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China tem mais oportunidades de investimentos e negócios do que riscos, diz novo colunista do Money Times

11 set 2022, 15:00 - atualizado em 10 set 2022, 6:54
China
Novo colunista do Money Times, Robert Lawrence Kuhn, fala sobre política e economia na China para tomada de decisão de investimentos e negócios (Imagem: REUTERS/Tingshu Wang)

Robert Lawrence Kuhn é um renomado especialista em China e será colunista do Money Times a partir deste mês. O estrategista de investimentos tem um longo trabalho de três décadas envolvendo as relações do restante do mundo com o país asiático.

Tal empenho rendeu a ele a “Medalha da Amizade para a Reforma da China”, em 2018, reconhecendo a influência em proporcionar uma retrato mais detalhado e diversificado sobre a China.

Nesta entrevista exclusiva ao Money Times, o renomado especialista insere sua visão chinesa ao falar sobre investimentos e negócios para o investidor brasileiro. Segundo ele, é preciso apreciar tanto as oportunidades quanto os riscos. Afinal, ambos são reais, mas as primeiras superam os últimos. 

Para Kuhn, os melhores investimentos devem ser analisados considerando-se as políticas de governo, como os planos quinquenais e a “prosperidade comum”. E é aí que é preciso estar atento a intervenções “ideologicamente orientadas”, como ocorreu com as big techs e no setor de educação.

Consultor corporativo internacional, Kuhn também fala sobre os benefícios em fazer negócios com a China. E aí o recado é claro: negócios são negócios. Para ele, as empresas brasileiras devem ser competitivas em seus nichos e as oportunidades, quando surgem, podem ser substanciais. 

De qualquer forma, a China – assim como o Brasil – não é para amadores. Para o investidor que considera alocar recursos na segunda maior economia do mundo, é essencial aprender bastante sobre o país asiático. E a coluna mensal de Robert Lawrence Kuhn no Money Times irá ajudar a desvendar esse enigma chinês. 

Money Times: Como os investidores devem olhar para a China em termos de investimento?

Os investidores que procuram a China para diversificar seus investimentos e participar da segunda maior economia do mundo, que provavelmente irá se tornar a maior do mundo, precisam apreciar tanto as oportunidades quanto os riscos.

As oportunidades singulares da China exigem que os investidores avaliem o alinhamento das empresas públicas com as políticas governamentais, especialmente as políticas adotadas pelo presidente Xi Jinping, que pretende continuar como líder da China no futuro indefinido, talvez por 15 anos ou mais. Isso inclui tecnologias priorizadas conforme estabelecido nos planos quinquenais, como inteligência artificial (AI), tecnologia da informação (TI), biotecnologia, saúde, energia verde, recursos hídricos, novas matérias-primas, indústrias marítimas e até esportes de massa. Além disso, políticas que rastreiam a “prosperidade comum”, que busca melhorar os padrões de vida nas áreas rurais, como a telemedicina e o ensino à distância.

Dito isso, os investidores precisam assumir os riscos, incluindo envelhecimento e encolhimento demográfico, dívida elevada, degradação ambiental, tensões e sanções internacionais e, especialmente, intervenções governamentais ideologicamente orientadas na economia de mercado. Este último pode ser repentino, inesperado e irrecorrível. Os investidores nas empresas de tecnologia de plataforma da China sofreram perdas substanciais e os investidores na indústria de tutoria educacional, outrora em alta, sofreram perdas quase totais. Além disso, pode haver risco empresarial específico para empresas não estatais proeminentes que são controladas por empreendedores de alto nível.

As oportunidades são reais, mas os riscos também. As oportunidades superam os riscos? Sim.

Money Times: Onde estão as melhores oportunidades de investimento na China?

Os melhores investimentos devem sempre ser analisados ​​em termos de potencial de médio ou longo prazo em relação aos preços atuais. As indústrias listadas acima são de alto crescimento com certeza, mas avaliar o investimento requer conhecimento detalhado de empresas específicas. Também existem oportunidades de investimento no outro extremo da escala, especialmente em imobiliárias problemáticas – mas essas são repletas de alta incerteza, incluindo a possibilidade de intervenção governamental disruptiva.

Money Times: E onde estão as melhores oportunidades de negócios na China?

As oportunidades de negócios na China são mais desafiadoras para as empresas brasileiras, mas as oportunidades, quando surgem, podem ser substanciais. A China busca aumentar os laços econômicos e geopolíticos de longo prazo com o Brasil, mas, considerando as assimetrias comerciais, com o Brasil exportando para a China commodities enquanto a exportação da China de produtos manufaturados sofisticados para o Brasil está aumentando, é uma receita para fratura, se não ruptura. 

Portanto, a China verá com bons olhos as empresas brasileiras que entram no mercado chinês, mas elas devem ser competitivas em seus nichos. Dito isso, fazer negócios na China, especialmente negócios sérios, requer um senso especial de princípios e políticas governamentais, particularmente os do presidente Xi Jinping, que provavelmente será o líder sênior sem oposição por muito tempo.

Nos últimos 15 anos, trabalhei com cerca de uma dúzia das principais corporações multinacionais do mundo fazendo negócios na China. Eu uso o que chamo de “Quadro Estratégico Político” e trabalho diretamente com os CEOs. A partir dessa perspectiva única, mostro como as empresas estrangeiras podem se alinhar às políticas atuais e futuras, sem alterar suas ofertas de produtos e serviços, embora muitas vezes mudem o método e o estilo de apresentação. O alinhamento é fundamental para que os funcionários ou executivos com quem uma empresa trabalha vejam o sucesso da empresa como seu sucesso, mesmo além dos benefícios comerciais específicos.

Money Times: O que os investidores devem considerar ao tomar uma decisão de investimento em ativos chineses?

Se houver investimentos financeiros passivos, invista por meio de fundos ou consultores locais respeitáveis. Não há como os estrangeiros enganarem os locais, especialmente na China. Cuidado com as fraudes! Se houver investimentos comerciais ativos, trabalhe com consultores que conheçam o cenário político-econômico.

Money Times: Por que é importante falar sobre a China para um site de investimentos no Brasil?

O PIB da China, ajustado pela paridade do poder de compra, cresceu de 1-2% do PIB mundial total de zero a 50 anos atrás para quase 19% hoje e está projetado para exceder 20% em 2027. Além disso, o PIB nominal da China provavelmente excederá o dos EUA, talvez por volta de 2030. Os investidores que buscam diversificação em um mundo volátil precisam de exposição aos ativos chineses.

Money Times: E o que mais se pode dizer sobre China ao nosso leitor, que é também investidor?

Para os investidores que consideram seriamente a China, é essencial aprender bastante sobre a China, para que as políticas atuais e as mudanças nas políticas possam ser compreendidas no contexto, muitas vezes necessárias de forma repentina.

As empresas, principalmente, precisam saber como fazer negócios na China. Em um nível, negócios são negócios. Por outro lado, existem diferenças radicais em fazer negócios sérios na China. O mais importante é apreciar a natureza do sistema político e como isso afeta a estratégia e o posicionamento dos negócios.

Além disso, a proteção legal em geral e os direitos de propriedade intelectual em particular podem diferir daquelas no Brasil. Embora a China tenha feito melhorias substanciais, ainda existem desafios, bem como maneiras de enfrentar esses desafios.

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