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Entrevista: Light foca combate a “gatos” na rede e promete pente-fino contra fraudes

11 set 2019, 15:37 - atualizado em 11 set 2019, 15:37
energia elétrica
A nova presidente da Light disse que pretende implementar diversas medidas para iniciar uma redução gradual nas perdas (Imagem: Pixabay)

Responsável pela distribuição de eletricidade na região metropolitana do Rio de Janeiro, a Light terá como prioridade nos próximos anos o combate às chamadas perdas não-técnicas, mais conhecidas como “gatos” na rede elétrica, que têm crescido continuamente desde 2017, disse à Reuters a presidente da companhia, Ana Marta Horta Veloso.

As perdas com as ligações ilegais na rede representavam ao final de junho 51,89% do mercado de baixa tensão da elétrica, ou 7.136 GWh/ano, o que representa mais que o consumo de energia de todo o Estado do Espírito Santo, que tem quase 4 milhões de habitantes.

Embora o imaginário popular associe os “gatos” no Rio de Janeiro a favelas e áreas ocupadas por traficantes ou milícias, nas quais técnicos da Light mal ousam entrar, a empresa estima que 47% dessas ligações ocorrem em outras regiões, onde concentrará esforços, disse a executiva, que assumiu em maio a presidência da empresa, que já havia comandado no passado.

“É um problema de uma magnitude gigante. A boa notícia é que metade dele está localizado em áreas nas quais a gente consegue atuar. Isso é que é o foco de nossa gestão, como foi o foco da gestão anterior, quanto estive na companhia entre 2015 e 2017”, afirmou.

As perdas têm crescido desde março de 2017, quando representavam 37,5% do mercado de baixa tensão, mas aceleraram a partir da reta final de 2018 até ultrapassarem os 50% neste ano.

A nova presidente da Light disse que pretende implementar diversas medidas para iniciar uma redução gradual nas perdas, que no primeiro trimestre representavam 25,8% da carga-fio (total) atendida pela empresa.

“Podemos trabalhar na redução desse número em torno de 1 ponto percentual por ano nos próximos anos. A cada ponto de redução das perdas (totais), estaríamos agregando ao Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de nossa distribuidora quase 100 milhões de reais”, afirmou.

“Isso é algo que gera muito valor para a companhia”, destacou a executiva, pontuando que essa meta começará a ser perseguida tendo como base o mês de agosto.

Entre as ações previstas para atingir o objetivo, a companhia realizará um pente-fino sobre grandes clientes nas regiões que a Light chama de “áreas possíveis”, enquanto o meio de atuação nas “áreas de risco” ainda está em avaliação.

“Até o final de 2019 estamos fazendo uma varredura completa nos 60 mil maiores clientes da Light para verificar se há algum problema de fraude ou do medidor”, afirmou ela, acrescentando que a iniciativa já mostra resultados.

“Estamos achando o que a gente chama de ‘gato gordo’. São fábricas de gelo, mercados, hotéis, motéis, postos de gasolina”, apontou.

Ela afirmou ainda que estão previstos também alguns investimentos em modernização e blindagem de rede, além de medidores inteligentes, mas destacou que medidas de gestão são o foco do trabalho.

“Nosso plano é calcado em algum Capex (investimento) e medidas de gestão. Temos metas desdobradas desde executivos até o pessoal de ‘chão de fábrica’. Nossos terceirizados vão ser remunerados de acordo com resultado… é um choque de gestão.”

O trabalho será focado nas “áreas possíveis”, enquanto nas “de risco” a Light tem sentido até mesmo um aprofundamento dos problemas, com maior presença de armas, embora as perdas nessas regiões mantenham-se estáveis.

“Em áreas de risco, ou a gente atua de uma maneira muito criativa, o que ainda estamos estudando, ou não conseguimos atuar, porque a gente é recebido com um fuzil. Não dá para entrar.”

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Disputa com a prefeitura

Em meio à luta contra os “gatos” na rede elétrica, a Light foi acionada pela prefeitura municipal do Rio de Janeiro em ação civil pública que pede suspensão de cobranças junto aos consumidores por perdas relacionadas às fraudes, bem como devolução de valores cobrados no passado.

A Procuradoria Geral da cidade convocou clientes da elétrica a ingressarem na ação e disse que “identificou enriquecimento ilícito” da concessionária ao cobrar valores para compensar parte das perdas com gatos.

Pela regulação do setor elétrico, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) define para cada distribuidora o que seriam níveis “aceitáveis” de perdas na rede, que podem ter os custos repassados às tarifas, enquanto o que ultrapassa o limite gera prejuízos às elétricas.

“Como podemos ser acusados de enriquecimento ilícito se nos últimos cinco anos a empresa perdeu 1,6 bilhão de reais pela perda na ‘vida real’ estar acima da perda embutida na tarifa? E estamos gastando 360 milhões de reais por ano para combater esse problema”, disse Ana Marta.

“Nossa área de concessão é complexa… não tem nenhum tipo de tratamento tarifário especial para a Light, está super dentro da regra do regulador, que vale para todo mundo”, acrescentou ela.

Questionada sobre os argumentos da Light contra a ação coletiva, a prefeitura disse em nota que “a Justiça está ouvindo as partes antes de tomar uma posição”. Um pedido de liminar contra a elétrica já foi negado pela Justiça.

A Light presta serviços de distribuição em 31 municípios do Rio de Janeiro, com 4,5 milhões de clientes. A companhia opera ativos de geração com cerca de 1,15 gigawatt em capacidade por meio da subsidiária Light Energia.

A companhia tem como principal acionista a elétrica mineira Cemig, com 22,6% do capital, mas é desde julho uma corporação sem controlador definido, após a Cemig ter reduzido sua fatia anterior de quase 50% na empresa em meio a uma oferta pública de ações.