Enquanto o Ártico canadense derrete, minas de ouro se expandem
James Kalluk passou grande parte de sua infância dentro de um iglu no extremo norte do Canadá, perto do Círculo Polar Ártico. Construir esse tipo de casa requer temperaturas baixas o suficiente para congelar os inúmeros lagos da região, uma consistência específica de neve e uma faca de lâmina longa.
“Hoje não há muita neve, e é mais difícil fazer um iglu”, disse Kalluk, agora com 70 anos. “Você pode encontrar um local aqui ou ali que seja bom, mas é muito difícil ter neve agora. É diferente.”
A perda de neve e gelo está aumentando as temperaturas no Canadá em ritmo muito mais rápido do que no resto do mundo: mais do que o dobro da taxa global de aquecimento, de acordo com uma avaliação científica nacional publicada em abril. Quanto mais ao norte, mais acelerado será o aquecimento. O Ártico canadense é um dos locais de aquecimento mais rápido, aquecendo cerca de três vezes acima da média global. Isso torna o território de Nunavut, no norte do Canadá, uma região do tamanho do México, uma referência para as maneiras inesperadas pelas quais um clima alterado transforma vidas e meios de subsistência.
Em Baker Lake, Nunavut, a cidade de cerca de 2 mil habitantes onde Kalluk mora, quase todos os rendimentos estão ligados direta ou indiretamente a uma mina de ouro próxima, operada pela Agnico Eagle Mines. Como o aquecimento global aumenta o acesso aos ricos recursos naturais da região, Kalluk acredita que a economia local mudará. “Nos próximos anos, haverá mais casas, mais desenvolvimento aqui”, disse Kalluk. “Mais pessoas poderão trabalhar.”
Esse crescimento pode ser bem-vindo no norte do Canadá, que descongela rapidamente, mas tudo tem um preço. Kalluk se preocupa com a poeira das novas estradas, incomodando as renas que já estão sitiadas devido às temperaturas mais altas e com a poluição da água que afeta os peixes. Esse cabo de guerra ambiental é a história central do norte remoto do Canadá. Depois de viver de maneira sustentável por milhares de anos, os grupos aborígines do país se tornaram os primeiros a serem atingidos pelas mudanças climáticas. Mas também podem se beneficiar mais das oportunidades que surgem.