Coluna do Roberto Ribas

O que torna uma marca resiliente?

30 jun 2024, 13:00 - atualizado em 28 jun 2024, 13:56
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Nas enchentes do Rio Grande do Sul, foram inúmeros os exemplos de empresas que mobilizaram esforços no resgate. (Imagem: Pixabay Limassol/Cyprus)

As enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul ao longo do mês de maio chocaram a todos nós. De uma forma ou de outra, quem vive no estado precisou enfrentar os duros impactos que esta tragédia nos trouxe e nos trará nos próximos meses ou anos.

Mais do que isso: acenderam um alerta sobre a capacidade de resposta das nossas cidades e instituições às calamidades.

Hoje, em meio a tanta angústia, dor, dúvidas e inseguranças, essa tragédia trouxe uma grande certeza: a capacidade de mobilização que a sociedade brasileira possui. A tragédia impactou diretamente o povo gaúcho, mas gerou um senso de urgência mobilizador e inspirador em todo Brasil.

Conforme as águas foram baixando, não foram apenas entulhos e destruição que vieram à tona. Muitas histórias de coragem, força e resiliência foram ganhando notoriedade. Milhares de pessoas, muitas delas não pela primeira vez, estão demonstrando sua capacidade de se adaptar e sobreviver a situações difíceis ou momentos críticos, de reconstruírem suas vidas e até se reinventarem

Mas, e as marcas? E as empresas por trás delas? Como reagiram? Na mesma medida, foram inúmeros os exemplos de empresas que mobilizaram esforços no resgate e apoio a todas as famílias diretamente impactadas. Muitas delas fizeram questão de demonstrar isso, divulgando suas ações em grande escala, outras agiram mais do que falaram.

Não faço aqui qualquer juízo de valor: o importante é aplaudir e agradecer a todos que fizeram algo. No entanto, podemos, sim, ampliar essa conversa. Qual o papel das marcas em eventos como esse — ou, ainda, qual a responsabilidade para que esses eventos sejam menos frequentes e menos devastadores?

Hoje, com a questão climática se mostrando tão real e próxima, vejo muitas companhias batendo cabeça sobre como se posicionar diante de cada nova catástrofe. Em casos como o que ocorreu no Rio Grande do Sul, o foco deve ser no auxílio imediato aos públicos mais próximos: dos colaboradores, de suas famílias e das comunidades no seu entorno. Mas, e depois? Como cada marca pode ajudar na reconstrução?

Vamos transcender a camada da doação ou da assistência e falar sobre negócios e de como gerar conexão e entregar valor para as pessoas, o que é fonte de futuro para qualquer empresa. É preciso um olhar holístico, que perceba o valor que a empresa entrega à sociedade. Uma marca forte entrega serviços ou produtos que transformam a vida das pessoas e são decisivos para que uma comunidade passe por uma crise com menos traumas e se reerga com mais facilidade e rapidez.

Por exemplo, empresas que fornecem serviços e produtos de meios de pagamento — e que acabam sendo um oxigênio vital para a sobrevivência de pequenos negócios. Num momento de exceção, a relação com o pequeno empreendedor, com a lojinha de esquina, com o salão de beleza só sobreviverá se houver uma visão de longo prazo.

Nesse caso, a proposta de uma antecipação de recebíveis sem juros, por exemplo, pode ser um pequeno gesto para uma grande empresa — mas uma questão de vida ou morte para seus clientes. E isso vale para dezenas de outros setores.

Ao fazer isso, atuando diretamente na dor e necessidade de seus clientes, essa empresa está colocando em prática o mais básico no processo de gestão de marcas: alinhando seus objetivos de negócio com as expectativas de seus clientes. Ao salvar o negócio de seus clientes, está protegendo o seu ao mitigar taxas mais elevadas. Esse pode ser um exemplo de resiliência.

Um olhar diferente para uma situação que tende a ser mais frequente. E não estou falando apenas da tragédia, mas sim das mudanças. Há transformações por todas as partes. No clima, nas relações com as pessoas, na tecnologia… Por que não na forma como enfrentamos as crises?

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Flexibilidade e adaptabilidade para as marcas

As dimensões desta tragédia vão impactar muitos negócios, de todos os tamanhos e setores. É preciso que seus gestores sejam capazes de criar alternativas para passar por essas adversidades sociais e econômicas que serão impostas. Não se trata apenas de resistir, mas sim de se adaptar.

Isso passa pela flexibilidade e a adaptabilidade, que são essenciais para responder de forma eficaz e resiliente. A flexibilidade de raciocínio permite a concepção de soluções inovadoras, enquanto a adaptabilidade facilita a modificação de ações e estratégias conforme as circunstâncias mudam. Essas habilidades permitem que os gestores ajustem suas iniciativas, tomem decisões informadas e transformem adversidades em oportunidades de crescimento, fortalecendo sua resiliência e promovendo um ciclo contínuo de desenvolvimento de suas marcas e de seus mercados.

Tudo isso, é claro, começa pelas pessoas — e, ainda, pelas marcas, que são o elo de ligação mais direto da sociedade com a atividade econômica. As enchentes no Rio Grande do Sul foram um grande alerta sobre o futuro. Cabe às empresas e negócios refletirem sobre esse aviso da natureza e trabalharem para se tornar mais resilientes. Tempos desafiadores, mas que nos encaminham, inevitavelmente, para uma mudança que nos tornará melhores.

Foi preciso uma tragédia como a do Rio Grande do Sul para pessoas e marcas verem a gravidade da situação climática e como ela precisa ser encarada emergencialmente. O Brasil — e, em especial, o Rio Grande do Sul — tem a oportunidade de pontear esse assunto de maneira global, direcionando iniciativas e investimentos, capacitando pessoas, incentivando um ecossistema de inovação e de ensino capaz de combater e mitigar os problemas advindos das mudanças inclusive a climática.