Enquanto Petrobras torcerá para petróleo e câmbio ajudarem, etanol descerá a rampa na primeira canetada de Lula
Para a Petrobras (PETR4), a manutenção por 60 dias da desoneração dos impostos sobre os combustíveis só não vai raspar seu caixa se não houver aumentos substanciais do petróleo e derivados importados, de preferência com o câmbio favorável. Para os produtores de etanol hidratado, não importa: a gasolina manterá a competitividade.
Por decreto, o presidente Lula determinou a medida, que evita a alta da gasolina em até R$ 0,69, conforme cálculos do mercado, de prorrogar a isenção do PIS/Cofins e Cide, e pegou o setor de bioenergia no contrapé.
As empresas vinham aumentando os preços na oferta para as distribuidoras pela segunda semana seguida – 2,69% na última, em dados do Cepea -, porque esperavam que a Medida Provisória não seria reapresentada após a sua expiração, anteontem.
O consumo maior de etanol hidratado estaria contratado, automaticamente, porque o consumidor teria mais vantagem. Agora, com a situação invertida, o mercado acordou com os temores de antes, com a penalização do renovável limpo e repete, de certa forma o governo Dilma Rousseff, como diz Alexandre Lima, presidente da associação dos produtores de cana de Pernambuco e da Usina Coaf.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, dias antes da posse chegou a anunciar que o governo que sairia não mexeria na situação. Voltou atrás, dizendo que, sim, os impostos federais voltariam a valer.
Lula, por pressão do escolhido para presidir a Petrobras, Jean Paul Prates, e da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, surpreendeu a todos, quando a locutora do Palácio do Planalto anunciou este como o primeiro ato de todos os que o novo presidente assinou ontem. Entre abrir primeiro mês do 3º mandato com inflação assegurada, optou pela via que Bolsonaro havia adotado – e ainda dará isenção ao diesel até o fim do ano.
Na última semana de dezembro, o etanol voltou a subir nos postos, como Money Times já vinha antecipando, e a ANP confirmou, acima da gasolina. Nesta, possivelmente haverá os repasses da cadeia à alta nas usinas, embora as vendas das distribuidoras foram fracas no período.
Mas, a partir de hoje, as indústrias vão ter que rever o cenário, concluindo com um nível de estoque bastante satisfatório para atravessar a entressafra. Em mês de consumo tradicionalmente mais baixo, ainda por cima.
Enquanto isso, o atual presidente da estatal, Caio Paes de Andrade, está vendo o petróleo disparar acima de 3% nesta manhã de segunda (2), a R$ 86 o barril, por volta das 8h25 (Brasília).
Já o presidente escolhido, que ainda vai ter que esperar para assumir o posto, tem que torcer para a China voltar a endurecer o combate à covid, porque é de lá que está vindo a força do petróleo, posto que o país é o maior consumidor mundial.
Ou, no limite do improvável, torcer para que os controles atuais comecem a desacelerar as infecções, sem prejudicar mais a economia.