Empresas britânicas não acreditam na rapidez do Brexit
Para empresas britânicas, o discurso eleitoral de Boris Johnson ‘Get Brexit Done’, a promessa de concluir o processo de saída do Reino Unido da União Europeia, soa com uma pitada de pessimismo: os empresários sabem que a confusão deve continuar até 2020, ou além disso.
Mesmo se o primeiro-ministro ganhar a maioria parlamentar em dezembro e aprovar seu acordo de retirada do Brexit, as empresas britânicas devem enfrentar mais um ano de incertezas antes que uma nova relação econômica, ainda a ser negociada com a UE, comece no início de 2021.
“O impacto real do Brexit não começará até o final da transição”, disse Lucy Fergusson, sócia da Linklaters, em Londres, referindo-se ao período de paralisação em que as relações comerciais entre o Reino Unido e a UE permaneceriam as mesmas.
Se voltar ao poder, 2020 seria um ano crítico para Johnson, que buscaria um acordo de livre comércio com o bloco. Seu acordo de retirada, que cobria assuntos delicados, como direitos dos cidadãos, o pagamento do divórcio e evitar uma fronteira na ilha da Irlanda, representou apenas o primeiro passo.
O próximo será negociar um acordo para substituir o acesso livre de tarifas ao mercado único que as empresas britânicas desfrutam há muito tempo.
Os executivos temem que Johnson aceite um maior confronto no comércio – como tarifas e cotas – em troca de uma maior liberdade de divergir dos padrões da UE. Se ele não conseguir um acordo com a UE, o maior parceiro comercial do Reino Unido, o país pode acabar saindo nos termos da Organização Mundial do Comércio.
Sob o acordo de Johnson, o Reino Unido tem até 1º de julho para solicitar uma extensão do período de transição após o fim de 2020. Até agora, seu governo descarta essa possibilidade.
A conclusão de um amplo acordo de livre comércio em 2020 será impossível porque há muitas coisas para resolver, disse Anna Jerzewska, especialista em aduana e consultora independente das Câmaras de Comércio Britânicas.
We will not be extending the Brexit transition period beyond 2020.
The British people have waited long enough for Brexit.
We will be able to negotiate a good free trade deal with the EU and other partners in that timeframe. ?? ? #VoteConservative #globalbritain
— Liz Truss (@trussliz) November 4, 2019
Na melhor das hipóteses, o Reino Unido e a UE poderão fechar um acordo apenas de mercadorias, com a possibilidade de seguir negociando no futuro, disse.
De qualquer forma, muitas empresas acham que a adaptação a um novo acordo de livre comércio é tão problemática quanto se o Reino Unido saísse sem um pacto, disse Sam Lowe, pesquisador sênior do Center for European Reform.
“Isso ainda criaria muito mais atrito comercial e custo do que existe atualmente“, disse Lowe, citando a necessidade de as empresas lidarem com questões como documentação das regras de origem, declarações alfandegárias e de segurança e outras formalidades de importação e exportação.
“Por mais ambicioso que seja o acordo, existem limites conhecidos sobre sua capacidade de liberalizar o comércio.”