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Entrega recorde de açúcar na bolsa indica receio com demanda chinesa e atrasos na Índia

02 out 2020, 12:28 - atualizado em 02 out 2020, 12:28
Mercados Trader
Para os traders, é um sinal de que não há demanda suficiente para vender essa produção aos refinadores chineses (Imagem: Unsplash/@adamaszczos)

A entrega recorde de açúcar bruto nesta semana por detentores de contratos futuros em Nova York, que atingiu 2,62 milhões de toneladas, levantou preocupações sobre um declínio da demanda em mercados importantes como a China e um possível atraso na nova safra da Índia .

Contratos futuros, utilizados como um meio de participantes de diferentes mercados de mercadorias se precaverem de oscilações de preços, de café a petróleo ou açúcar, vencem quase todos os meses. Em muitos casos, quem comprou um contrato tem a opção de entregar o produto fisicamente para a bolsa.

Quando há entrega, neste caso na ICE de Nova York, onde grande parte do açúcar bruto produzido no mundo é precificado, geralmente significa que não há demanda suficiente de consumidores finais, como fabricantes de doces ou indústrias de refrigerantes.

Neste mês, a trading chinesa de commodities Cofco enviou o maior volume de açúcar bruto para a bolsa, 1,25 milhão de toneladas. Para os traders, esse foi um sinal de que a empresa não tinha demanda suficiente para vender essa produção aos refinadores chineses.

“A entrega da Cofco pode refletir menos compras do que o esperado da China”, disse um corretor de açúcar de Chicago.

Os futuros do açúcar bruto aumentaram 48% em relação às mínimas observadas em meados de abril, ajudados pela demanda chinesa após uma queda dramática nas primeiras semanas da pandemia do coronavírus.

Os futuros do açúcar bruto aumentaram 48% em relação às mínimas observadas em meados de abril (Imagem: Reuters/Rupak De Chowdhuri)

Mas os preços também foram impulsionados por expectativas até agora infundadas de que Pequim aumentaria as cotas de importação de açúcar.

“O mercado esperava uma liberalização parcial da política de importação da China, o que não aconteceu”, disse Claudiu Covrig, analista de açúcar da S&P Global Platts.

A Cofco se preparou para uma forte temporada de embarques para fora do Brasil, tendo mudado seu terminal no porto de Santos para carregar açúcar em vez de milho.

Além das preocupações com a demanda chinesa, a entrega significa que os produtores brasileiros de açúcar estão com enormes estoques após uma forte temporada de produção.

A Platts estima os estoques atuais no centro-sul do Brasil em 11,1 milhões de toneladas contra 8,8 milhões de toneladas no ano passado. Covrig disse que as entregas de açúcar brasileiro ajudarão a liberar algum espaço de armazenamento.

A grande entrega também indica que alguns operadores podem estar esperando atrasos na safra de açúcar da Índia, que deveria começar nesse mês, devido às chuvas e dificuldades com mão-de-obra causados ​​pela pandemia do coronavírus.

A entrega deste mês incluiu 2,61 milhões de toneladas de açúcar brasileiro, um sinal de que alguns operadores estão reforçando seus estoques de açúcar mesmo antes da temporada indiana que está projetada para ser volumosa.

“Alguns dos recebedores dessas entregas estão apostando em um atraso na produção da Índia”, disse outro corretor de açúcar baseado nos Estados Unidos.

Ele acrescentou que o fenômeno climático La Niña, que muda os padrões de chuvas em várias regiões do mundo, pode ser negativo para a produção de cana do Brasil em 2021 e alguns players podem estar estocando com medo de queda na produção.