Entrevista exclusiva: Sabesp (SBSP3) ganha em gestão e governança com entrada da Equatorial, diz secretária
A Sabesp (SBSP3) assumiu os holofotes no último mês, com as últimas etapas da privatização da empresa de saneamento. No dia 23 de julho, a companhia tornou-se oficialmente uma ex-estatal, com a entrada da Equatorial (EQTL3) como acionista de referência.
Reconhecida pela sua experiência com gestão e governança, a Equatorial foi bem recebida pelo mercado e é apontada por Natália Resende, secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística e uma das responsáveis pelo processo de desestatização, como um ‘bom casamento’.
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Em entrevista ao Money Times, Resende esclareceu que, apesar da falta de experiência no setor de saneamento (a Equatorial possui uma única concessão, no estado de Amapá, arrematada em 2021), isso não é um problema, tendo em vista que a Sabesp já possui a expertise necessária em saneamento.
Vale lembrar que preço pago pela Equatorial foi de R$ 67, um desconto na ordem de 30% em relação aos preços atuais, o que alimentou a tese de que o governo entregou de ‘bandeja’ uma empresa considerada bem tocada e que lucrou R$ 3,5 bilhões em 2023.
Mas a secretária rebateu as críticas de que o governo “deixou dinheiro na mesa” na privatização, como você pode ler na primeira parte da entrevista ao Money Times.
Ela reconhece, no entanto, que a Sabesp precisa de uma empresa que acrescente melhorias em gestão e governança, o que a Equatorial é capaz de entregar.
“Esse ‘casamento’ vai ser ótimo para o saneamento, porque vai unir a gestão, a governança e esse acesso ao mercado de capitais em que a Equatorial é ótima com a expertise que a Sabesp tem em saneamento”.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
Money Times: A Equatorial tem boa experiência em concessão de energia elétrica, mas pouca em saneamento. Isso preocupa o governo de SP?
Natália Resende: Nós estamos confiantes. A Equatorial é reconhecidamente muito boa em gestão, ótima de governança, e tem muito acesso ao mercado de capital. Para fazer investimentos isso é muito importante.
Por outro lado, uma coisa que sempre falamos é que a Sabesp é a nossa operadora de saneamento, porque temos um corpo técnico muito qualificado. Então, a expertise para saneamento nós já temos.
Por isso, sempre falamos que não precisávamos necessariamente de um acionista de referência de saneamento, porque a Sabesp é a nossa operadora e vai continuar sendo.
Agora, na parte de gestão e de governança precisamos, sim, melhorar. Precisamos de alguém que tenha esse perfil para nos ajudar, e a Equatorial tem.
Esse “casamento” vai ser ótimo para o saneamento, porque vai unir a gestão, a governança e esse acesso ao mercado de capitais em que a Equatorial é ótima com a expertise que a Sabesp tem em saneamento.
Acredito que vai ser ótimo para o saneamento do Estado de São Paulo e para o saneamento do Brasil.
Money Times: O modelo da Sabesp pode ser uma referência para privatizações no Brasil?
Natália Resende: Eu acho que sim, e em vários aspectos. Várias pessoas já nos procuram para entender, saber como é e para recomendar para outros lugares também.
Um primeiro aspecto é o aspecto regulatório, contratual e de governança. Tínhamos 375 contratos e, tirando Olímpia que é outra forma que não está na URAE, de 374, tivemos a adesão de 371. Foi praticamente unanimidade e voluntário, porque fomos construindo um a um com os prefeitos.
Nós transformamos em um único contrato, com 371 anexos, para ver as especificidades de cada município e ficar bem organizado, com prazo até 2060. Isso gera um valor imenso para todo mundo: para a empresa, para o usuário, para o Estado, para os municípios, porque existe uma melhor gestão do contrato.
Colocamos também uma regulação que dá uma previsibilidade e um alinhamento de incentivos muito grande para fazer investimento.
A governança que criamos para poder melhorar a lógica e a organização dos chamados poderes concedentes dos municípios é ótima para ter uma organização dos entes, considerando que o saneamento não tem como ser visto só em um município, porque o curso d’água que abastece o saneamento passa por vários, a infraestrutura é compartilhada, a tarifa tem subsídio cruzado…
Tudo isso nós consideramos. Esse é um ponto que eu acho que vai ser referência.
O outro aspecto é o modelo de operação, considerando a realidade de full corporation no Brasil.
Dessa lógica de acionista de referência, da valorização que as ações tiveram, inclusive depois do anúncio do acionista, e da qualidade do livro. A qualidade do livro foi muito grande.
Vimos investidores que há tempos não vinham para o Brasil, ou alguns que não tinham tanta participação, vindo porque acreditaram no modelo e acreditaram nos planos da empresa.
Eu realmente acho que vai ser referência, tanto no aspecto contratual regulatório de governança do serviço de saneamento, quanto para a questão do modelo de operação e governança dentro da empresa.
Money Times: O modelo da Sabesp foi melhor desenhado que o da Eletrobras, Copel e outras privatizações?
Natália Resende: A gente fala que o modelo da Sabesp é o modelo da Sabesp.
É o modelo do Estado de São Paulo, do saneamento aqui. Querendo ou não, é uma evolução em relação a esses outros modelos. Sempre que fazemos um modelo, a gente vê o que deu certo, o que deu errado. E fizemos isso em relação a outros saneamentos no mundo e no Brasil.
Nós olhamos para a Eletrobras e para a Copel, e uma das coisas que vimos em relação à Eletrobras, por exemplo, foi a necessidade de melhoria de governança. Porque a Eletrobras é uma full corporation.
Vimos essa questão das ações também, que pela ausência de um acionista de referência, teve uma desvalorização e uma dificuldade de gestão de governança no pós.
Não podemos deixar isso acontecer, principalmente no saneamento, porque a quantidade de investimentos é muito grande. Aprendemos em relação à lógica da Eletrobras em relação à questão do acionista de referência.
Fomos pegando o melhor em relação ao que de não tão bom ou de ruim que acontece e fomos criando as vacinas (aprendendo com os outros processos). Por isso que o modelo da Sabesp vai ser referência.
Money Times: Há temor de que uma reestatização do saneamento ocorra aqui, como ocorreu em outros países?
Natália Resende: Não. E essa é uma discussão que eu acho que precisamos aprofundar, porque ela normalmente é muito rasa em vários momentos.
“A Europa está reestatizando, a França está reestatizando.” E aí usando como exemplo a França, que hoje tem uma média de 700 contratos de saneamento com a iniciativa privada por ano, mais de 4.700 contratos firmados com a iniciativa privada em saneamento, 144 municípios ao redor da região “metropolitana” de Paris são com a iniciativa privada.
E o que aconteceu em Paris especificamente? Teve problema com a tarifa. Mesmo assim, foi remunicipalizado um ano antes de acabar o contrato de concessão.
Teve muito investimento no início e a perda d’água lá reduziu de 24% para 4%. Só que o que aconteceu? Congelou a tarifa quando remunicipalizou e congelou o investimento. Hoje, a perda d’água é uma das maiores do mundo e vai precisar de cerca de 500 anos para poder renovar a infraestrutura de Paris.
Essa discussão de casos internacionais, temos que ir caso a caso, olhando o que aconteceu. Então não temos essa preocupação. O contrato está muito bem amarrado, está muito bem desenvolvido. Nós fizemos toda essa governança exatamente para poder fazer os investimentos que a gente precisa fazer.