Entrevista: dr.consulta se prepara para entrar em vacinas e fala se tem planos para IPO
A pandemia de Covid-19 colocou à prova o poder de adaptação do setor de saúde, tanto pelo sistema público quanto pelo privado. As empresas precisaram entrar com novas soluções para atender a demanda do mercado. Nomes da indústria como o dr.consulta encontraram a resposta na digitalização dos seus serviços.
Para lidar com a nova realidade, o dr.consulta teve que pensar rápido em como ajustar seu modelo de negócios e aplicar os protocolos necessários de atendimento ao cliente. Em entrevista ao Money Times, o CEO Renato Velloso disse que a empresa, que já combinava serviços presenciais com ferramentas digitais, liberou em questão de dias a realização de consultas online.
De acordo com o executivo, a empresa já tinha a plataforma, com prontuário eletrônico, recursos de inteligência artificial e diretrizes médicas alimentadas por algoritmos clínicos. Bastaram alguns ajustes e pronto: estava lançado no mercado o serviço de telemedicina do dr.consulta.
Atualmente, o dr.consulta oferece dois tipos de telemedicina: um mais episódico, criado com o objetivo de tirar o paciente do pronto-socorro, e outro voltado a especialidades, inserido no ecossistema do cuidado do paciente.
“Nesse segundo, que leva mais valor porque está na cadeia de cuidado do paciente, você pode fazer uma primeira consulta, mas o retorno que vai receber dos exames para se chegar ao diagnóstico talvez não precise fazer presencialmente”, explicou Velloso. “Isso vai te dar acesso, conveniência… Vai facilitar sua vida e diminuir o custo”.
Desde o lançamento do serviço, no dia 11 de março, mais de 200 mil consultas online foram realizadas. São oferecidas 27 especialidades diferentes na telemedicina e mais de 2 mil slots por dia. Os médicos, 1,2 mil no total, possuem certificação digital e podem prescrever exames, medicamentos e atestados. Todos os atendimentos de telemedicina são registrados no prontuário, e as prescrições e solicitações de exames têm certificação digital ICP Brasil.
Investindo em experiência
Segundo Velloso, a ideia do dr.consulta é investir em ferramentas digitais que melhoram a experiência do paciente. Além das melhorias nas operações via ferramentas tecnológicas, a empresa está desenvolvendo uma plataforma de marketing focada na necessidade do usuário.
“Com seus dados, vamos te alimentar de informações para você saber que precisa se cuidar e saber o que precisa fazer. A gente tem um modelo de definição de escala médica chamado de skalAI – escala médica com inteligência artificial –, onde conseguimos abrir uma escala médica de uma especialidade. Automaticamente, sem interação humana, disparamos para nossos médicos que precisamos de alguém em tal região e abrimos uma escala com 15 dias de antecedência já com 85% de ocupação. No dia que ele for trabalhar lá, vai estar com 93-94% de eficiência de ocupação”, explicou o CEO.
Todas essas ferramentas trazem eficiência para a empresa, traduzindo em baixo preço para o cliente – ou, como Velloso pontuou, em “preço justo”.
Esse é o maior diferencial do dr.consulta, na opinião do executivo. A empresa lançou um modelo voltado à grande maioria da população, que não tem plano de saúde e depende do sistema público. É um modelo que se preocupa em levar valor para o paciente.
“A gente vem trabalhando de uma forma insistente ao longo dos anos, criando algoritmos dentro do nosso prontuário eletrônico para se chegar aos diagnósticos com a menor quantidade de exames e a um menor investimento do paciente. Ou seja, dar o diagnóstico que o paciente precisa, mas de uma forma acessível”, afirmou Velloso.
Novos mercados
Com 35 centros médicos distribuídos em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, o dr.consulta oferece atualmente um portfólio com mais de 60 especialidades médicas e mais de 3 mil serviços entre exames, fisioterapia, acupuntura, odontologia e cirurgias de baixa complexidade.
A empresa, que atua com um modelo de one-stop-shop, está atenta a tudo que aparece de novidade na medicina.
“A gente procura ter tudo dentro da atenção primária e secundária, e também alguma coisa que orbita em torno disso, como odontologia e fisioterapia”, contou Velloso.
Foi o que aconteceu com o surgimento do coronavírus. A healthtech passou a disponibilizar diferentes tipos de testes de Covid-19, desde o RT-PCR até os rápidos.
O dr.consulta também reorganizou a estrutura dos negócios, aumentando a escala de médicos de infectologia e doenças respiratórias e intensificando a oferta de tratamento de doenças mentais, especialidade que mais cresceu, atendendo 23% de todas as consultas online da empresa.
Outro produto criado pelo dr.consulta foi o serviço de atendimento domiciliar. A empresa passou a realizar alguns procedimentos e exames na residência das pessoas.
No momento, a healthtech se prepara para lançar um modelo de vacinas. O dr.consulta vai construir um centro médico especializado em imunizantes que serão disponibilizados para aplicação em residências, clubes, condomínios e empresas, além dos centros médicos.
Serão vacinas genéricas, algumas em falta no sistema público de saúde e a que as pessoas precisam ter acesso.
“Vamos fazer um portfólio amplo”, disse Velloso. “A gente vai ter uma linha muito ampla de vacinas de crianças, recém-nascidos… Esse é um produto novo que a gente está lançando”.
IPO a caminho?
Questionado se o dr.consulta tem planos de realizar uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) no futuro, Velloso esclareceu que a empresa não está pronta para o momento. Isso porque a healthtech está em seu terceiro grau de maturidade.
O executivo explicou que o dr.consulta passou pela primeira fase entre 2011 e 2014-15. A primeira etapa foi uma espécie de “prova de conceito”, quando o fundador da empresa, Thomaz Srougi, montou um modelo para aplicá-lo na favela de Heliópolis e posteriormente escalá-lo. O processo de aumentar a escala ficou conhecido como a segunda fase.
Na fase atual, que é a terceira, o dr.consulta segue fazendo alguns ajustes nas operações, levando em consideração suas três principais características: ser, ao mesmo tempo, uma empresa de tecnologia, de saúde e de varejo.
O dr.consulta sabe que existem oportunidades espalhadas no Brasil além do Sudeste, mas atualmente não tem planos de explorar novas regiões, muito menos realizar um IPO.
“Não é o objetivo da companhia, realmente não é o objetivo”, reforçou o CEO.