Engajado a Trump, Brasil já perdeu no etanol, perde na OCDE e perderá na carne bovina
Os festejos amadores do governo e de boa parte do agronegócio, entre outros setores privados, pela possível entrada do Brasil na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apoiado pelos Estados Unidos, não resistiu há poucos meses. O clube dos países ricos já virou lenda e vem se somar a outra derrota imposta por Donald Trump, a do etanol importado, e a uma que certamente chegará, a da carne bovina.
A recusa dos americanos em aceitar que a organização fizesse um convite ao País, em carta do secretário de Estado Mike Pompeo ao diretor-geral Ángel Gurría, tornada conhecida hoje, mostrou o que a diplomacia nacional, mesmo a júnior atual representada pelo chanceler Ernesto Araújo, já sabe. Via de regra, no cenário comercial global, não há almoço grátis, mas com os Estados Unidos, sim, há. Mesmo que o futuro embaixador brasileiro em Washington seja o filho zero 2, Eduardo Bolsonaro.
O engajamento absoluto de Jair Bolsonaro e do ministro Ernesto Araújo a Trump já custou o aumento da cota livre de etanol importado. Quando se esperava o fim ou pelo menos a manutenção dos 600 milhões de litros, livre de impostos, o governo deu mais 150 milhões de litros de lambuja.
E sabe quando os Estados Unidos negociação uma maior cota ao açúcar nacional e do Nordeste, em particular? Nem é preciso fazer malabarismo para responder. A potência “aliada” só permite 150 mil toneladas livres de impostos, anualmente. Uma bagatela que qualquer pequena usina nordestina, sozinha, produz.
Agora, em 2019, nessa onda pró-Estados Unidos, também os produtores e frigoríficos entraram com a expectativa de ser aberta a janela importadora para a carne fresca brasileira. Ninguém nem se lembra mais, ao menos no Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
A carne do Brasil teve uma breve liberalização em 2017, mas por um pequeno problema de ferimentos na aplicação da vacina contra a aftosa, os Estados Unidos alijaram a proteína daqui. Mas era o governo de Michel Temer, tampão, sem força, como diziam na campanha presidencial.
E o atual, certo de que reverteria o exagero das autoridades daquele país, esqueceu que só diplomacia de boca não muda o pragmatismo americano, especialmente porque o lobby dos produtores locais contra o Brasil é forte – e, de quebra, ainda as baterias estão sobre as operações da JBS por lá.
A única derrota que o Brasil não logrou para os Estados Unidos é porque o governo não teve tempo de se debruçar sobre ela: os americanos queriam que o País abrisse mão de mercados preferenciais, que oferecem preços e tarifas de importações subsidiadas para categorias de produtos (caso do açúcar) de países subdesenvolvidos.
Brasília ainda vai descobrir que o Brasil é desenvolvido e vai dar mais essa também.