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Entrevista: “Montadoras ainda são ponto de interrogação”, afirma diretor financeiro da Movida

04 maio 2021, 15:51 - atualizado em 02 jun 2021, 0:18
Edmar Lopes
“Existem inúmeros fatores que mostram que a empresa está absolutamente pronta para retomada de um crescimento mais forte”, afirma o executivo (Imagem: Divulgação/Movida)

O primeiro trimestre de 2021 mostrou aquilo que muitos analistas afirmavam: as empresas de aluguéis de carros deixaram a pandemia para trás e agora se preparam para consolidar o seu crescimento.

Entre elas, a Movida (MOVI3), terceira maior do setor, se destaca. A companhia viu o seu lucro líquido saltar 98,7%, para R$ 109,5 milhões, ante mesmo período do ano passado. Além disso, terminou o período com uma boa posição de caixa de R$ 3 bilhões. 

“Existem inúmeros fatores que mostram que a empresa está absolutamente pronta para retomada de um crescimento mais forte quando nós saímos dessa nova onda de pandemia”, afirma o diretor financeiro e de relações com investidores da Movida, Edmar Lopes, em conversa com o Money Times.

Apesar disso, a Covid prejudicou o outro lado do balcão, ou seja, as montadoras: falta de chips e de suprimentos deram um “nó” na cadeia produtiva de veículos no mundo inteiro. Também houve a paralisação da produção devido à alta de casos aqui no Brasil. Isso fez com que o setor diminuísse o ritmo de produção e a entrega de novos veículos. 

“Eu digo que é um ponto de interrogação a questão das montadoras, que estão sofrendo bastante na sua cadeia de suprimentos e da necessidade delas fecharem durante a quarentena”, argumenta. 

A menor entrega de carros, somado à questões de sazonalidades, fizeram com que as receitas de seminovos despencassem 51% por conta da redução de 62% no número de carros vendidos, para 5,3 mil, mas parcialmente compensado pelo aumento de 29% no preço médio dos veículos.

Mesmo assim, ele lembra que a empresa cumpriu com o projetado, acionando 13 mil carros novos em sua frota. 

“Tínhamos uma expectativa já calibrada para um risco. Para o segundo trimestre, a nossa expectativa é receber mais carros. Quantos? Não sei, vai depender dos próximos meses”, observa. 

Movida
Segundo cálculos do BTG Pactual, a companhia está com desconto de 40% considerando o múltiplo de preço sobre o lucro (Imagem: YouTube/Movida Aluguel de Carros)

Ações baratas?

Apesar do salto no lucro visto nos últimos meses, as ações da Movida acumulam tombo de cerca de 13% em 2021. Mas isso não foi suficiente para diminuir o otimismo dos analistas.

Segundo cálculos do BTG Pactual, a companhia está com desconto de 40% considerando o múltiplo de preço sobre o lucro (P/L) de suas rivais Unidas (LCAM3) e Localiza (RENT3). 

“Conforme comprovado pela recuperação mais rápida do que o esperado, sua história de crescimento de longo prazo está bastante intacta, combinando expansão da frota e melhor execução para fechar o gap em relação a seus principais pares”, pontua a corretora.

Já a Ágora vê potencial de alta de 73%, com preço-alvo em R$ 30.

De acordo com Edmar, a queda tem muito mais haver com questões macroeconômicas, como a curva de juros futuro, que está em alta.

“Para o nosso negócio, é importante a curva de juros, porque nós somos um setor intensivo em capital. Além disso, há a incerteza do Brasil e a própria incerteza de fornecimento de carros. Se eu recebo menos carros, também cresço menos. Não é nada fora da curva que nesse momento tenha alguma cautela em relação a nossa expansão”, explica. 

Indústria Carros Setor Automotivo Montadoras
Montadoras também estão de olho no mercado de aluguéis de carros (Imagem: Reuters/Andreas Gebert)

Concorrência boa

De olho no crescimento do mercado de aluguel de carros, as montadoras também se interessam em ter locadoras para chamar de suas. No começo do ano, a Renault anunciou o Renault On Demand, o plano de assinatura de veículos da fabricante francesa. Outras marcas como Toyota, Volkswagen e Fiat também já embarcaram na onda. 

Edmar vê o movimento com ceticismo. Para ele, o mercado exige escala e portfólio variado, algo que as montadoras podem ter dificuldades em oferecer.

“Tem dois anos que a Toyota anunciou que entraria nesse negócio de aluguel de carro e não virou nada grande. Porque precisa tomar conta do cliente, ter capilaridade e um portfólio. Eu acho difícil as montadoras colocarem muito dinheiro nesse negócio”, fala.

Mesmo assim, o executivo analisa com bons olhos a movimentação. 

“Temos uma visão positiva em relação à concorrência, obriga todo mundo a ser mais eficiente. O conjunto delas pode ser relevante, mas o mercado é muito grande. Tem oportunidade para todo mundo. (O movimento) chama atenção do produto e mostra a competição”, aponta. 

Sobre a fusão das concorrentes Unidas e Localiza, que criará uma gigante com 70% do mercado, Edmar se limitou a dizer que a empresa mudou de ideia em relação ao negócio. Em março, a companhia pediu ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) que reprove a fusão. 

Para o pós-pandemia, a empresa espera que outras demandas voltem a crescer (Imagem: Divulgação/Movida)

Futuro do carro

O segmento de aluguel de automóveis veio para ficar? Na opinião dele, a pandemia fortaleceu o carro, mais seguro ao vírus em relação a outros meios de transportes, como ônibus e aviões. 

“Eu digo que o carro saiu da pandemia mais forte do que entrou. Todas essas novas demandas assistimos consistentemente há 9 meses, 6 meses”, afirma, citando o aluguel por assinatura, que se consolidou nos últimos anos com os novos hábitos do consumidor.

Para o pós-pandemia, a empresa espera que outras demandas voltem a crescer. 

“Tem o passageiro do aeroporto, que era 25% da nossa demanda e que praticamente desapareceu. Eu tenho uma porção de demandas que simplesmente deixaram de existir e isso vai voltar”, completa. 

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