Reportagem Especial

Enchentes no Rio Grande do Sul impulsionam investimentos em energia renovável

13 maio 2024, 18:12 - atualizado em 14 maio 2024, 15:14
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Após enchentes no Rio Grande do Sul, o mercado intensifica busca soluções para o problemas ambientais (Foto: Gilvan Rocha/Agência Brasil)

Com o agravamento da crise climática, que provoca desastres naturais como as enchentes que flagelam o Rio Grande do Sul nas últimas semanas, pesquisadores, investidores e empresas intensificaram a busca por soluções de geração de energia renovável.

Isso não significa que o Brasil esteja engatinhando nessa área. Como se sabe, a participação de fontes renováveis na nossa matriz energética é elevada, puxada, sobretudo, pelas usinas hidrelétricas. De acordo com dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), em 2023, o país bateu seu recorde na produção de energia renovável, atingindo 93,1% de participação.

Ao todo, o país gerou 70.206 megawatts médios de energia a partir das suas usinas hidrelétricas, eólicas, solares e de biomassa. Gustavo Luedemann, técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), destaca que a transição para energia renovável trouxe oportunidades de negócio para quem trabalha no setor.

“Obviamente a necessidade de reduzir as emissões do setor energia vai muito além e, certamente, vai ter um impacto na economia”, ressalta Luedemann.

De acordo com ele, os grandes investidores estão cada vez menos propensos a investir no setor de carvão mineral, por exemplo. “Trabalhadores e economias locais inteiras precisam se adaptar a uma nova realidade”.

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As principais fontes de energia renovável no Brasil

Em 2023, o Brasil foi o terceiro país no mundo que mais atraiu investimentos em energia renovável, de acordo com dados do Energy Transition Investiment Trends 2024, relatório da BloombergNEF (BNEF). 

No total, o investimento no país chegou a US$ 34,8 bilhões, ficando atrás de China, Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido e França.

De acordo com dados do Operacional Nacional do Sistema Elétrico (ONS), em janeiro de 2023, as fontes renováveis de energia hidráulica, eólica e solar, somadas, foram responsáveis por 91,2% do abastecimento do Sistema Interligado Nacional (SIN).

Além disso, os dados de Energia Armazenada (EAR) – que representa a capacidade de gerar eletricidade pelo sistema hidráulico – demonstram que, em março de 2023, o Sudeste/Centro-Oeste registrou 82,6%, sendo recorde desde 2011. O número é quase 20% maior do que o registrado no mesmo mês do ano anterior.

No ano passado, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, anunciou o investimento de aproximadamente R$ 50 bilhões para a execução do maior programa de transmissão de energia elétrica no Nordeste brasileiro.

O investimento em renováveis faz parte do planejamento energético do Ministério de Minas e Energia. Nesse sentido, o Plano Decenal de Expansão (PDE) estima que, até 2031, cerca de R$ 119 bilhões sejam investidos na geração renovável centralizada.

De acordo com os dados, cerca de 60% desse total irá para as fontes solar e eólica, principais vetores da expansão renovável no Brasil. Na geração descentralizada, que inclui a Geração Distribuída e os Sistemas Isolados, esse montante poderá alcançar R$ 121 bilhões, com quase 80% do total referente às fontes anteriormente citadas.

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Como proteger a economia mantendo o planeta saudável?

Há uma linha tênue entre manter o planeta saudável enquanto protegemos a economia. Para Luedemann, a forma conhecida atualmente é a de teto de emissão.

“Se eu tenho um teto de emissão, posso distribuir as emissões entre os agentes da economia. Então, diversas plantas de geração de energia ou empresas que produzem determinado produto vão receber ou comprar [as permissões de emissão] de alguma forma, para poderem atuar no seu setor”, destaca.

No entanto, o técnico ressalta que o mercado de carbono é apenas uma válvula de escape para uma política restritiva, a fim de diminuir as emissões de agentes. “Isso obviamente afeta a economia, no sentido de aumentar o preço da produção dos setores”, completa.

Dessa forma, Luedemann afirma que, em meio à competitividade do mercado, para impedir que determinados setores sejam impactados negativamente pela restrição, a opção seria a adoção de subsídios.

“Se por um lado a gente exige a redução de emissão, por outro, fornece as ferramentas necessárias para que o setor consiga se adaptar”, afirma Luedemann. Mas isso tem que ser de forma pontual, alerta o técnico. “A gente não pode ter um setor produtivo que viva de subsídio”.