pouco o aumento da antecipação de recebíveis (vendor financing) para os fornecedores neste quarto trimestre, o que implica em 23% dos nossos fornecedores se beneficiando desta iniciativa. O plano inicial era aumentar a parcela de fornecedores contemplados, mas diante da elevada inflação no mercado, optamos por preservar o caixa da Mobly, antes de expandir.
Outra mudança estrutural foi o investimento em marketing. Com a queda no volume de buscas online, esta frente se torna menos eficiente. Portanto, preferimos adiar os planos de publicidade no YouTube e na televisão, pois entendemos como um desperdício de recursos neste momento.
Já no bloco de investimentos, continuamos acelerados, ao passo que mantemos nosso plano de lojas físicas, aberturas de hubs logísticos para otimizar a eficiência, além dos aportes em tecnologia.
Money Times — Como a Mobly Log, responsável por mais de 50% das entregas, tem lidado com a alta dos combustíveis? Pesa mais para o consumidor ou para o acionista?
Noda — Dentro da Mobly Log, conseguimos controlar melhor os aumentos de custos, o que é umas das vantagens de ter pouco mais da metade das nossas entregas feitas pela nossa própria empresa. Mantemos também negociações diretas com as transportadoras, mas, de fato, estamos colocando nos preços dos produtos o aumento dos combustíveis. É uma preocupação que obviamente afeta todo mundo.
Money Times — Como vai a reta final de 2021?
Noda — Já notamos outubro levemente acima do ano passado, mas, até o momento em novembro, estamos rodando 15% acima do observado em 2020. Vemos uma recuperação muito mais como um reflexo da estabilização do mercado. O e-commerce parou de cair.
Money Times — Quais são as expectativas com a Black Friday, diante da alta da inflação?
Noda — A disparada dos preços afeta consideravelmente os negócios da Mobly, tanto de forma direta, com o aumento de custos das matérias-primas e mercadorias, quanto indiretamente a nossa base consumidora, com perfil classe média baixa. Apesar de uma disponibilidade menor de dinheiro a ser gasto, quando olhamos para pesquisas de intenção de compra dos consumidores na Black Friday, estamos acima do ano passado, com 65% ante 50%, respectivamente. Tudo indica que teremos uma edição muito melhor agora.
Veja o relatório de resultados da Mobly.