Emissores de dívida da América Latina aproveitam demanda pós-eleições
Emissores da América Latina entram na corrida para a venda de dívida após as eleições presidenciais nos EUA, na tentativa de capitalizar o otimismo dos mercados de crédito antes que a realidade do agravamento da pandemia de coronavírus esfrie a demanda.
Três empresas fazem emissões na semana mais ativa para a região em mais de um mês. A mexicana Total Play Telecomunicaciones vendeu US$ 575 milhões em títulos de gau especulativo na segunda-feira. A empresa de saúde Auna, do Peru, e a concessionária de rodovias ENA Sur, do Panamá, esperam seguir os passos nos próximos dias, de acordo com pessoas a par das transações e agências de classificação de risco.
“A resolução das eleições nos EUA, combinada com notícias positivas sobre vacinas, serviu como combustível para os mercados emergentes”, disse Guido Chamorro, corresponsável por dívida em moeda forte de mercados emergentes da Pictet Asset Management, em Londres.
Chamorro espera que outros emissores soberanos e corporativos testem a demanda nos próximos dias e disse que investidores de mercados emergentes que reduziram posições antes da votação nos EUA em 3 de novembro correm para reinvestir.
Os rendimentos da dívida de grau especulativo de países em desenvolvimento caíram para cerca de 6,75% na terça-feira, o menor nível deste ano, de acordo com dados do índice Bloomberg Barclays. Os mercados de crédito registraram um rali nesta semana após a vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais e resultados positivos dos estudos clínicos da Pfizer para uma vacina contra a Covid-19.
Para a América Latina, as emissões marcam uma reversão em relação ao fim de setembro, quando algumas empresas brasileiras adiaram ofertas de títulos junk diante do menor apetite por risco de investidores.
Os emissores desta semana aproveitam a “janela de oportunidade, disse Soummo Mukherjee, analista de crédito sênior da Lucror Analytics.
Risco Covid
A Total Play pagou 7,5% por títulos de cinco anos na segunda-feira. A Auna, que opera hospitais e clínicas no Peru e na Colômbia, deve vender cerca de US$ 300 milhões em títulos de alto rendimento em sua estreia no mercado internacional.
A ENA, operadora estatal de rodovias, está oferecendo US$ 400 milhões em títulos de grau de investimento com vencimento em 2048, de acordo com a Moody’s Investors Service.
Para Chamorro, talvez as empresas queiram se antecipar à incerteza iminente representada pelo aumento global dos casos de Covid-19.
“A segunda onda é o risco mais visível para o rali atual”, afirmou. “É por isso que os emissores podem não querer desafiar o destino esperando muito tempo.”