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Entrevista: “Crédito privado rende mais que títulos públicos”, diz sócio da Galápagos WM

30 mar 2021, 15:03 - atualizado em 30 mar 2021, 16:06
Sede da Galápagos Capital
Potencial: desde a criação da Galápagos WM, gestora já incorporou R$ 400 milhões ao patrimônio sob gestão (Imagem: Divulgação/ Galápagos)

Criada em outubro de 2020, quando a Galápagos Capital comprou a fatia que a Ativa Investimentos detinha na gestora fundada em 2012 por Luís Barone e Arnaldo Curvello, a Galápagos Wealth Management cuida de um patrimônio de R$ 2,3 bilhões, aportados por 3,3 mil clientes.

Na média, cada investidor possui R$ 700 mil aplicados na gestora, mas a clientela se estende desde carteiras com R$ 200 mil (o mínimo permitido pela Galápagos) até R$ 50 milhões.

Em um país viciado no sobe-e-desce do Ibovespa, o foco da Galápagos WM são os chamados ativos alternativos, como títulos privados de dívida – um mercado com enorme potencial de crescimento no Brasil, e capaz de entregar retornos maiores que os títulos públicos, segundo Barone. “Na média dos últimos dois ou três anos, entregamos o CDI mais 6% ao ano”, diz.

Segundo Barone, com a chegada da Galápagos Capital, a gestora passa a integrar um grupo que cobre toda a cadeia de crédito privado, indo da originação e estruturação do crédito até a alocação na carteira dos investidores. As sinergias criadas pela sociedade permitem que Barone e Curvello persigam uma meta ambiciosa: triplicar de tamanho até 2023.

Veja os principais trechos da entrevista de Barone ao Money Times.

Money Times – Por que investir em crédito privado?

Luís Barone – Fundamos a gestora em 2012. Desde então, nossa tese de investimento é baseada em crédito privado, por que é onde enxergamos as maiores oportunidades. No Brasil, 94% do total de crédito privado é oferecido pelos grandes bancos. Só 6% são originados de outras fontes. Nos EUA, os grandes bancos respondem por 40% disso. Então, temos um grande potencial de crescimento aqui.

Além disso, a Galápagos Capital, nossa nova sócia, foi criada em 2019 com foco em investimentos alternativos, como o crédito privado. Às vezes, uma empresa prefere pegar um crédito um pouco mais caro, do que vender uma fatia do próprio capital. Então, há um mercado para o venture debt, em vez de venture capital. O venture debt trabalha com taxas de 8% a 9% ao ano.

Isso nos permite alocar recursos no segmento High Yield (alto retorno), em vez do High Grade (boa nota de crédito). Para isso, nos baseamos em uma boa análise de crédito, em garantias robustas do tomador, como subordinação de fundos e garantias reais, e na pulverização do risco. Na média dos últimos dois ou três anos, entregamos o CDI mais 6% ao ano.

MT – As empresas enfrentam uma séria crise econômica causada pelo coronavírus. Como vocês estão lidando com isso? E o risco de inadimplência?

Barone – Quando a pandemia veio, todo mundo prendeu a respiração. Veja: a Bolsa caiu de 120 mil pontos para 60 mil, e depois voltou. O mercado de crédito também prendeu o fôlego por algum tempo, mas tudo foi muito solucionável. Com a pandemia, os tomadores de crédito precisaram acomodar prazos, e conseguimos lidar com isso. Quando vem algum solavanco, não precisamos brigar com o tomador. Vamos negociar, alongar dívidas, jogar as parcelas para frente, cobrar apenas os juros. Flexibilizar o crédito é bom para todo mundo.

MT – Vocês têm algum setor favorito?

Barone – Pulverizamos o risco. Entre 2017 e 2020, o carro-chefe da alocação foi o mercado imobiliário, porque demanda muito crédito. Outro mercado são as carteiras de crédito consignado de bancos privados. A inadimplência é muito baixa. Praticamente, não tem como não pagar ou fraudar. Temos também alguma alocação de fundos com lastro em exportações e produtos no porto, empresas do setor de saúde etc. Trabalhamos com CRIs, CRAs, algumas debêntures, alguns fundos.

Dica: “se você quiser ganhar algo com o aumento dos juros, invista em títulos curtos, em juros de curto prazo”, diz Barone (Imagem: Divulgação/ Galápagos)

MT – E o que você diz, quando um cliente sugere investir em títulos públicos?

Barone – Eu costumo sugerir que meus clientes experimentem os títulos privados de dívida aos poucos. De R$ 100 alocados em títulos públicos, peguem R$ 30 e coloquem em títulos privados. Quando eles veem que esses R$ 30 entregam um retorno melhor, migram suas carteiras para o crédito privado. É claro que esses papéis têm o risco dos tomadores de crédito, mas é por isso que é preciso pulverizar a carteira e contar com uma boa gestão por trás.

MT – Você já disse que, mesmo com a alta da Selic, os títulos públicos não são interessantes. Qual é o seu cenário para os juros?

Barone – Acho que as taxas de juros de longo prazo estão justas. Na parte curta da curva, vejo um certo exagero no prêmio pedido pelos investidores. O Copom já adiantou que virá uma nova alta de 0,75 ponto na próxima reunião, e o mercado está precificando cerca de 1 ponto. É um prêmio um pouco acima do razoável. Então, se você quiser ganhar algo com o aumento dos juros, invista em títulos curtos, em juros de curto prazo.

MT – Quando a Galápagos WM foi criada, em outubro, vocês mencionaram planos de triplicar de tamanho em três anos. Qual é a estratégia para crescer?

Barone – Em março do ano passado, a Galápagos Capital estava desenvolvendo um FDIC, que é um tipo de produto que gostamos de investir. Ainda como Ativa WM, fomos apresentados ao Carlos Fonseca, um dos fundadores da Galápagos. Começamos a dar algumas sugestões para modelar o produto, de modo a ficar mais adequado ao perfil de nossos clientes.

Ao longo das conversas, começamos a ver afinidades. Já queríamos ficar cada vez mais próximos dos estruturadores e originadores de crédito. E a Galápagos tinha vontade de se aproximar de gestores que pudessem investir nos produtos que estruturava. A sociedade completou nossa “esteira” de produção. Temos agora a estruturação dos produtos, a análise e os investidores.

A cada dia, a sinergia fica mais clara. Quando a sociedade foi fechada, em outubro de 2020, tínhamos R$ 1,850 bilhão sob gestão. Agora, já estamos em R$ 2,250 bilhões. Em cinco meses, crescemos R$ 400 milhões. Se você anualizar esse crescimento, podemos triplicar de tamanho em três anos.

MT – De um lado, vocês precisam encontrar tomadores de crédito. De outro, os investidores. Como equilibrar esses dois lados?

Barone – A Galápagos Capital trouxe um melhor due diligence para os projetos e mais operações de venture debt. Também nos permitiu olhar para operações maiores de infraestrutura. O próprio tamanho ajuda a acessar operações que não podíamos antes. Outra fonte de crescimento é a propaganda boca-a-boca. Nossa retenção é muito alta: 80%. Isso nos dá um bom crescimento orgânico, porque nossos clientes são acumuladores, não sacadores. Eles aportam constantemente recursos.