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Entrevista: Loja física ainda é o centro da estratégia da Panvel, diz diretor financeiro

29 jun 2021, 13:27 - atualizado em 03 jul 2021, 16:21
Panvel PNVL3
Para a Panvel, ter uma boa estrutura das operações físicas é fundamental para o sucesso do e-commerce (Imagem: Divulgação/Panvel)

A digitalização das operações virou uma das principais estratégias das empresas na pandemia. Com o consumidor migrando do físico para o online, os varejistas tiveram que pensar rápido para se adaptar à nova realidade, contribuindo para a expansão do e-commerce brasileiro no último ano.

No entanto, há nomes que continuam apostando forte nas operações físicas. Em meio à ascensão dos grandes marketplaces, como Magazine Luiza (MGLU3), B2W (BTOW3) e Amazon, a Panvel (PNVL3; PNVL4) enxerga grandes oportunidades de crescimento via expansão de lojas.

Antônio Napp, diretor financeiro do Grupo Dimed, dono da rede de farmácias gaúcha, contou em entrevista para o Money Times que o espaço físico segue no centro da estratégia da companhia – e deve continuar assim por mais um tempo.

Além de melhorar a experiência no app, criar mais modalidades de pagamento, acelerar nossa entrega, que não são coisas simples de fazer, mas conceitualmente são mais óbvias, o que eu gostaria de reforçar e que a gente não pode esquecer é que tem uma loja operando. E esse é um conceito que, quando falamos de e-commerce, não deixamos tão claro”, disse o executivo.

Segundo Napp, especialmente para o varejo farmacêutico, ter uma boa estrutura das operações físicas é fundamental para o sucesso do e-commerce.

“Eu preciso de uma loja física bem localizada, com estoque adequado, bom atendimento, número correto de funcionários e bem operada para justamente fazer com que minha entrega de última milha, minha entrega do e-commerce, funcione”, defendeu. “Não podemos esquecer da loja física. A loja física é nossa chave, nosso core de negócio. É por meio da loja física que nosso e-commerce funciona de uma maneira tão eficiente e se diferencia”.

A companhia fechou o primeiro trimestre de 2021 com 477 lojas em funcionamento, 27 unidades a mais em relação ao mesmo período de 2020. Para o ano, a Panvel tem a meta de abrir 65 novas lojas, em linha com seu plano de expansão de longo prazo na região Sul.

Bem preparada

Embora o planejamento estratégico da Panvel esteja focado em crescer de forma orgânica, com foco na expansão das lojas, a empresa tem se mostrado bastante ativa em aprimorar os canais digitais.

Esse movimento não é recente. A companhia investe há décadas (desde os anos 1980, com a criação do Alô Panvel) em vendas remotas integradas às operações físicas.

“Nós realmente acreditamos que o cliente da farmácia […] é um cliente que deve comprar na nossa loja física, mas também na nossa loja virtual. E a gente investe pesado na digitalização desse cliente”, afirmou Napp.

Antônio Napp, diretor financeiro do Grupo Dimed-Panvel
Antônio Napp, diretor financeiro do Grupo Dimed (Imagem: Divulgação/Panvel)

Essa linha de pensamento, além de fidelizar o cliente, permitiu à Panvel criar uma espécie de “defesa” contra a crise atual. Quando o coronavírus chegou ao Brasil, a companhia se viu bem preparada para enfrentar o cenário adverso.

“A gente sempre fala: a pandemia acelerou muita coisa, mas a visão de negócio é pré-pandemia. A pandemia nos pegou bem preparados”, acrescentou.

Napp contou que os canais digitais tiveram um papel importante para amortecer a queda nas vendas das lojas físicas, em especial no segundo e terceiro trimestres do ano passado. No primeiro trimestre de 2021, o e-commerce da Panvel passou a representar 15,3% das vendas totais no varejo.

A expectativa da companhia é de encerrar 2021, ano de forte recuperação de vendas, com a participação do e-commerce estável em 15%. A partir de 2022, esse percentual deve crescer, chegando perto de 20% nos próximos anos.

Divulgação Panvel
Com o marketplace, além de aprofundar linhas já existentes, a Panvel pretende trabalhar com novos produtos voltados a saúde e bem-estar que não estão disponíveis em suas lojas (Imagem: Divulgação/Panvel)

A Panvel está atualmente desenvolvendo seu marketplace, com início das operações previsto para ano que vem. A ideia é lançar uma plataforma que seja complementar à atual estratégia digital da companhia. Com o martketplace, a companhia quer ampliar a gama de produtos disponíveis ao cliente.

“A gente pretende, por meio do marketplace, do trabalho de cauda longa, ampliar o número de SKUs [Stock Keeping Unit, ou Unidade de Manutenção de Estoque] com baixo investimento em estoque e permitir que o nosso cliente feche uma cesta mais completa de produtos”, afirmou Napp.

Além de aprofundar linhas já existentes, a Panvel pretende trabalhar com novos produtos voltados a saúde e bem-estar que não estão disponíveis em suas lojas – seja por falta de espaço ou porque é um mercado em que a empresa ainda não entrou. Segundo Napp, existe um universo muito amplo a ser explorado.

Diferencial

Questionado se a concorrência é uma preocupação para a Panvel, Napp comentou que o setor farmacêutico sempre viveu um cenário de competição acirrada.

“É um mercado ainda bastante fragmentado. Por um lado, nós temos os médios e os pequenos [negócios] historicamente com 50% desse mercado – ou seja, uma fatia bem grande – e as redes mais organizadas com outros 50%”, destacou o diretor financeiro. “Sabemos que os concorrentes vão continuar abrindo loja no nosso território, assim como nós vamos continuar abrindo loja, mas, quando a gente olha para esse mercado, em que 50% ainda estão na mão dos pequenos e médios, o espaço é muito grande”.

Além das farmácias, players de peso, como Magalu e Amazon, entraram no mercado para concorrer diretamente em higiene e beleza, oferecendo soluções bastante competitivas. O Magalu, por exemplo, anunciou recentemente o serviço de entregas em uma hora para algumas cidades.

No entanto, para a Panvel, existe uma forte barreira que ajuda as redes de farmácias em relação a esses grandes nomes. De acordo com Napp, as empresas do setor contam com alguns diferenciais que os marketplaces não conseguem ter. Um deles é a capilaridade.

“Os marketplaces podem ter estruturas muito fortes nas capitais e, eventualmente, em algumas cidades grandes, mas não vão investir em micro centros de distribuição em cada região, cada local do Brasil”, disse. “A capilaridade conversa com velocidade de entrega e conveniência. Isso os marketplaces não conseguem fazer. O marketplace pode ser agressivo numa promoção de preço, mas o consumidor – aquele nos itens de higiene e beleza que está muito mais preocupado com a reposição dos produtos – vai preferir os canais conhecidos, aquela loja que já está na esquina ou o app onde você pede e chega em 30 minutos na sua casa”.

“Faz diferença a velocidade e a qualidade da entrega, em especial para o nosso mercado. O mercado do varejo farmacêutico é muito vinculado com conveniência”, completou o executivo.

“Tesouro do Sul”

A Panvel é a microcap do momento. A empresa, considerada o “tesouro do Sul do país” pelo analista da Empiricus Max Bohm, está vivendo uma fase oportuna, com diversas vias de crescimento.

O bom momento vai além do plano agressivo de expansão de lojas da empresa. A Panvel recentemente apresentou à B3 (B3SA3) o pedido de migração das suas ações para negociação no Novo Mercado, nível mais alto de governança corporativa da Bolsa.

De acordo com Bohm, esse é um importante fator na tese de investimento da companhia, pois, para entrar no Novo Mercado, haverá uma simplificação acionária (a ação preferencial deixará de existir), contribuindo para a liquidez do papel ordinário.

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