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Entrevista: “2017 será o ano do stock picking”, diz Adeodato Volpi Netto

19 dez 2016, 21:02 - atualizado em 05 nov 2017, 14:08

O estrategista-chefe da Eleven Financial, Adeodato Volpi Netto, vê o  mercado voltando a olhar para si em 2017 em um movimento que pode ser  entendido como um rali do fundamento das empresas. “2017 será o ano do stock  picking”, disse ele em uma entrevista exclusiva para o Money Times.

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“Vivo com a Bolsa de Valores há mais de 20 anos e nenhum outro ano tende a ser   tão sólido de fundamentos como em 2017. As empresas vão reduzir o grau de  ociosidade e alavancagem. E, as que tiverem com os fundamentos em dia, boa estrutura de capital e no mercado correto, vão ganhar em performance”, ressalta.

Netto, que comemora neste a forte expansão de sua base de clientes na Eleven, destaca que a consultoria pretende chegar, em 2017, a um número de 60 empresas analisadas na Bolsa (a partir das 40 avaliadas atualmente). Veja abaixo os principais trechos da conversa realizada na sede da empresa em São Paulo:

adeodatoO ano que vem será diferente do que vimos ou teremos algo como “2016 – Parte2”?

Desde o começo do ano sempre falamos por aqui que o mercado estava distante da realidade. Os investidores negociavam um “paraíso”, enquanto na melhor hipótese estávamos em um purgatório. Não tenho posição política, mas sou da escola de Chicago e é possível ver hoje que temos um projeto econômico de longo prazo.

Analisando em um período maior, tivemos três acontecimentos na história em que pudemos ver melhor o longo prazo: o Plano Real, a LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal) e o projeto de reformas que vivemos hoje. A diferença é que agora a economia está muito machucada. Então, a ideia de o mercado bater na bolsa na segunda e terça feira por causa das delações que vazam no final de semana é uma hipocrisia. Quem é que achou que eles não iriam estar envolvidos? 

Não mudamos a projeção de 1,5% de crescimento para o ano que vem porque temos uma série de setores com ociosidade violenta. Não é razoável achar que isso pode piorar. 

Estamos amadurecendo como sociedade e economia. Isso vai criar mais eficiência e mais resultado e abre uma mudança de característica de modelo de base, o que começa a acontecer em 2017. A palavra que volta agora é a previsibilidade. O dinheiro que pode começar a vir de fora com a previsibilidade será o capital dedicado. As empresas com quem eu converso agora acham que podem começar a fazer planos de cinco a 10 anos.

O que isso representa para a Bolsa?

2017 será o ano do “stock picking”. A volatilidade poderá reduzir e o quadro de incerteza também. Como não teremos um rali de commodities, o Ibovespa ficará menos acelerado. O fundamento tenderá a ir melhor.

A preocupação com a política pode ficar de lado após a aprovação das reformas?

Aqui vale citar James Carville, conselheiro da campanha de Hillary Clinton e estrategista nas campanhas de Bill Clinton, que lançou a frase: “It’s the economy stupid”. Com a combinação da previsibilidade e as medidas macroeconômicas, o marcado vai também voltar a falar “It’s the economy stupid”.

Vivo com a Bolsa de Valores há mais de 20 anos e nenhum outro ano tende a ser tão sólido de fundamentos como em 2017. As empresas vão reduzir o grau de ociosidade e alavancagem. As que tiverem com fundamentos em dia, boa estrutura de capital e no mercado correto, vão ganhar em performance.

Será uma espécie de rali do fundamento?

Diria assim: Se o Brasil fosse uma ação na bolsa, quando a Reforma da Previdência for aprovada, ela se torna uma ação descontada e que termina o seu turnaround. E, por isso, vai entregar um bom desempenho.

Quais empresas podem passar por isso?

Um caso que é emblemático é a Anima dentro do setor educacional. A empresa nasceu em Minas Gerais e tem o foco absurdamente voltado para a eficiência e qualidade. Não dá para comparar com a Kroton, por exemplo, porque é como comparar a fiat com a Volvo.

Ela tem capacidade de fazer escala, menor do que a Kroton, mas mantém um ticket mais alto e os melhores indicadores de financiamento público. E como as exigências para o Fies estão migrando para a qualidade, a Anima tende a ter um nível de retenção maior no longo prazo. Este ano o setor sofreu muito com a queda no Fies, mas nunca deixei de ter a empresa como a maior participação da minha carteira. Eles têm 45 aquisições mapeadas em cidades com IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) acima da média. É um projeto espetacular e com um dos melhores managements.

Outra que acertamos neste ano foi a Sanepar. Indicamos a compra antes da oferta de ações anunciada e os papéis dispararam. Descobrimos essa oportunidade quando começamos a analisar a Copasa e olhamos os pares do setor. Analisamos os múltiplos e a Sanepar era como Barcelona contra o XV de Piracicaba e o Íbis. A empresa tem contratos mais resilientes e o governo do Paraná está reduzindo participação ao máximo. Ela tem um nível de eficiência muito bom e o follow-on trará a liquidez. Ela poderá superar em muito os pares.

Temo uma outra indicação, um pouco controversa, que é a Profarma. É a única no setor farmacêutico que tem varejo e distribuição agregados. Ela entrou no varejo recentemente com a compra das redes Tamoio, a Drogasmil e a Rosário. A empresa é muito boa em integração e o dinheiro usado nas aquisições foi feito apenas com o uso do próprio caixa. O fato de ela ser distribuidora consegue atingir a um melhor gerenciamento do estoque. Não existe outro player brasileiro com essa combinação e o nível de desconto entre as empresas que têm fundamento e tendem a ir bem em 2017.

Fundador do Money Times | Editor
Fundador do Money Times. Antes, foi repórter de O Financista, Editor e colunista de Exame.com, repórter do Brasil Econômico, Invest News e InfoMoney.
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