Entenda a crise do setor imobiliário chinês que deixou 65 milhões de apartamentos vagos
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A economia da China vem dando mostras de desaceleração desde 2018. Com o mercado imobiliário chinês, a situação não poderia ser diferente, puxada principalmente pela retração dos gastos e da confiança dos consumidores, assim como a guerra comercial travada com os Estados Unidos.
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O artigo publicado na Nikkei Asian Review aponta que o país asiático possui um número estrondoso de apartamentos vazios em todo o país – 65 milhões, segundo Gan Li, professor de Finanças e Economia da Universidade de Southwestern, nos Estados Unidos. O professor ainda estima que 47,1% da dívida hipotecária pendente no país está vinculada a residências que agora estão vazias.
Tal resultado se deu por conta do boom massivo de construções e da incapacidade financeira da população chinesa. Só para se ter uma ideia, as vendas em 24 cidades monitoradas pelo índice China Real Estate Index System caíram 44% na primeira semana de 2019 em comparação a 2018, ainda que as principais cidades – Xangai, Shenzhen, Cantão e Pequim – tenham registrado crescimento de 12%.
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Para alguns analistas, a previsão para 2019 em relação ao setor imobiliário é de contração. Kaven Tsang, diretor sênior de crédito da Moody’s em Hong Kong, projeta uma queda de 5% nas vendas por contrato em todo o país, o que causaria impacto não apenas em construtoras, como também na criação de empregos, no número de investimentos e na geração de dinheiro para repartir entre os governos locais.
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Segundo a CLSA, cerca de 25% do PIB da China foi criado a partir de indústrias relacionadas à propriedade. “A moradia é um meio crucial de formação de ativos na China, onde cidadãos comuns enfrentam restrições a investimentos no exterior e têm poucas opções domésticas além dos mercados acionários locais, que perderam 25% de seu valor no ano passado”, diz o artigo.
Um professor da Universidade Renmin de Pequim, Xiang Songzuo, estima que 80% da riqueza do povo chinês está na forma de imóveis, o que corresponde a US$ 65 trilhões em valor. “Uma desaceleração significativa poderia, portanto, ter um impacto substancial na saúde financeira dos cidadãos”, diz a matéria.
Financiamento
A crise do mercado imobiliário chinês também está afetando os investidores. Quatro grupos de propriedades chinesas – Sunshine 100 Holdings, Yida China Holdings, Oceanwide Holdings e Guorui Properties – já carregam consigo a classificação “CCC” da S&P Global Ratings, classificando-as como território de lixo. Vale ressaltar que a S&P Global Ratings classifica apenas 13 das 1.120 empresas que avalia na região da Ásia-Pacífico.
Outro problema enfrentado pelas empresas que precisam de financiamento, segundo Tsang, é a dificuldade em acessar o sistema de “shadow banking”, que costuma ser uma das principais fontes para quem deseja ser financiado, e que se torna cada vez mais fechado com a repressão da China.
Estímulos
Alguns governos locais acabaram afrouxando certas restrições com o objetivo de estimular a compra de residências. O Banco Central da China também liberou 800 bilhões de yuans – o equivalente a US$ 117 bilhões – para novos empréstimos. No entanto, os economistas continuam céticos. “A ampla tentativa de reduzir os riscos no setor financeiro tem sido a principal razão para a desaceleração”, explica Shaun Roache, economista-chefe da S&P Global Ratings na Ásia-Pacífico.
Há quem diga que a flexibilização dos governos locais e a liberação tributária do Banco Central chinês sejam “bastante triviais” e que não farão muita diferença na hora de fechar novos contratos residenciais.
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“O maior dilema para resolver o problema da dívida vem do trade-off entre sustentabilidade da dívida, crescimento e política monetária”, afirma Haibin Zhu, economista-chefe da China e chefe da estratégia de ações da China no JP Morgan, em relatório publicado no dia 4 de fevereiro. Com 70% dos novos financiamentos usados para pagar juros e 30% para financiar novas atividades econômicas, Zhu já esperava que a política de crédito fosse enfraquecer.