Entenda por que o coronavírus pode provocar uma queda de US$ 3 no petróleo
Em qualquer crise, é sempre bom ter à mão o máximo possível de fatos para traçar um plano de contingência. Por isso, é importante saber que o Goldman Sachs profetizou que o barril de petróleo pode ter uma desvalorização de US$ 3 por causa do novo coronavírus, que finalmente chegou aos Estados Unidos.
A análise do Goldman sobre o impacto do 2019-nCoV – nome científico do vírus – se baseia no estudo da queda do petróleo provocada pela epidemia de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), doença que começou na Ásia e chocou o resto do mundo em 2003.
Um exemplo de 17 anos atrás para a crise atual? Sim, porque é a única disponível e a mais relevante, segundo o Goldman, que tem mais “pedigree” no petróleo do qualquer outro banco de Wall Street.
“Embora as estimativas neste momento sejam bastante incertas, citamos a epidemia da SARS para ilustrar o potencial impacto sobre a demanda de petróleo”, explicou o banco.
É possível haver uma queda ainda maior
O Goldman Sachs disse ainda:
“Esse impacto na demanda (sem uma resposta da Opep na oferta) poderia significar uma queda de US$ 3 por barril de petróleo, embora a grande incerteza inicial possa provocar uma queda ainda maior, como aconteceu em março de 2003.”
Interessante. Isso significa que o barril de petróleo ainda pode cair US$ 6 – como aconteceu no auge da epidemia de SARS em 2003, com base nos dados históricos do Investing.com –, antes que a Opep faça algo drástico para fazer o mercado voltar a subir.
O ano da SARS foi bastante volátil para o petróleo, embora os preços não tenham ido acima de US$ 40 ou abaixo de US$ 25 por barril de West Texas Intermediate, que à época era a referência mundial do petróleo, antes do predomínio do Brent em 2010.
Um gráfico da Bloomberg de 2003, compartilhado entre as mesas de negociação de petróleo na terça-feira, quando veio à tona o primeiro caso de 2019-nCoV nos EUA, ressaltou o mesmo ponto sobre o declínio de quase 40% no WTI naquele ano.
O pior impacto da SARS no petróleo foi uma desvalorização de 17% em um mês
Os dados do Investing.com mostram que os meses de março e abril foram os piores para o WTI em 2003, quando houve uma queda de 15% e 17%, respectivamente. Apesar da volatilidade, o mercado acabou encerrando o ano com uma alta de 4%, a US$ 32,52, contra o fechamento de 2002 a US$ 31,20.
“Analisando a epidemia de SARS, essa incerteza de fato fez com que os mercados e analistas precificassem um impacto muito maior do que o que realmente ocorreu, com o petróleo caindo quase 20% até o fundo”, afirmou o Goldman.
“Esse elevado nível de temor acabou arrefecendo com a desaceleração do ritmo de novos casos registrados, quando a duração total da disseminação foi de 5 meses, antes de rápida recuperação na atividade regional”.
Analisando o potencial impacto do 2019-nCoV, o Goldman antecipou um choque negativo de 260.000 barris por dia (bpd) em média na demanda mundial, incluindo uma perda de 170.000 bpd de demanda de combustível de aviação.
O combustível de aviação é o mais vulnerável
O Goldman afirmou que o maior impacto na demanda de energia pode ocorrer no combustível de aviação, em razão da queda das viagens. Foi isso o que aconteceu em 2003, quando houve um declínio na força relativa dos preços do combustível de aviação em relação ao diesel durante o mês de março de 2003, de acordo com o banco de Wall Street, que afirmou ainda:
“Podemos esperar uma resposta similar dos preços desta vez, pois já houve uma queda em frações de combustíveis de aviação na terça-feira.
A pressão sobre o combustível de aviação pode ser exacerbada pelo alto nível de produtividade do refino, por seu melhor desempenho relativo em relação aos destilados nos EUA e na Europa e pelos acúmulos de estoque acima da média sazonal até agora no ano.”
Os temores de que o 2019-nCoV originado na China, em conjunto com a desaceleração do crescimento mundial, pudesse prejudicar o setor de viagens e o comércio acabaram impactando os mercados globais de risco na terça-feira.
As ações na Ásia caíram forte, assim como os preços do petróleo e do cobre, à medida que os investidores corriam para ativos de segurança, como os títulos do Tesouro americano e alemão.
Até agora houve nove mortes e mais de quatrocentos casos documentados, em sua maioria na província chinesa de Hubei, onde está localizado Wuhan, epicentro da crise.
Visões variadas sobre o impacto
Alguns analistas disseram que, embora seja cedo demais para dizer, o vírus não parece ser tão letal quanto o SRAG, que matou cerca de 10% dos pacientes.
“Por enquanto, estamos mantendo nossas previsões econômicas inalteradas, mas a disseminação do vírus claramente representa o maior risco de queda e continuamos monitorando de perto a situação”, declarou Gareth Leather, economista sênior da Capital Economics, em uma entrevista à CNBC.
Outros analistas, como o lendário gestor de hedge fund Paul Tudor, discordam.
“Temos um fator inesperado com esse coronavírus. Acho que é algo grave. Se você olhar o que aconteceu em 2003, as estimativas variam de 0,5% a 2% no PIB da China, meio por cento para o Sudeste Asiático”, afirmou Jones ao programa Squawk Box, da CNBC, no Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça.
“Os mercados acionários caíram dois dígitos. Se você olhar a escalada dos casos registrados, as similaridades são muito grandes”.