Entenda as causas e impactos da escalada dos preços de alimentos no Brasil
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A grande maioria dos brasileiros sentiu no bolso e na mesa de casa o impacto da inflação dos alimentos em 2024. Segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), apurado pelo IBGE, a inflação dos alimentos para consumo doméstico alcançou 8,23% no ano, superando em 3,40 pontos percentuais a inflação geral do período, que foi de 4,83%.
Esse aumento representa um peso significativo para a população, já que a alimentação no domicílio é o maior item individual de consumo das famílias, correspondendo a 13,1% dos gastos totais, conforme a última Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF).
Entre os alimentos que mais encareceram, se destacam o café moído (+39,60%), carnes (+20,84%), leite longa vida (+18,83%) e frutas (+12,12%).
O caso do café é um exemplo claro das forças que impulsionaram a inflação. O preço da commodity disparou globalmente: o café arábica teve uma alta de mais de 80% no ano, chegando a US$ 3,44 por libra, segundo a Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC).
Esse aumento foi impulsionado pela crescente demanda, que dobrou na China na última década, e pela valorização do dólar, que se apreciou 27,34% frente ao real no período. Em contrapartida, a oferta foi limitada: o Brasil, maior produtor global de café (responsável por cerca de 38% da produção mundial), deve reduzir sua produção em 0,5% em 2024, alcançando 54,8 milhões de sacas, segundo projeções da CONAB.
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O preço da carne bovina também atingiu a maior variação em cinco anos. A arroba do boi gordo negociada na B3 subiu 27,3% em 2024, chegando a R$ 317,11 no final de dezembro. As exportações de carne bovina também atingiram recordes, com 2,89 milhões de toneladas embarcadas (+26% no ano) e uma receita de US$ 12,8 bilhões (+22% frente a 2023), segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) e da Associação Brasileira das Indústrias de Carnes (Abiec).
A escalada dos preços de alimentos gerou preocupação no Governo Federal, pois impactou diretamente a aprovação do atual governo, que atingiu seu menor índice de popularidade desde o início do mandato. Como resposta, foram cogitadas medidas paliativas, como redução de tarifas de importação e ampliação de estoques reguladores, mas essas soluções têm impacto limitado diante das causas estruturais que impulsionaram a alta de preços.
Para 2025, espera-se um alívio inflacionário nos alimentos, impulsionado por uma queda no preço das commodities agrícolas globalmente, uma supersafra de grãos no Brasil e a estabilidade do dólar.
O relatório “Commodity Markets Outlook”, publicado pelo World Bank no último trimestre de 2024, projeta uma queda de 4% no índice de preços agrícolas, reflexo da expansão da produção nos principais países exportadores e da atenuação das perdas climáticas. Dentro dessa projeção, os preços dos grãos devem recuar 5% em média (soja -6%, trigo -2% e milho -1%), enquanto a carne bovina deve encarecer 4% e a carne de frango deve baratear 1%. Com um melhor equilíbrio entre oferta e demanda, o índice tende a se estabilizar em 2026.
O Brasil, como um dos principais exportadores globais, deve atingir um recorde na produção de grãos, chegando a 322,6 milhões de toneladas em 2025, um crescimento de 10,2% segundo prognóstico do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), divulgado em janeiro pelo IBGE. Já a produção de carnes deve se manter estável, atingindo 31,6 milhões de toneladas no ano, de acordo com a CONAB.
Nos principais indicadores macroeconômicos, a pesquisa Focus do Banco Central divulgada na primeira semana de fevereiro projeta estabilidade do dólar em R$ 6,00, inflação de 5,51% no ano, crescimento do PIB em 2,06% e taxa SELIC em 15% a.a. Esse cenário exige cautela, pois juros elevados encarecem o custo de capital e investimentos. Ainda assim, o PIB do agronegócio deve se recuperar, crescendo cerca de 5% em 2025, conforme projeções recentes da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
A alta dos preços dos alimentos impacta significativamente a qualidade de vida dos brasileiros, especialmente a população de baixa renda. Por isso, é essencial que haja políticas públicas que mitiguem os riscos de desabastecimento e desnutrição, equilibrando fatores como controle cambial, regulação das exportações do agronegócio (que bateu recordes históricos em 2024) e outras medidas estruturais para fortalecer a economia e o desenvolvimento do país.