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Entrevista: “A trajetória da Petrobras é de uma empresa saudável”, diz Pedro Parente

27 jul 2017, 12:28 - atualizado em 05 nov 2017, 13:59

Há quase um ano no comando da Petrobras, Pedro Parente não minimiza os problemas, mas garante que a estatal está no caminho certo para ser considerada uma petroleira saudável até o fim do ano que vem.

Enquanto isso, o mantra da sua gestão será tornar a dívida mais leve para a companhia, equivalente a 2,5 vezes a geração de caixa – um nível de alavancagem que a aproxima de suas concorrentes, mas ainda deixa a empresa longe de reconquistar o selo de boa pagadora das agências de classificação de risco.

Essa meta só deve ser alcançada em cinco anos. Questionado, o executivo deu a entender que permaneceria no cargo mesmo com uma eventual saída do presidente Michel Temer, desde que a Petrobras se mantenha blindada de indicações políticas.

Qual o atual retrato da Petrobras do ponto de vista financeiro?

O retrato é de um plano estratégico em plena execução. Não perdemos tempo discutindo o que está acontecendo fora da empresa. Temos um plano e temos de implementá-lo.

Esse é um ‘Plano Parente’ ou ele existe independentemente da sua permanência no cargo?

Esse plano foi feito com a participação de todos os gerentes executivos. A avaliação de que é um ‘Plano Parente’ não é boa. Discordo dela. Agora, é um plano com visões temporais diferentes. Eu tenho um problema relevantíssimo, que é a dívida. Quando cheguei, falavam: ou a empresa é capitalizada (pela União), ou quebra. No entanto, porque temos um plano, estamos resolvendo o problema com nossos esforços e estamos indo bem.

A Petrobras já paga juros condizentes com o seu perfil?

Não. Ainda paga mais caro, porém, na última terça-feira de manhã cedo pagamos no papel de cinco anos juros inferiores ao da última colocação, portanto, abaixo do preço quando ainda éramos grau de investimento. Na última colocação, no dia em que o mundo caiu aqui no Brasil (após a divulgação das gravações de Joesley Batista, dia 17 e maio), a gente fez colocação de papéis de 5, 10 e 30 anos.

Os três pagaram preço abaixo do último lançamento feito em 2014 quando tínhamos grau de investimento. Obviamente, após a delação desses senhores (irmãos Batista), esses papéis ficaram mais caros. Pela primeira vez, esta semana o papel de cinco anos já está ‘treidando’ (sendo negociado) abaixo dos 4,875%. Hoje, eles estão a 4,83%.

Quando a Petrobras volta a ter o selo de grau de investimento?

Com esse nível de endividamento que ainda temos… Me preocupa passar a visão de que tudo está resolvido. Não está. Estamos na direção correta, mas não chegamos ainda nos 2,5 (vezes) de alavancagem, que, por sinal, não é o nosso objetivo final. A dívida ainda é muito grande e temos de pagar uma conta de juros muito alta pelo tamanho dessa dívida.

Quando será possível dizer que a crise passou, que a Petrobras é uma empresa saudável?

A trajetória é de uma empresa saudável. Se chegarmos no fim do ano que vem com a alavancagem de 2,5 vezes, numa trajetória decrescente, podemos dizer que a empresa, realmente, está num nível próximo das outras grandes petroleiras. Eu, pessoalmente, acho que um endividamento saudável é algo mais próximo de 1,5. Podemos vislumbrar claramente que a empresa estará num nível próximo do que tem de ser antes do prazo de cinco anos do plano.

Mas é possível alcançar o grau de investimento em cinco anos?

Acho possível. Mas não se esqueçam de que há uma enorme dependência do rating da Petrobras ao rating soberano.

O atual cenário brasileiro prejudica a formação de parcerias?

Não vamos ser ingênuos. O cenário traz sua influência, mas não é impeditivo para que a gente continue cumprindo o nosso programa. A gente continua notando alto interesse, especialmente neste ano, por leilões de áreas de pré-sal.

A Petrobras tem disponibilidade de caixa para os leilões?

Pensando em pré-sal, o que a gente tem de desembolsar, caso ganhe, é relativamente modesto em relação ao nosso programa de investimento, o que nos obrigaria a fazer uma ‘repriorização’, tão somente. Não nos obrigaria a cancelar nada. O grande investimento é na fase de exploração e produção, que começa dois, três anos depois. Estamos absolutamente serenos para esses leilões de pré-sal. Na rodada de concessões (14ª rodada), naquilo que a gente achar importante para o nosso portfólio, a gente vai.

Como a crise envolvendo Michel Temer afetou a Petrobras?

O setor poderia ter tido uma repercussão maior dessa questão política nacional se o ministro Fernando Coelho (de Minas e Energia) tivesse saído. É claro que tem toda discussão, a conjuntura do partido dele, que está no meio de uma aparente disputa entre outros partidos. Estou falando do PSB. Mas ele continua tocando a agenda da reforma do setor. A permanência dessa liderança reduziu muito o impacto da questão nacional na atuação da Petrobras. O partido, em um determinado momento, forçou ele a fazer uma opção. E ele fez a opção de continuar com a agenda.

O sr. permaneceria no cargo em um outro governo, eventualmente, um governo de Rodrigo Maia?

Essa é uma pergunta com tanto ‘ses’… O que posso dizer é que hoje existem as condições necessárias para fazer o trabalho que precisa ser feito na Petrobras. Enquanto essas condições existirem, penso em ficar.

Quais são essas condições?

Estou falando de possíveis indicações políticas. A empresa estava tremendamente traumatizada com toda essa discussão de indicação política. Mas, sem falar nomes, para mim, o fundamental é que existam as condições para se fazer um bom trabalho.

O sr. se considera um garoto-propaganda de Temer?

De jeito nenhum. Até porque o presidente nunca me fez esse pedido. Me vejo interessado em recuperar a Petrobras. Não sou filiado partidariamente, nunca fui. Não sou candidato a cargo político. Sou um técnico. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

(Por Fernanda Nunes, Mônica Ciarelli, Ricardo Grinbaum)