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Entrevista: Estamos com aposta pesada para a Bolsa em 2018, diz BlackRock

23 nov 2017, 12:38 - atualizado em 23 nov 2017, 12:38

A maior gestora de recursos do mundo acredita em um ano muito bom para a Bolsa brasileira em 2018 e está preparada para isso. “Estamos com uma alocação bem pesada no Brasil dentro do fundo para América Latina”, afirma Will Landers, diretor de mercados emergentes na BlackRock, em entrevista concedida para o Money Times.

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O gestor admite que o cenário político se tornou muito conturbado nos últimos anos, mas que a economia parece, agora, estar ignorando isso e ganhando musculatura para surpreender no ano que vem. A mistura de inflação controlada, melhora no mercado de trabalho, crescimento do PIB e juro baixo deve garantir um ano positivo.

“Vamos começar a ver uma revisão de resultados para cima no ano que vem. Se o cenário se confirmar e, emplacando um candidato de continuidade, a chance é de um câmbio apreciado no ano que vem”, destaca Landers. Veja, a seguir, os principais trechos da conversa:

Investir no Brasil nos últimos anos foi acompanhar de perto momentos agudos e extremos da política brasileira. Podemos lembrar das conturbadas eleições de 2014, o impeachment em 2016, as denúncias contra Temer em 2017 e, agora para 2018, uma eleição que não há candidatos definidos. O que essa experiência recente trouxe de arcabouço estratégico para o investimento no Brasil?

Infelizmente não estudei ciências políticas, mas este é agora o maior driver de curto prazo para o mercado. Entretanto, se dermos um passo atrás e ignorar Brasília, por exemplo, fora alguns momentos críticos como a delação da JBS, a economia tem continuado a reagir à caída brusca de juros que têm estado muito abaixo das projeções esperadas anteriormente e que pode parar em 6,75% ou 6,5%. É daí que vem a reação que temos visto no Ibovespa.

O fato é que vimos sete meses de Caged melhor, varejo, demanda por crédito, tráfego nas estradas, vendas de automóveis… e essa melhoria pode dar um impulso bom para 2018. Agora temos a Previdência. Muitos no mercado nem esperavam qualquer avanço da reforma e agora estamos vendo um pouco isso. Algo como idade mínima, equivalência entre o sistema privado e público já são coisas que tiram R$ 500 bilhões em 10 anos.

Com este cenário de crescimento, PIB perto de 3%, Selic abaixo de 7%, desemprego caindo e economia reagindo, duvido que o eleitor brasileiro vai voltar para um candidato contra a tudo isso. Quem vai ser eleito dará a continuidade para isso.

 Então você não acredita em uma ruptura…

Acho difícil uma volta para o populismo. Dos três piores momentos da última década, em 2011 e 2014, estiveram ligados à Dilma. Foi um extremo retrocesso dos ganhos da primeira década do ano. Tivemos um ciclo de commodities e, no final, com o populismo tivemos um caminho de volta.

Por outro lado, um governo muito de direita também acho difícil. Já o candidato não-político tem chance porque temos visto isso em vários lugares do mundo e, mesmo eles, entendem que precisarão montar um time para lidar com Brasília e outro para continuar com o plano econômico. Para o mercado, vai fazer pouca diferença nesta lista que está se formando.

O Brasil voltou a crescer e as companhias estão voltando ao azul em seus balanços. Já está claro, após os resultados do 3º trimestre, quais são as empresas/setores que irão se recuperar mais rapidamente?

Temos visto uma recuperação bem gradual e, mesmo assim, vemos a alavancagem nos resultados. A maioria dos setores alcançou uma margem Ebitda muito parecida com a vista antes da recessão. Ou seja, apesar de terem sofrido, fizeram um trabalho fenomenal.

Acho que vamos começar a ver uma revisão de resultados para cima no ano que vem. Se o cenário se confirmar e, emplacando um candidato de continuidade, a chance é de um real apreciado no ano que vem. 2018 pode ser muito bom para a Bolsa. E, por isso, estamos com uma alocação bem pesada no Brasil dentro do fundo para América Latina. 

Como está a alocação na Bolsa?

Estamos com dois terços da carteira no Brasil e 9% acima do MSCI Latam. Em fevereiro e março do ano passado, por exemplo, tínhamos 40% investido no Brasil. O mercado como todo subiu e fiz uma mudança grande nas empresas investidas. Saímos de companhia defensivas, voltadas para a exportação, e voltamos os olhos para empresas ligadas ao mercado doméstico e com dívida que tende a se beneficiar da queda da Selic.

Em geral ampliamos o escopo dentro do setor de consumo discricionário. O maior continua sendo o setor financeiro, tal como o índice. A parte de energia e commodities está com posição importante e, dentro delas, mais voltados para petróleo e mineração do que aço ou papel e celulose. Estamos com alguma participação no segmento industrial.

 A Bolsa ainda está barata?

A bolsa está barata se eu estiver certo que os resultados serão revisados para cima no ano que vem. Temos que lembrar que com o juro abaixo de 7% durante um ano, ao menos, o investidor pouco alocado em Bolsa (fundos de pensão e mútuos) vai ter que olhar mais para a renda variável.

Se continuarmos mais tempo com o juro baixo, então eles podem virar novos investidores em Bolsa. Os fundos globais, que ainda olham para o país sem definição política, não estão aqui e têm muito dinheiro novo para entrar. Se elegermos um governo de continuidade não dá para achar que vai ter uma desaceleração em 2019 e 2020. Com isso, a Bolsa tende a desempenhar bem por vários trimestres.

Fundador do Money Times | Editor
Fundador do Money Times. Antes, foi repórter de O Financista, Editor e colunista de Exame.com, repórter do Brasil Econômico, Invest News e InfoMoney.
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