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Entrevista: Nespresso quer neutralizar pegada de carbono da fazenda ao pós-vida da cápsula

02 jun 2021, 16:07 - atualizado em 02 jun 2021, 18:02
Guilherme Amado Nespresso
“Hoje a qualidade da saca do café é o que proporciona o maior retorno”, comenta Guilherme Amado, especialista em qualidade sustentável da Nespresso (Imagem: Divulgação/Nespresso Brasil)

O cafezinho já é uma paixão nacional do brasileiro, e agora o segmento de cafés especiais (que atendem a avaliação sensorial objetiva conhecida como SCAA Cupping Method, com avaliação entre 80 a 100 pontos) também está entre os novos hábitos de consumo no País.

“Hoje a qualidade da saca do café é o que proporciona o maior retorno”, comenta o líder em qualidade sustentável da Nespresso Brasil.

O nicho do café especial é totalmente novo no país, mas o fato de agregar valor ao produto e por haver uma procura maior, pelo consumidor, por cafés diferenciados, faz com que esse mercado tenha um grande potencial de expansão, aponta pesquisa elaborada pelo Sebrae.

Cerca de 52% dos profissionais da cadeia produtiva do café especial no Brasil estão há no máximo cinco anos nesse ramo, segundo a pesquisa.

Ao mesmo tempo, a pandemia de Covid-19 bagunçou um pouco o viés de crescimento, quebrando a sociabilidade que a bebida proporciona nas cafeterias, mas aquelas que já estavam no e-commerce – e muitas que entraram forçadas no delivery –, estão se mantendo, segundo a Associação Brasileira de Cafés Especiais.

Com 15 anos de experiência no mercado de café, o especialista em qualidade sustentável da Nespresso, Guilherme Amado, conversou com o Agro Times sobre os principais impactos da pandemia sobre a commodity, hábitos de consumo, situação na Colômbia, expectativa para safra brasileira e a importância da pauta ESG.

O Brasil é hoje o maior produtor de café verde do mundo, segundo líder em qualidade sustentável da Nespresso (Imagem: Divulgação/Nespresso Brasil)

O executivo coordena o programa de relacionamento da Nespresso com fazendas cafeicultoras no Brasil e no Havaí (EUA). Segundo Amado, o nosso país é hoje o maior produtor de café verde do mundo.

Confira a seguir os principais trechos da entrevista:

Money Times: Como a pandemia afetou o café enquanto commodity?

Guilherme Amado: Tanto o cenário climático, quanto o especulativo [muito influenciado pela pandemia] levaram as cotações das sacas de café dispararem nos mercados. Nós vínhamos de um rali de quatro anos de preços baixos da commodity.

O valor de referência na Bolsa de Nova York (NYSE) era em torno de US$ 90 a US$ 100 por saca de café, até que foi ultrapassada a marca de US$ 160 por saca no final de maio.

Fora que a variação cambial também contribui com a cadeia cafeeira, ao passo que a commodity é indexada ao dólar. A exportação traz um importante benefício, mas é preciso equalizar com todos os custos de produção como, por exemplo, os fertilizantes que em maioria são importados pelo Brasil.

Em meio à especulação dos mercados, a cotação do café disparou de US$ 90 a US$ 160 na NYSE, após quatro anos de um rali de preços baixos (Imagem: Reuters/Brendan McDermid)

Money Times: Como a Nespresso tem lidado com o novo normal? Tem observado alguma mudança no comportamento do consumidor de café?

Guilherme Amado: É óbvio que houve impacto na forma como as pessoas tomam café. Os profissionais costumam dividir os setores entre cafés consumidos dentro de casa e fora de casa, e observamos uma grande ruptura no último segmento.

Restaurantes, cafeterias e baristas, sobretudo, sofreram bastante com o contexto da pandemia, e são tidos como nossos parceiros na Nespresso, tanto que relançamos em 2021 a campanha Adote Um Restaurante, por meio da venda de vouchers com descontos utilizados pelos consumidores quando os estabelecimentos puderem voltar a abrir as suas portas. A expectativa é investir R$ 1,6 milhão, cifra que pode alcançar até R$ 3,2 milhões dependendo da adesão das pessoas.

Por outro, a constatamos um aumento exponencial no consumo em lar, eu mesmo sou um exemplo desse movimento. Em meio à pandemia, a Nespresso teve crescimento orgânico de 7%, ou seja, houve aumento no consumo de cafés tanto na operação global quanto no Brasil, e que está presente nos resultados da Nestlé em 2020.

Money Times: Quais impactos a crise na Colômbia, importante exportador, acarretam aos volumes de cafés especiais?

Guilherme Amado: Temos acompanhado a crise Colômbia, e não é a primeira vez que acontece essa situação por lá, e a preocupação da Nespresso resvala na questão logística. É difícil prever o que pode acontecer ou mensurar os impactos do país vizinho aqui.

Trazendo para o cenário nacional, e traçando um paralelo interessante ao tema na Colômbia, foi o que aconteceu no Brasil em 2018 com a greve dos caminhoneiros. Um evento externo às operações do café, mas que com a interrupção logística, o pessoal de supply chain [profissionais que lidam com a cadeia logística] precisa lidar com todos os cenários possíveis.

Money Times: Qual é expectativa para a safra brasileira de café desse ano em meio ao déficit de chuvas?

Guilherme Amado: Em relação à exportação de café, o cenário foi bastante positivo em 2020. E neste ano, já estamos em período de colheita do café, e conforme os números da Conab [Companhia Nacional de Abastecimento] na semana passada, teremos 49 milhões de sacas ante 60 milhões no ano passado.

Ou seja, uma safra menor, mas ainda em linha com as tendências dos mercados, principalmente puxado pelo arábica, diante da bi anualidade (uma safra alta e uma baixa). Mas ainda é cedo para avaliarmos os reais impactos devido às questões climáticas na época de florada, que podem ter afetado a qualidade dos grãos.

Money Times: Hoje, 100% dos cafés Nespresso adquiridos no Brasil são sustentáveis. Qual a importância da pauta ESG e até onde a Nespresso quer chegar nesse sentido?

Guilherme Amado: A Nespresso quer liderar essa agenda, e só aqui no Brasil já temos um trabalho ambiental há quinze anos. Quando se fala em cafés sustentáveis é interessante dar um passo atrás e explicar: 100% dos cafés que compramos no Brasil veem de fazendas que fazem parte de um programa pautado em três pilares: qualidade do café, sustentabilidade e produtividade, integradas a ferramentas de certificação e verificação.

O conceito ESG vem de encontro com as práticas adotas pela Nespresso, em que já olhamos para os próximos dez anos. A Nespresso firmou o compromisso de zerar toda a pegada de carbono das operações até o próximo ano, o primeiro anúncio da nossa estratégia, que é bastante ambicioso. E quando falo de neutralização total da pegada de carbono, diz respeito à toda a cadeia, ou seja, desde à fazenda até ao pós vida da cápsula.