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Empresa vai vender em farmácias medicamentos à base de cannabis

27 jun 2022, 8:00 - atualizado em 27 jun 2022, 9:40
Cannabis
A brasileira GreenCare vai começar a vender medicamentos de cannabis medicinal diretamente no varejo farmacêutico a partir de agosto (Imagem: Unsplash/Richard T.)

A brasileira GreenCare, controlada por um dos maiores fundos globais especializados em negócios de cannabis, o Greenfield Global Opportunities, vai começar a vender medicamentos de cannabis medicinal diretamente no varejo farmacêutico a partir de agosto. A venda a pronta-entrega tende a acabar com a longa espera pelo medicamento, hoje importado diretamente pelo paciente.

“Exportar o medicamento diretamente para cada paciente é um processo moroso, que tem de ter a aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e demora 25 dias, desde que o item é colocado no avião até a entrega no Brasil“, afirma Martim Prado Mattos, presidente da farmacêutica e controlador do fundo.

Hoje, a companhia e a maior parte do mercado trazem do exterior esse tipo de medicamento para as pessoas físicas no Brasil. A farmacêutica tem 17 medicamentos à base de cannabis produzidos por fornecedores na Colômbia, Estados Unidos e Israel. Eles são armazenados em centros de distribuição fora do Brasil, e chegam ao País por meio da importação feita por pessoas físicas – que precisam apresentar autorização da Anvisa. É um mercado estimado em 75 mil pacientes no País, e a companhia já atende a cerca de 20 mil. Com a venda no varejo, espera dobrar essa fatia até o fim de 2023.

Em valores, a importação movimenta hoje R$ 250 milhões por ano, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Canabinóides (BRCANN). Em cinco anos, a expectativa de Mattos é de que o setor gire R$ 700 milhões.

“Vamos dar um passo adiante: sair do uso compassivo para a regulação da cannabis”, diz o executivo, fazendo referência a essa mudança de atuação da exportação para a venda no varejo. Ele conta que a empresa negocia a comercialização dos medicamentos no varejo com cinco redes de farmácias, e já tem um contrato fechado. Mas, pelas regras do negócio, não revela quais são as varejistas.

Plano de negócios

A GreenCare tem a aprovação da Anvisa para vender em farmácias três medicamentos, e pleiteia autorização para mais três até dezembro e outros quatro para 2023. Os três produtos já liberados para venda em farmácias contêm canabidiol e concentrações diferentes de THC, o princípio que tem efeito psicoativo. Evidências científicas indicam que derivados de cannabis têm aplicações em casos de doenças neurológicas, autoimunes, psiquiátricas e dores crônicas, mas a prescrição depende sempre da avaliação do médico.

Com 100 funcionários, o foco no momento da empresa – cujo faturamento Mattos não revela – é “criar mercado” para os remédios à base de cannabis. “O grosso do trabalho agora é a educação médica, difundir o conhecimento e a formulação para, num segundo estágio, ter a produção local”, explica o presidente da GreenCare. São 50 consultores espalhados pelo País, em contato com um universo de seis mil médicos a cada mês.

Faz dois anos que a empresa comprou uma fábrica em Vargem Grande Paulista (SP) que era da farmacêutica Merck, pela qual desembolsou uma parcela dos R$ 50 milhões investidos na companhia até agora pelo fundo. A unidade passa por processo de homologação, e a meta é que os medicamentos comecem a ser produzidos localmente em dois anos.

O Greenfield Global Opportunities, com sede legal no Canadá, começou a operar em 2017 e, no ano seguinte, fundou a GreenCare. O fundo tem participações em 16 empresas do setor de cannabis espalhadas por nove países, que somam investimentos de R$ 260 milhões.

O fundo reúne investidores pessoa física e entidades. Entre os investidores pessoa física, a maioria é de brasileiros. Mattos, gestor do fundo e ex-CFO da Hypera e responsável pela abertura de capital da farmacêutica, diz que decidiu atuar no segmento de cannabis por questão de “arbitragem moral”. “Grandes empresas farmacêuticas preferiram não atuar em cannabis por preconceito, com medo de serem tachadas como empresa de maconheiro.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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