Entenda qual país promove a hiperconectividade em parceria com o desenvolvimento de plataformas digitais
Por Thauana Morais e Ingrid Torquato*
Você sabia que a primeira grande nação a adotar o dinheiro físico como moeda de troca foi também a primeira nação a começar a descartá-lo ainda nos primeiros anos do século XXI? Por isso, ao buscar entender o movimento da digitalização dos processos, é crucial que não esqueçamos o papel de países como a China no desenvolvimento de inovações que beneficiam toda uma cadeia mundial.
Nos contextos de desmaterialização dos processos – onde a utilização de itens físicos se torna quase que obsoleto -, a China foi o país que possuiu um movimento inicialmente liderado por algumas empresas, que já no final da década de 90 tinham a ambição de fomentar e criar o maior mercado de compras online, junto com um grande sistema de comunicação e pagamentos digitais.
E assim, com o desenvolvimento dos grandes grupos empresariais chineses, percebeu-se que os principais desafios estavam ligados aos investimentos em infraestrutura e educação, para que, em um futuro próximo, tivessem novas possibilidades de transações e fizessem crescer um grande mercado em ascensão.
Como podemos nos inspirar e adaptar esses movimentos para as nossas realidades, e inovar de maneira consciente? Leia o artigo completo para entender um pouco mais dessa relação.
Plataformas digitais chinesas: um panorama do desenvolvimento e da adoção em massa
A China tem sido pioneira em diversas transformações tecnológicas e digitais na última década. Em 2015, por exemplo, veículos elétricos, como as e-bikes, e meios de pagamento digitais via aplicativo de mensagens (WeChat Pay) já eram populares nas mais diversas cidades e regiões do país.
Atualmente no Brasil, a utilização de veículos elétricos caminha lentamente a preços nada populares, enquanto que o meio de pagamento digital mais popular, o Pix, teve início apenas no final de 2020, ainda não sendo aceito em muitos estabelecimentos.
Observar o exemplo da China pode trazer clareza sobre as tendências tecnológicas e digitais que estão em alta, e antever as oportunidades de negócios, os desafios das implementações e também os riscos econômicos, políticos e sociais da aplicação dessas tecnologias no Brasil e no mundo.
Duas grandes empresas chinesas desenvolveram suas plataformas digitais para a adoção em massa, e são reconhecidas pela sua grande liderança nos movimentos de inovações chinesas que hoje estão ganhando o mundo.
A primeira delas, o Grupo Alibaba, com sede em Hangzhou, tem como missão desenvolver soluções de tecnologia ligadas ao comércio digital internacional. Com um valor de mercado de aproximadamente US$ 8 bilhões, o Alibaba desenvolve ativamente tecnologias ligadas à computação em nuvem, sistemas financeiros, pagamentos digitais, entretenimento, entre outros.
Uma outra grande empresa é a Tencent, com sede em Shenzhen, e tem como missão desenvolver soluções comunicacionais, de pagamentos e entretenimento para seus clientes. Com valor de mercado de aproximadamente US$ 11 bilhões, a empresa começou na década de 90 com um produto ligado a mensagens instantâneas e e-mail, e hoje, quase 30 anos depois, possui um ecossistema ligado a soluções de internet que conecta toda a China com o resto do mundo, servindo aproximadamente 400 milhões de pessoas diariamente.
Uma grande característica de ambas as plataformas é que além de apresentar soluções intuitivas e fáceis de serem utilizadas em diversos contextos – inclusive pensando nas populações mais remotas -, essas empresas também contribuem ativamente para a construção de networks, e infra estruturas físicas ligadas ao ecossistemas de inovação.
A importância das infraestruturas físicas no desenvolvimento de ecossistemas interconectados
Vale lembrar que o grande sucesso dessas empresas em desenvolver suas soluções tecnológicas não seria possível sem o trabalho conjunto entre governos e universidades chinesas.
Paralelamente ao processo de crescimento econômico e de desenvolvimento da Ciência e Tecnologia, desde o início do processo de Reforma e Abertura econômica, a China vem buscando desenvolver seu sistema educacional para que consiga manter o status de potência econômica e tecnológica.
O governo tem papel essencial em um sistema de inovação, tanto no desenvolvimento de infraestrutura, quanto em relação a fomento, regulamentações e políticas de incentivo à inovação.
O investimento público em educação e em Ciência e Tecnologia, por exemplo, contribui com a infraestrutura física de laboratórios, centros de ensino e capacitação técnica, garantindo uma construção de conhecimento e mão de obra qualificada que são cruciais para o processo de inovação mundo afora.
O governo também pode contribuir com o investimento em infraestrutura a disseminação de inovações tecnológicas, como o 5G, por exemplo, que exige uma infraestrutura de antenas específicas para funcionar em determinados territórios. Ao investir e regulamentar a construção de antenas 5G, o governo pode ampliar a cobertura territorial dessa tecnologia e expandir as oportunidades de inovações tecnológicas e digitais que dependem de um serviço de internet de qualidade.
Na China, esses esforços governamentais são planejados de forma centralizada e com visão de longo prazo, como é o caso do plano Made in China 2025, com investimentos do governo voltados a desenvolver a indústria interna de alta tecnologia, a partir de áreas como as redes 5G, Data Centers, Inteligência Artificial, estações de recarga para veículos elétricos, entre outros.
Um caminho possível para as nossos negócios e comunidades locais
Uma abordagem muito interessante que a China mostra em seu processo de desenvolvimento é o do fomento aos ecossistemas e o trabalho em colaboração com diferentes esferas da sociedade. Dentre elas: universidades, empresas e departamentos de governo.
Observa-se ainda que o papel das diferentes esferas é igualmente importante no desenvolvimento das soluções de maneira horizontalizada.
Percebe-se que, ao invés de ser um movimento individual de poucos atores, diferentes partes colaboram para que a inovação aconteça até em áreas mais remotas . É o caso de agências governamentais que incentivam e educam a população sobre como utilizar as novas infraestruturas digitais para vender produtos.
De maneira prática, o governo em uma parceria público-privada desenvolve ações de fomento e suporte junto às comunidades locais, que veem nas novas dinâmicas disruptivas, uma forma de escoar o que é produzido.
E o Brasil?
Dentro do cenário brasileiro, como podemos fomentar ações parecidas? Esta Coluna mostra três etapas essenciais:
- Promover e fortalecer as conexões entre os diversos atores do ecossistema: ainda que haja intenções de desenvolver inovações por diferentes atores públicos e privados, a comunicação entre eles traz maior clareza sobre as barreiras, oportunidades, potencialidades e possibilidades de resoluções visando fortalecer o ecossistema de inovação.
- Entender as dores que os atores de inovação possuem para desenvolver ou aplicar inovações: por falta de comunicação e conexão, pode ser que uma inovação com grande valor econômico e social não se desenvolva por fatores que poderiam ser esclarecidos e resolvidos, como questões de regulamentação (governo), falta de mão de obra qualificada para ampliar uma operação (universidades), ou por falta de abertura para novos atores no mercado (empresas). Com esse entendimento, é possível pensar em ações mais eficazes que contribuam para o ecossistema em geral.
- Investir em infraestrutura e mão de obra qualificada: tanto no âmbito público quanto no privado, o investimento nestes dois alicerces para desenvolvimento de inovações pode beneficiar todo o ecossistema ampliando as possibilidades de expansão e capilaridade dos futuros processos de inovação.
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*Thauana Morais é Diretora de Recursos da Observa China, e fundadora da auspicious woman e SheUp Community; Ingrid Torquato é Doutoranda na USP, Especialista Residente na Observa China e Assessora Técnica na São Paulo Negócios.
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