Empresários relatam dificuldades causadas pelo apagão no Amapá
Além de causar transtornos à população e aos serviços essenciais, a crise no abastecimento de energia elétrica para 13 das 16 cidades do Amapá, que chega hoje (20) ao 17º dia, vem prejudicando diferentes setores produtivos.
Muitos empresários e profissionais autônomos, que já enfrentavam dificuldades devido à pandemia do novo coronavírus (covid-19), se viram impedidos de trabalhar em função da falta de luz e de água no estado.
“Estamos passando por uma situação bem complicada”, disse à Agência Brasil o executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Sandro Bello. Segundo ele, o segmento de alimentação fora do lar, que reúne bares, restaurantes, lanchonetes, docerias, buffets, já amarga um prejuízo da ordem de R$ 24 milhões desde que um incêndio na subestação de Macapá, no último dia 3, LINK 1 causou um apagão em quase todo o estado. A estação pertence à empresa privada concessionária Linhas de Macapá Transmissora de Energia (LMTE), e as causas do incêndio estão sendo investigadas LINK 2 .
Na semana passada, o governo estadual e a prefeitura de Macapá voltaram a estender os decretos que proíbem atividades em clubes de recreação, bares, boates, teatros, casas de espetáculos e de shows, academias entre outros estabelecimentos, para tentar conter o aumento do número de casos da covid-19, Bello afirma que as empresas vêm sendo duplamente prejudicadas, principalmente os estabelecimentos de menor porte
“Só na capital são cerca de 250 bares fechados, o que impacta mais de 4 mil trabalhadores, muitos dos quais estão impedidos de trabalhar”, disse Bello, lembrando que devido à pandemia, bares e restaurantes permaneceram fechados ou funcionaram com restrições de março a julho.
“Passado este primeiro momento, o trabalho vinha fluindo. Infelizmente, novas medidas contra a doença tiveram que ser adotadas. Não bastasse isso, veio o apagão. Que causou mais prejuízos. Inclusive para alguns estabelecimentos que perderam estoques e equipamentos”, acrescentou o executivo, ele próprio dono de uma cozinha industrial.
“Difícil mensurar a situação de quem está enfrentando, simultaneamente, a uma pandemia e um apagão, tendo que manter os salários dos funcionários em dia e as portas abertas, preocupados como pagar o 13º salário”, desabafou Bello. “Todo mundo teve prejuízos com o apagão. Nos primeiros dias, praticamente nada funcionou. A maioria das empresas teve que adquirir ao menos um gerador para manter seus equipamentos de refrigeração. Até porque, o rodízio tem gerado um risco a mais, porque além do cronograma não ser cumprido, há uma oscilação muito grande”, disse o executivo, que teve um gasto imprevisto de cerca de R$ 15 mil para instalar um gerador em seu negócio.
“Os poucos equipamentos à venda foram logo comprados. Aí houve uma inflação absurda nos preços. Houve casos de geradores de pequeno porte que antes eram oferecidos por R$ 1,5 mil passando a ser vendidos por R$ 8 mil”, disse o empresário, lembrando que a grande maioria das empresas do setor é de micro e pequeno porte, para as quais tais gastos têm um impacto. “Além disso, também estão ocorrendo roubos e furtos. Muitas empresas foram furtadas, o que é um outro prejuízo.”
Eventos
A presidente do Sindicato das Empresas Organizadoras e Produtoras de Feiras, Congressos e Eventos do Amapá (Sindieventos-AP), Célia Brazão, disse que o segmento, que movimenta cerca de 50 atividades profissionais, está sendo duramente afetado.
Dona de um estabelecimento totalmente climatizado, com capacidade para até 1,5 mil pessoas, ela calcula que só com o apagão seus prejuízos chegam à casa dos R$ 300 mil, considerando as perdas materiais e a suspensão de contratos.
“O setor está praticamente parado desde o início de março. São profissionais de buffets, cerimonial, segurança, salões de beleza, casas de eventos e vários outros que já vinham sendo prejudicados pela pandemia. Houve um breve retorno em setembro, quando eventos para até 200 pessoas foram liberados, mas que foi logo suspenso por causa da segunda onda [da covid-19]. Agora veio o apagão, para fechar as portas de muitos negócios que estavam lutando para sobreviver”, disse Célia.
Segundo a presidente do Sindieventos, empresários tiveram que renegociar ou cancelar contratos após perderem equipamentos e suprimentos.
Há também relatos de clientes cobrando o ressarcimento dos gastos com eventos suspensos e de toda a sorte de perdas.
“Tínhamos eventos programados para novembro e dezembro que estão sendo suspensos ou cancelados. Buffets que perderam mais de 40 quilos de pescados; outro que perdeu quilos de camarão e tudo o mais porque não tinha como armazená-los. Enfim, os empresários, que já estavam indignados com a forma como o setor vêm sendo tratado, como se fôssemos os culpados por uma segunda onda da covid, agora estão revoltados com o descaso que afeta a toda a população”, queixou-se Célia, cujo negócio foi alvo da ação de criminosos.
“O apagão está prejudicando também nossos imóveis, que estão sem energia e, portanto, sem proteção. Salões de eventos foram furtados e vandalizados. No meu estabelecimento levaram o cabeamento e danificaram máquinas de refrigeração”, disse Célia, que após 15 anos de atividade ininterrupta tenta cumprir os compromissos agendados.