Banco Central

Entrevista: Nomes para 2018 vestem figurino liberal (e isso é bom), diz Gustavo Franco

22 nov 2017, 18:30 - atualizado em 22 nov 2017, 18:44

Seja original ou falsificado, o figurino liberal cai bem para ajustar a silhueta fiscal do Brasil. Na economia, o ideal pró-mercado caminha para virar consenso nas eleições de 2018, avalia o ex-presidente do Banco Central (1997-1999), Gustavo Franco.

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“É muito bom ter esse consenso em torno das medidas corretas no tocante ao fiscal e às reformas e é muito provável que a eleição traga uma liderança melhor ao Brasil, mas não dá para ter certeza”, disse o sócio-fundador da gestora Rio Bravo Investimentos em entrevista nesta quarta-feira (22) ao Money Times, por telefone.

O economista, que participou da formulação do Plano Real (1994), elogia o fiapo de esperança em prol de uma versão enxuta da reforma da Previdência ainda antes do apagar das luzes de 2017. “É um assunto para revisar constantemente. É bom que alguma coisa seja possível fazer agora, muita gente já estava dando como totalmente perdido. Felizmente, não.”

Em setembro, Franco se desfiliou do PSDB e migrou para o Novo, onde preside a Fundação Novo, sendo responsável pela criação do programa de governo do partido para 2018. No sábado (18), o Novo anunciou o empresário João Amoêdo, um dos fundadores da sigla, como pré-candidato à Presidência no ano que vem.

O ex-BC, que também foi secretário-adjunto de política econômica do Ministério da Fazenda, é autor de 14 livros publicados. Na quinta-feira (23), na Livraria Travessa do Shopping Leblon, no Rio de Janeiro, e na próxima quarta-feira (29), na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi, em São Paulo, ele lança seu novo livro “A moeda e a lei”, de subtítulo “Uma história monetária brasileira (1933-2013)”.

Segundo Franco, “o livro resulta de um curso que organizei na PUC para os estudantes de economia, com vistas a ensinar que em Brasília os economistas precisam ser um pouco advogados senão eles não conseguem fazer nada. As medidas econômicas, as ditas reformas, tudo isso são ações que ocorrem dentro do universo das leis. O experimento do curso é, inclusive, contar a história monetária-cambial-bancária e do Banco Central do Brasil, a partir do texto das leis. É uma abordagem diferente ao que normalmente os alunos de economia estão expostos. A economia está ficando uma coisa cada vez mais matemática e aí tem um pouco de tira-los da zona do conforto e colocar em contato com o juridiquês da lei”.

Leia, a seguir, outros trechos da conversa:

Caminhamos para uma eleição presidencial. Há o discurso da necessidade de um candidato que prossiga nas reformas. Na sua visão, em quais reformas o próximo governo deveria focar?

Há duas grandes áreas aonde é preciso trabalhar. A primeira tem a ver com o custo do capital, taxa de juros em termos fiscais. E a segunda é produtividade, quanto se produz a partir de determinado esforço/hora de trabalho de gente. Creio que dá para dividir tudo nessas duas áreas. Na primeira, para termos taxas de juros civilizadas e disponibilidade de capital para todo mundo empreender, precisa arrumar o fiscal. Ontem [terça-feira, 21], a divulgação do relatório do Banco Mundial preenche uma lacuna importante.

Todo mundo fala em recuperar o superávit primário, que é um consenso, e então vem a pergunta ‘mas aonde cortar se é que nós vamos trabalhar com corte de gastos e não aumento de impostos?’. O relatório fornece essa resposta que deixa muito claro que tem muito para cortar dentro do gasto público. Portanto, tem ali uma agenda enorme bem delineada do que tem que fazer do ponto de vista da administração pública. Isso é uma família de reformas (administrativa, previdenciária, federativa, orçamentária), corte de gastos e privatizações. Em um segundo bloco de coisas para fazer pertinentes à produtividade, a principal coisa talvez seja a abertura da economia, mas também com destaque à legislação trabalhista e essa pauta de pequenas coisas importantes para melhorar o ambiente de negócios brasileiro. Esse é o roteiro.

No mercado de juros futuros, as taxas com vencimento mais distante têm acumulado prêmios de risco em virtude de incertezas, sobretudo no ajuste fiscal. A taxa Selic baixa por um longo período está sob ameaça?

Sim. Para que isso seja duradouro, com juros ainda mais baixos, é preciso atacar mais decisivamente o problema fiscal. O nível de endividamento está muito alto e é preciso ter uma política em relação a isso. É preciso recuperar o superávit primário, não há escapatória de arrumar a casa do ponto vista financeiro e fiscal. O mercado reflete os temores e as dificuldades que todo mundo vê para enfrentar esse problema.

A versão enxuta da reforma da Previdência é motivo de comemoração?

Acho que é seguramente bom. Mesmo a reforma inteira, esta que foi formulada, não era uma solução definitiva do problema. O assunto Previdência é para ser revisitado muitas vezes ao longo dos próximos anos. Não se trata de uma bala de prata. A Previdência é um assunto para revisar constantemente. É assim que funciona. É bom que alguma coisa seja possível fazer agora, muita gente já estava dando como totalmente perdido. Felizmente, não.

O senhor está na plataforma do Novo e, eventualmente, poderá estar em breve disputando uma corrida eleitoral ‘contra’ uma outra candidatura apoiada Arminio Fraga e/ou, quem sabe, enfrentando o próprio Henrique Meirelles. O consenso sobre a economia na eleição de 2018 está amadurecido?

De certa maneira, sim. É bom que não apenas esses candidatos que são, digamos, ‘crentes’, acreditam nessas coisas e estão no jogo – e isso é muito bom -, como também tem muitos políticos que nunca tiveram nenhuma afinidade com as ideias liberais e de responsabilidade fiscal que hoje adotaram esse figurino como se acreditassem nisso desde criancinha. O que é muito bom, ainda que seja falsificado. Enfim, há o liberalismo escocês e o liberalismo de outras nacionalidades. Todos são bem-vindos neste momento.

Avançam as lideranças pró-mercado nos partidos como um aprendizado após a ‘nova matriz econômica’?

Pois é, a começar pelo próprio governo do PMDB que não tem nenhuma tradição liberal nem nunca esteve ligado a grandes agendas de responsabilidade fiscal, privatizações. No entanto, o governo Temer tem atuado em várias áreas dessas, o que é muito bom.

Sua carta de desfiliação ao PSDB e entrada no Novo colocou definitivamente o Novo no jogo. Olhando à frente, em um eventual segundo turno da corrida presidencial, o senhor trabalharia com quem?

Meu pensamento no segundo turno é continuar a trabalhar com João Amoêdo.

O senhor crê na tese do outsider, o não-político?

Acredito sim. É possível. Não é fácil, mas é uma corrida presidencial aberta onde existe uma enorme demanda pelo novo, exatamente nesses termos. As pessoas, inclusive, empregam a palavra ‘novo’ com muita frequência. Pois bem, existe um Partido Novo que se formou a partir dessa ansiedade e ele tem uma chance, como outros. Já aconteceu no Brasil de candidatos de partidos recentes, sem tanta tradição, que foram bem em eleições majoritárias. Então por que não? É um ambiente de rejeição da política tradicional como eu nunca vi.

É também um ambiente muito diferente do ponto de vista do impacto das redes sociais e da internet na vida das pessoas. É um momento único também onde o celular está na mão de cada brasileiro e é pelo celular que a maior parte das pessoas jovens tem o seu noticiário, mais do que pela televisão. São vários elementos que dão um caráter diferente a essa eleição de agora. É muito difícil fazer prognósticos, o que temos de fazer é seguir o caminho nosso da verdade, do que acreditamos e vamos ver o tamanho disso. Eu suponho que seja maior do que a gente está pensando.

Qual é o seu sentimento sobre a possibilidade de realmente avançarmos com a agenda de sustentabilidade fiscal, abertura da economia e competitividade?

Eu estou otimista, mas estou cauteloso também, não dá para ser ingênuo com relação a isso. É muito bom ter esse consenso em torno das medidas corretas no tocante ao fiscal e às reformas e é muito provável que a eleição traga uma liderança melhor ao Brasil, mas não dá para ter certeza. Então vamos trabalhar, mas infelizmente não há certezas.

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