Empresa indiana de genéricos, Lupin aposta em remédios ‘de marca’ para crescer no Brasil
Quando a farmacêutica indiana Lupin adquiriu a brasileira MedQuímica, em 2015, seu objetivo era marcar presença em um mercado em que medicamentos genéricos e similares ainda tinham muito espaço para crescer. No entanto, o crescimento esperado não veio, e a companhia, que era especializada em remédios sem marca, teve de mudar de rumo: agora, avança para aquisições de produtos já consolidados e conhecidos, com presença certa na prateleira das grandes farmácias.
Para garantir essa virada, o primeiro passo da Lupin foi a aquisição de cinco medicamentos da americana Bausch Lomb, reconhecida mundialmente pela produção de lentes de contato e pelas soluções de limpeza. A decisão global foi de vender os medicamentos fora do negócio-chave, oportunidade que a MedQuímica aproveitou.
Segundo o presidente da companhia, Alexandre França, executivo com 20 anos de experiência no setor farmacêutico e que chegou há um ano e meio para comandar a filial brasileira, a meta é mais do que dobrar o faturamento no Brasil até 2027, dos atuais US$ 40 milhões para US$ 100 milhões.
“Aí começaremos a ter relevância para o grupo”, afirma o executivo. A ideia é investir em novas marcas sem abandonar os genéricos. Isso porque, por aqui, a penetração dos medicamentos genéricos é de 35%, ao passo que na Europa a fatia é de 60%.
NOVAS AQUISIÇÕES
Após essa primeira fase de mudança, a expectativa é de crescer de 10% a 15% já no curto prazo. Para isso, porém, França diz que outras aquisições estão no radar. “Dessa forma, conseguiremos crescer muito mais rápido”, comenta. O valor da aquisição dos medicamentos da Bausch Lomb não foi revelado, mas o executivo explica que os recursos para o desembolso foram injetados pela sede. “Isso demonstra confiança”, diz.
A estratégia de avançar em marcas já consolidadas em grandes redes não se trata apenas de ampliar o portfólio de medicamentos, mas de ganhar presença em grandes redes, como Raia Drogasil e Drogaria São Paulo. Antes da compra dos remédios da Bausch Lomb, a MedQuímica estava presente apenas em redes independentes.
Hoje, o carro-chefe da MedQuímica é um medicamento similar à Novalgina. Nesse sentido, a recente aquisição serviu como uma porta de entrada para a opção da empresa indiana de estar ao lado da Novalgina e a um preço competitivo nas grandes farmácias.
Além das aquisições de produtos no Brasil, França diz que outro caminho para garantir o crescimento da operação será trazer medicamentos do portfólio da Lupin na Índia. Serão entre 10 e 15 lançamentos por ano, a contar desde 2024 até 2027.
Professora de administração pública da FGV, Elize Massard Fonseca diz que o mercado de medicamentos genéricos no Brasil tem muito espaço para crescer, mas historicamente é dominado pelas empresas nacionais. “O Brasil é grande e, para chegar às farmácias, precisa de distribuição”, comenta. Por isso, empresas estrangeiras acabam partindo para parcerias ou aquisições.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.