Economia

Entenda por que o Banco Central ainda mantém a Selic em 13,75%

23 mar 2023, 11:52 - atualizado em 23 mar 2023, 11:52
Banco Central Selic
Mesmo com toda a pressão do governo, o Banco Central se manteve firme na decisão de manter a taxa Selic em 13,75%. (Imagem: Reuters/Ueslei Marcelino)

Ontem, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a taxa Selic em 13,75% ao ano, apesar de toda a pressão que o governo vem fazendo no Banco Central.

Este é o maior patamar da taxa básica de juros desde janeiro de 2017, onde a Selic está estacionada desde agosto. Na visão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, este nível de juros está prejudicando o crédito no país e dificultando a recuperação econômica.

Desde que tomou posse, o novo governo já tentou de tudo: desde ameaças à autonomia da autoridade monetária até uma aproximação mais amigável do ministro Fernando Haddad com o Roberto Campos Neto. O Ministério da Fazenda até tentou correr contra o tempo para deixar a proposta de novo arcabouço fiscal pronto antes da reunião de ontem.

No entanto, não deu certo e no comunicado de ontem, o Banco Central deixa claro o porquê.

“A pressão do Governo sobre o BC aumentou e deve piorar ainda mais nos próximos dias, mantendo ambiente estressado na condução da política monetária. Esperava-se algum aceno sobre antecipação do corte. Vale notar: devemos voltar a ter discussões sobre aumento da meta de inflação e nomes mais heterodoxos para as diretorias do BC”, afirma Rafael Passos, analista da Ajax Capital.

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Comunicado do Copom e Selic em 13,75%

Segundo o Copom, alguns fatores foram decisivos na manutenção da taxa de juros. O primeiro deles é que o cenário internacional piorou desde a última reunião, em fevereiro.

“Os episódios envolvendo bancos nos EUA e na Europa elevaram a incerteza e a volatilidade dos mercados e requerem monitoramento”, diz o texto. Vale lembrar que, há duas semanas, o banco Silicon Valley Bank (SVB) quebrou e elevou o risco de uma crise financeira.

Além disso, a inflação global segue firme e forte, enquanto os demais bancos centrais seguem com os seus ciclos de aperto monetário.

Do lado do Brasil, a inflação ainda preocupa. Segundo o comunicado, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), assim como as projeções para o indicador a médio e longo prazo, seguem acima da meta para a inflação. As expectativas de Banco Central são de uma inflação de 5,8% em 2023 e de 3,6% em 2024, um pouco abaixo das projeções do mercado de 6% e 4,1%, respectivamente.

Acontece que o Banco Central tem um compromisso de manter a inflação controlada e, enquanto o indicador não começar a apresentar uma redução, a política monetária seguirá restritiva.

“O Comitê entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui os anos de 2023 e, em grau maior, de 2024”, diz o comunicado.

Entre os riscos que estão mantendo a inflação alta estão:

  • uma maior persistência das pressões inflacionárias globais;
  • a incerteza sobre o arcabouço fiscal e seus impactos sobre as expectativas para a trajetória da dívida pública;
  • uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos.

Por outro lado, o Banco Central também reconhece que o cenário inflacionário pode mudar. Nesse caso, os fatores que mais impactam são:

  • uma queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local;
  • uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, em particular em função de condições adversas no sistema financeiro global;
  • uma desaceleração na concessão doméstica de crédito maior do que seria compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária.

Outro ponto a favor para um futuro corte na Selic foi a reoneração dos combustíveis no início de março. Segundo a autoridade monetária, isso reduziu a incerteza dos resultados fiscais de curto prazo.

“Reconhecemos que aumentou a probabilidade de que a taxa Selic fique estável ao longo do ano ou só comece a cair nas últimas reuniões”, aponta Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Rena.