Entenda por que o rali das commodities pode estar perto do fim
Um dos pilares do forte rali das commodities neste ano – a demanda chinesa – pode sofrer um abalo.
O governo de Pequim conseguiu recuperar a economia do impacto da pandemia principalmente por meio da expansão do crédito e do boom no setor de construção com ajuda do estado, que se apoiou em matérias-primas do mundo todo. Já o maior consumidor do mundo, a China gastou US$ 150 bilhões apenas em petróleo, minério de ferro e cobre nos primeiros quatro meses de 2021. O valor supera em US$ 36 bilhões a quantia gasta no mesmo período do ano passado, um reflexo da recuperação da demanda e aumento dos preços.
Com as commodities globais em níveis recordes, autoridades do governo chinês buscam esfriar os preços e reduzir parte da espuma especulativa que impulsiona os mercados.
Para evitar inflar bolhas de ativos, o Banco Popular da China também tem limitado o fluxo de recursos para a economia desde o ano passado, embora gradualmente para evitar prejudicar o crescimento. Ao mesmo tempo, o financiamento para projetos de infraestrutura mostra sinais de desaceleração.
Dados econômicos de abril sugerem que tanto a expansão econômica da China quanto o impulso do crédito – novo crédito como porcentagem do PIB – podem ter atingido um pico, o que ameaça o rali. O impacto mais óbvio da desalavancagem da China recairia sobre metais atrelados aos gastos com imóveis e infraestrutura, como cobre, alumínio, aço e seu principal insumo, o minério de ferro.
“O crédito é um fator importante para os preços das commodities, e calculamos que os preços atingem o pico quando o crédito atinge o pico”, disse Alison Li, codiretora de pesquisa de metais básicos da Mysteel, em Xangai. “Isso se refere ao crédito global, mas o crédito chinês responde por grande parte dele, especialmente quando se trata de infraestrutura e investimento imobiliário.”
Mas o impacto da retração do crédito na China pode ter um efeito mais amplo, colocando em risco o rali dos preços do petróleo e até mesmo os mercados agrícolas da China. E, embora a oferta monetária mais restrita não tenha impedido muitos metais de atingirem níveis elevados nas últimas semanas, alguns, como o cobre, já têm consumidores evitando os preços mais altos.
“A desaceleração do crédito terá impacto negativo na demanda da China por commodities”, disse Hao Zhou, economista sênior para mercados emergentes do Commerzbank. “Até o momento, investimentos imobiliários e de infraestrutura não mostraram uma desaceleração óbvia. Mas é provável que mostrem tendência de queda no segundo semestre deste ano.”
Nenhum desastre
De forma geral, o aperto da política de Pequim não sinaliza um total desastre para investidores que apostam em commodities. Por um lado, as autoridades não devem acelerar a desalavancagem a partir deste ponto, segundo os comentários mais recentes do Conselho de Estado da China.
“A estimativa interna de nosso departamento macro é de que o país não vai apertar muito o crédito, apenas não vai afrouxar mais”, disse Harry Jiang, responsável por trading e pesquisa da Yonggang Resources, uma operadora de commodities em Xangai. “Não estamos muito preocupados com o aperto do crédito.”
E, em qualquer caso, os mercados de matérias-primas já não são totalmente dependentes da demanda chinesa.
“No passado, o ponto de inflexão dos preços dos metais industriais muitas vezes coincidia com o do ciclo de crédito da China”, disse Larry Hu, economista-chefe para a China do Macquarie Group. “Mas isso não significa que será assim também desta vez, porque os EUA liberaram um estímulo muito maior do que a China, e sua demanda é muito forte.”